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Frango caipira volta a freqüentar cardápios

"De uns tempos para cá, a população passou a procurar mais os produtos mais puros, como o frango caipira, que é criado solto no galinheiro com restos de verdura e milho", afirma o produtor Paulinho Norberto.

Redação AI 10/11/2003 – 08h20 – Quem passa pela avenida Jeziel Azevedo Ribeiro, na região dos morros, na divisa de Sorocaba com Votorantim (interior de SP), poderá observar uma placa anunciando a venda de frango caipira, ovos caipiras, leitoas, cabritos etc. Aí está localizada a pequena chácara de Paulinho Norberto, pequeno criador de animais domésticos para venda. “Aqui tenho de tudo que o freguês pode gostar, frango de granja e caipira, patos, marrecos, gansos, perus, galinha de angola, leitão e cabrito. De uns tempos para cá, a população passou a procurar mais os produtos mais puros, como o frango caipira, que é criado solto no galinheiro com restos de verdura e milho. E com o preço do milho, mais verdura” , vai contando o Paulinho, enquanto mostra uma a uma as suas criações, tudo junto, misturado, o peru brigando com a galinha; o ganso bicando o marreco e as galinhas de angola gritando alto.

Explica em seguida que é um novo hábito do consumidor e não questão de preço. “Os preços das aves criadas assim naturalmente, soltos, ciscando, pastando são bem mais alto que os criados em granja, mas de 50% mais caro. O ovo caipira, mesma coisa, a dúzia custa 1 real a mais do que o ovo de granja”.

Paulinho está com os galinheiros cheios e pretende aumenta mais ainda a sua criação para as festas de fim de ano, quando todo mundo procura o peru, um cabrito e uma leitoa.

Tendência geral

Preferir animais criados naturalmente, que levam 6 meses para crescer e engordar, enquanto os de granja levam no máximo 90 dias, não é uma particularidade da freguesia do Paulinho. Apesar do preço dobrado, o frango caipira, por exemplo, já começa a ser oferecido, com sucesso, até nos restaurantes e supermercados.

Mas é uma tendência, que está apenas começando. Por enquanto, as maiores aliadas do caipira têm sido a instituições de pesquisa espalhadas por todo o país, que trabalham para implantar a avicultura orgânica em pequenas propriedades rurais. A ESALQ, de Piracicaba, é uma delas. O seu Departamento de Genética e Melhoramento de Aves está executando desde 1997 o projeto Frango Feliz, que tem como objetivo desenvolver materiais genéticos apropriados para a criação de aves à maneira tradicional do meio rural, que difere do sistema de criação industrial de frangos e galinhas em confinamento.

O frango feliz, que é chamado também de frango de pasto, caipira, semiconfinado, semi-intensivo ou natural, criado livremente no campo, demora em média 85 dias para ser abatido. Em compensação, o seu preço é o dobro do valor do frango de granja. Como a criação desse tipo de ave não exige investimento alto, a atividade já é considerada uma excelente alternativa econômica para os pequenos proprietários rurais. Veja o caso de Paulinho, em Votorantim, numa área inferior a 2.000 m2 ele desenvolve a criação, mantendo ainda espaço para uma extensa horta, que concorre para a alimentação dos perus, patos e galinhas. É um trabalho integrado – vai esterco para a horta e vem verdura para o galinheiro.

No projeto que vem sendo desenvolvido pela ESALQ, a proposta é criar linhagens que possam ser reproduzidas pelos criadores. Entre elas estão o caipirão e a carijó barbada, que apresentam um crescimento rápido e que atingem peso médio de 3,3 quilos em 85 dias. São aves selecionadas para dupla aptidão: postura, com capacidade para produzir cerca de 240 ovos/ano – e corte. Tem a finalidades de substituir, aos poucos, as galinhas caipiras tradicionais, que não atingem esses índices de produtividade.

Outra novidade apresentada pelos pesquisadores de Piracicaba é o desenvolvimento do frangola, um híbrido resultante do cruzamento entre o frango caipira e a galinha de angola. A vantagem é a obtenção de uma nova espécie, que agregue as características de rusticidade e sabor da carne de galinha de angola.

O chamado “frango feliz” já vem sendo criado, experimentalmente, pelas de assentados do Instituto de Terra do Estado de São Paulo.

Já tem o semicaipira

Enquanto as instituições públicas vem procurando desenvolver uma raça ideal para ser criada a campo, na pequena propriedade rural, algumas empresas privadas, aproveitando o nicho de mercado, já está lançando as primeiras raças caipiras. Na verdade, são animais de granja, projetados para um bom índice de produtividade, mas que podem e devem ser criados a campo, ganhando então as características do tradicional frango caipira. Então, já é muito comum, hoje, você apresentado a galinhas e frangos de grande porte, rotulados de caipira. Caipira de criação, não de berço.