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Está na hora de entrarmos em uma nova fase no controle da doença de Gumboro?

Efeitos imunossupressores do vírus de Gumboro, sejam eles de campo ou vacinais, podem comprometer a proteção contra outras enfermidades

25.01.2012. Foto: Marcos Peron/virtualphoto.net
25.01.2012. Foto: Marcos Peron/virtualphoto.net

Por Alberto Inoue*

A doença de Gumboro já foi um dos principais vilões da avicultura brasileira, com direito a eventos exclusivos com palestrantes renomados para discussão da sua patogenia e controle. Atualmente, mais de 20 anos após os primeiros casos da forma clínica causada pelos vírus muito virulentos de Gumboro (vvIBDV), a situação é bem mais tranquila e levanta-se a possibilidade de uma nova fase no controle da enfermidade, a proteção ligada ao bem-estar animal.

Em 1997, quando a forma virulenta da doença de Gumboro surgiu no Brasil, só eram disponíveis vacinas intermediárias contra o agente. Mesmo com ações de biosseguridade e programas de vacinação intensos, as cepas disponíveis não eram capazes de controlar de forma eficiente o vvIBDV. Surgiram então, as vacinas intermediárias plus e, posteriormente, as cepas vacinais fortes de Gumboro, entre 1999 e 2001. A partir daí, a enfermidade foi gradativamente sendo controlada e esses vírus vacinais mais virulentos passaram a predominar no campo.

Depois de alguns anos, em 2006, o controle da doença de Gumboro passou por um novo momento. A forma clínica começou a ser muito menos frequente, e o mercado migrou para opções que levassem conveniência por meio da vacinação em dose única, ainda no incubatório. Duas tecnologias passaram a dominar esse novo momento, vacinas vetorizadas, em que o gene que expressa a proteína viral (VP2) do vírus de Gumboro é inserido no vírus de Marek HVT, e vacinas imunocomplexos, em que um vírus vivo com cepa intermediária plus de Gumboro apresenta-se na forma de complexo ligado a anticorpos. Atualmente, mais de 90% das aves no Brasil são imunizadas com vacinas levando essas tecnologias.

Várias publicações já demonstravam que vírus vacinais mais virulentos de Gumboro, como intermediário plus, afetam a resposta humoral a outras vacinas como Bronquite, Newcastle e EDS, e isso está relacionado à destruição de linfócitos B presentes na bolsa de Fabrícius. Contudo, novos estudos** apontam que, da mesma forma que ocorre com vírus de campo, os vírus vacinais do tipo intermediário plus comprometem também a resposta celular e a aumentam a ocorrência de outras enfermidades. Uma dessas avaliações mostra que aves vacinadas com vacinas intermediárias plus de Gumboro apresentaram quase três vezes mais isolamentos de Salmonela em fígado, 21 dias após a vacinação. O vírus de Gumboro causa uma imunossupressão direta pela necrose e apoptose de linfócitos B e, posteriormente uma imunossupressão indireta pela inibição da mitogênese de células T, além de macrófagos, que são importantes para proteção contra agentes como a Salmonela.

Diante das novas informações, levanta-se a reflexão sobre o uso inteligente das vacinas disponíveis no mercado. Situações como o uso do primeiro ciclo de criação em uma cama nova de frangos ou desafios muito agressivos, podem requerer o uso de vacinas vivas, contudo, na maioria das situações, vacinas vetorizadas apresentam excelente proteção, sem qualquer injúria ao sistema imune. A eficácia das vacinas vivas, sejam convencionais ou imunocomplexos no controle da doença de Gumboro, é inquestionável, contudo, chegamos a um momento de avaliar se o desafio de campo requer o uso de cepas virulentas como rotina.

Diante da disponibilidade de diferentes tecnologias no mercado, ressalta-se a importância do médico veterinário em conhecer a situação epidemiológica da doença de Gumboro de cada região. A atual reflexão não é mais qual a melhor vacina contra a doença, e sim, qual o melhor programa integrado, visando não somente a proteção contra uma enfermidade, mas da preservação do sistema imune das aves para a expressão máxima do seu potencial genético.

 

*Alberto Inoue é médico veterinário, mestre em Patologia Animal, gerente de Marketing e Serviços da BI Fast – unidade de negócios de aves e suínos da Boehringer Ingelheim.

 

**Rautenschlein S, Lemiere S, Pradini, F. Evaluation of effects of an HVT-IBD Vector Vaccine on the immune system of layer pullets in comparison with two commercial Live IBD vaccines. XVII VPA Congress Nantes, France, 2013.Rautenschein, S.; Simon, B; Jung, A; Poppel, M; Pradini, F; Lemiere, S. Protective efficacy of Vaxxitek HVT IBD in commercial layers and broilers against challenge with very virulent infectious bursal disease virus. 16th WVPAC Marrakesh, November 8th-12th, 2009.  Mazariegos LA, Lukert, PD. 1990. Pathogenicity and Immunosuppressive propertieis of infectious bursal disease “intermediate” strains. Avian Diseases, 34 (1), p. 203-208