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Frigorífico realiza testes com avestruzes em Goiás

<p>Animais são abatidos para checagem de maquinário. Empresa não tem autorização para venda.</p>

Redação AI (12/04/06)- O Frigorífico Struthio Gold, da Avestruz Master,localizado no setor industrial em Bela Vista, realizou o primeiro teste dos equipamentos na tarde de ontem. Um casal de animais foi abatido para examinar as máquinas e em demonstração à imprensa. As carnes foram descartadas, já que a empresa ainda não possui autorização para comercializar o produto.

Os representantes do frigorífico esperam receber os técnicos do Sistema de Inspeção Federal (S.I.F.), ligado ao Ministério da Agricultura e Abastecimento, na próxima terça-feira. Esta será a segunda visita dos funcionários do órgão ao empreendimento, e pode ser a última etapa para a autorização do comércio de carnes. Segundo a veterinária e assessora técnica da Avestruz Master, Suzane Bittencourt, na primeira visita quase 90% dos pontos já foram avaliados. A veterinária espera que a licença seja concedida. Caso receba a autorização, o frigorífico irá abater até 20 aves ao dia destinadas ao mercado interno nos primeiros 60 dias. Após este período, haverá um novo pedido de licença para a venda no mercado internacional.

Suzane Bittencurt avaliou de maneira positiva o teste. Foi melhor do que esperávamos, diz. Ajustes no sistema de contenção dos animais no momento da eletronarcose e choques elétricos para dessensibilizar os animais serão feitos. Cinqüenta funcionários em fase de treinamento devem trabalhar na linha de produção. O teste de ontem foi a primeira experiência deles com o sacrifício. O tempo entre o abate e o preparo final para o congelamento deve ficar mais rápido com a experiência diária dos operários, de acordo com a assessora técnica.

A empresa que construiu a unidade em Goiás é a mesma que produziu a maior unidade de abate do mundo na África do Sul. Uma equipe da empresa construtora estava presente no momento do teste. Segundo a assessoria de imprensa, foram feitas alterações, tendo em vista os problemas identificados no projeto sul-africano. O empreendimento brasileiro tem área total superior a 80 mil metros quadrados de extensão.

Atualmente, a linha de produção tem capacidade para abater 75 aves por hora e armazenar nas câmaras frias 750 unidades. A Avestruz Master possui 12 mil unidades em idade de abate 14 meses e também poderá adquirir animais de terceiros. O plano de recuperação prevê investimentos no setor de resfriamento para o preparo diário de até mil aves/dia ao final de quatro anos. As câmaras são importantes para a expansão da produção. Poderão ser utilizados contêiners refrigeradores e mais de um turno de trabalho.

A obra consumiu R$ 36 milhões até a explosão da crise da empresa, em 4 de novembro último. O empreendimento foi concluído após 60 dias de atraso. Os recursos que faltavam para terminar, R$ 2,6 milhões, foram negociados junto às empreiteiras responsáveis pela construção que aceitaram receber o pagamento em quatro parcelas, com vencimento após início das atividades de abate. A empresa projeta que o frigorífico gere 500 empregos diretos.

O futuro da Avestruz Master será tomado no próximo dia 28 com a relização da assembléia geral de credores no Estádio Serra Dourada. Segundo o defensor jurídico, Neilton Cruvinel Filho, o plano de recuperação da empresa sofrerá modificações. Uma das alterações será a diminuição da porcentagem da família Maciel nos ativos da empresa.

A mudança é resultado de mais de 10 mil ligações no call center implementado pela assessoria jurídica. A maioria dos credores pediu a alteração. O laudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado recentemente, também é responsável pela modificações.

Procedimento evita sofrimento da ave
Os animais entram na linha de produção encapuzados na direção de um gancho acolchoado que os imobilizam o corpo. Os avestruzes recebem uma corrente elétrica de 80 volts no pescoço, preso por um dispositivo metálico. Segundo a veterinária Suzane Bittencourt, o procedimento conhecido como eletronarcose é utilizado para dessensibilizar os animais evitando o sofrimento no momento do sacrifício. O procedimento é comum ao abate industrial de todos os animais, gado, frangos etc. O bem-estar dos animais deve ser preservado diz a veterinária. Já sustentadas pelas patas, as unidades têm o pescoço cortado para a expulsão do sangue.

Em seguida, a linha de produção encaminha os animais para a retirada das penas. Cada um dos 13 profissionais envolvidos nesta fase coleta o produto de uma parte específica do corpo da ave.

As penas são colocadas em sacos plásticos e levadas para avaliação classificatória. A pele é o segundo produto lucrativo extraído dos avestruzes. O processo é rápido, porém cuidoso para não danificar o couro. Os animais passam a ser sustentados pelas asas para a retirada das vísceras. Na etapa seguinte, as carnes são preparadas para o congelamento nas câmaras frias, onde permanecem por 18 horas até atingirem 7 graus centígrados, como prevê a legislação para carnes armazenadas com osso.

Investidor em contagem regressiva
Começou ontem a contagem regressiva para que os credores da Avestruz Master que não constaram na lista parcial divulgada ontem pelo Diário da Manhã impugnem em juízo o conteúdo da relação. A administração judicial acrescentou 5,1 mil nomes à lista de clientes entregue à Justiça no dia 6 de janeiro pela diretoria da empresa. Outros 1.470 pedidos foram indeferidos por falta de validade jurídica. O prazo para que esses clientes contestem a decisão do administrador judicial e gestor interino da AM, Sérgio Crispim, expira-se no próximo dia 21.

Os documentos entregues pelos credores que procuraram a administração judicial foram analisados por Sérgio Crispim por mais de 90 dias. Os dados foram confrontados com os livros contábeis e a movimentação bancária da empresa. Os credores que se sentiram lesados por não figurarem no quadro geral divulgado ontem devem refutar junto a 11 vara cível de Goiânia. O juiz Carlos Magno Rocha da Silva julgará o mérito da questão e decidirá se esse cliente está ou não apto a votar na assembléia geral de credores.

No evento, marcado para o dia 28, no Estádio Serra Dourada, os credores decidirão se querem a falência da empresa ou a transformação desta de Limitada (Ltda) em Sociedade Anônima (S.A.) de capital fechado. Se às 18 horas do dia 21 nenhum credor questionar em juízo as razões pelas quais não consta na lista de credores, a relação protocolada na 11 Vara Cível no dia 6 de janeiro pela diretoria da empresa, acrescida dos nomes incluídos pela administração judicial, aparecerá como quadro definitivo.

Apenas pessoas com os nomes publicados nessas listas estarão aptos a votar na assembléia e terão direito a receber a dívida depois da liqüidação do passivo em caso de falência – ou a se tornar sócio no caso de transformação em S.A.. De acordo com Sérgio Crispim, a maior parte das pessoas que solicitaram inclusão no quadro de credores mas ficaram de fora da relação divulgada ontem fizeram pedidos equívocos. Isso porque já constavam na primeira lista e deixaram passar despercebido.

Além dos 5,1 mil nomes adicionados à primeira lista, a relação de credores publicada ontem pelo DM trouxe outros 940 nomes excluídos a pedidos dos próprios clientes da empresa que juntos abriram mão de 1,2 mil créditos. A justiça investiga as razões pelas quais essas pessoas não quiseram continuar credoras do grupo. Ao todo, a lista complementar divulgou 6.530 nomes de clientes da Avestruz Master que habilitaram-se, excluíram-se ou solicitaram correção de dados no quadro geral de credores da dívida de 1,7 bilhão assumida pela família Maciel.

O volume de modificações no conteúdo superou as expectativas da administração judicial, que projetava entre duas e três mil solicitações. Ao fim da elaboração do quadro geral de credores foram deferidas por lei a inclusão de 5,1 mil nomes, a exclusão de 940 credores que abriram mão de 1,2 mil créditos , e a retificação de dados de 490 clientes da Avestruz Master.

A lista oficial com 53.308 nomes de credores da Avestruz Master foi publicada pelo Diário de Justiça no 16 de janeiro. A relação foi a transcrição do documento de 1.630 folhas protocolado 10 dias antes no Cartório da 11 Vara Cível de Goiânia. O DM trouxe com exclusividade a primeira lista em 8 de dezembro. 

Última esperança dos investidores
 
O teste realizado ontem e a expectativa de autorização para comercializar os produtos é o último alento para os credores da Avestruz Master que viram suas economias irem pelo ralo da incompetência administrativa. O sucesso do maior frigorífico de abate de avestruzes do Brasil é a única perspectiva de recebimento do dinheiro investido. Sem a venda de novas apólices, a empresa não tem outra fonte de receita e o capital em caixa mingüa a cada dia. 

Além de representantes dos credores, até os funcionários presentes aplaudiram o sacrifício do avestruz macho que não cedeu facilmente à eletronarcose. Debateu-se antes de seguir para as mesas de inox importadas. Todos esperam que os novos gestores não cedam aos exageros, como importar matéria prima para um país que as exporta e não percam a sensibilidade em gerir um empreendimento quem tem por função primeira pagar seus credores.