A cada ano 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados no mundo, que poderiam ser utilizados para alimentar cerca de dois milhões de pessoas. O alerta é da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (Fao) que completa 70 anos hoje (16/10), data na qual também é comemorada o Dia Mundial da Alimentação. Em 2015 o tema escolhido para comemorar a data foi ‘Proteção Social’ e será debatido como se pode apoiar políticas para que os mais vulneráveis tenham acesso aos alimentos.
O representante da Fao no Brasil, Alan Bojanic, afirma que o desperdício é responsabilidade de todos e precisa ser tratado com prioridade. “Como esse é um tema que já foi bastante debatido, é fácil cair no esquecimento. Por isso, queremos levantá-lo novamente apontando o que cada um pode fazer para contribuir”, comenta. Segundo ele, na América Latina, quase 30% do desperdício acontece no ambiente doméstico.
“Isso ocorre porque as pessoas compram mais do que precisam, deixam alimentos vencer, compram alimentos vencidos e deixam muita comida no prato. Essa mudança de comportamento é essencial para o combate ao desperdício”, destaca. De acordo com a Fao, os custos mundiais gerados pelo desperdício são de US$750 bilhões ao ano, valor que poderia ser investido em ações para reduzir a fome no mundo.
O representante da Fao afirma que ações de conscientização contra o desperdício têm crescido e buscado envolver as pessoas para a causa. Entre elas destacam-se o Save Food, projeto que tem por objetivo promover diálogos e debates para gerar soluções ‘do campo até o garfo’; e o Disco Xepa, evento destinado a aumentar a conscientização para o consumo responsável de alimentos em que ingredientes que iriam para o lixo são utilizados para o preparo de refeições para a comunidade local.
No Brasil, o movimento Gastronomia Responsável atua, desde 2010, de forma ainda mais abrangente, incentivando, desde chefs de cozinha até a população em geral, a seguir quatro princípios que reduzem o impacto da gastronomia no meio ambiente. Além de usar integralmente os alimentos para evitar o desperdício, a iniciativa também orienta a não usar espécies que estejam ameaçadas de extinção; a comprar alimentos orgânicos, pois são produzidos de forma mais natural, sem o uso de agrotóxicos; e incentiva as pessoas a optarem por produtores locais, pois além de reduzir a quantidade de gases de efeito estufa no transporte, ainda incentivam o comércio da cidade.
“Dessa forma, engajamos os chefs que são formadores de opinião e a comunidade em geral, levando esses conceitos para suas casas e disseminando-os”, ressalta Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que criou o Gastronomia Responsável. Para Malu, as mudanças de comportamento só ocorrem quando as pessoas se sentem parte da ação, por isso é importante sensibilizá-las. As pessoas podem participar do movimento consumindo pratos responsáveis – que seguem os quatro princípios – nos restaurantes que fazem parte da iniciativa, bem como fazendo suas próprias receitas responsáveis em casa e compartilhando no site www.gastronomiaresponsavel.com.br.
Allan Bojanic afirma que todos esses exemplos são relevantes. “São passos na direção correta e precisamos que cada vez mais instituições e pessoas se conscientizem da importância de reduzir o desperdício de alimentos. Esse é um assunto que diz respeito a todos”, destaca.