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Sanidade

Frigoríficos se rendem ao mercado e usam menos antibióticos em animais

A agência reguladora de remédios e alimentos nos Estados Unidos, solicitou a laboratórios farmacêuticos e frigoríficos que acabem com a prática de ministrar antibióticos para acelerar o crescimento de animais.

Frigoríficos se rendem ao mercado e usam menos antibióticos em animais

Numa reposta às preocupações com bactérias resistentes a antibióticos, a Food and Drug Administration, agência reguladora de remédios e alimentos nos Estados Unidos, solicitou no fim do ano passado a laboratórios farmacêuticos e frigoríficos que acabem com a prática de ministrar antibióticos para acelerar o crescimento de animais.

Brandon Glenn já havia ido mais longe, não a mando do governo, mas de um frigorífico para o qual fornece frangos.

“Eu estava bem apreensivo”, diz o agricultor do Estado americano de Kentucky, falando da instrução que recebeu da Perdue Farms Inc. três anos atrás para que suspendesse o uso de antibióticos quase por completo. “Como vamos manter esses frangos vivos sem a medicação? Mas a Perdue disse: ‘É nessa direção que o mercado está indo.'”

A Perdue está entre o número crescente de produtores de alimentos tomando medidas para limitar o uso rotineiro de antibióticos na criação de animais – menos em resposta a ações regulatórias que à pressão dos consumidores.

No ano passado, sua concorrente Tyson Foods Inc. lançou uma marca de frango sem antibióticos. Ela também vende carne bovina sem o remédio.

A carne bovina, suína e de frango sem antibióticos representa apenas cerca de 5% da carne vendida nos EUA, segundo estimativas do setor, mas essa proporção está crescendo rapidamente. O total de vendas desses frangos no varejo americano aumentou 34% em valor no ano passado, segundo a firma de pesquisas IRI.

Esses produtos são muito mais caros, o que compensa os fornecedores pelos custos mais altos de produção, mas também limita o número de consumidores.

A entrada dos frigoríficos nesse nicho vem gerando elogios de ativistas da saúde preocupados com o aumento de alguns tipos de infecções bacterianas resistentes a antibióticos. Eles consideram essas iniciativas das empresas como revolucionárias, depois de anos de ações inconclusivas dos reguladores.

“Estamos vendo empresas aderirem como nunca fizeram antes devido à pressão da opinião pública”, diz Susan Vaughn Grooters, analista de políticas na Keep Antibiotics Working (Mantenha os Antibióticos Funcionando), uma coalizão de grupos dedicados à saúde, ao bem-estar animal e ao ambientalismo. Segundo ela, a FDA está “sendo ultrapassada pelos próprios micróbios e pelo setor”.

A FDA vê sua estratégia de buscar mudanças voluntárias como a mais eficaz para reduzir o uso de antibióticos em animais, argumentando que uma proibição poderia levar a prolongados processos judiciais.

A mudança no mercado é semelhante a outras reações da indústria a preocupações dos consumidores quanto à segurança ou ética na produção de alimentos. No setor de carne suína, a Cargill Inc. é uma das empresas que se comprometeram a eliminar progressivamente as apertadas “baias de gestação” para as porcas. Outras empresas oferecem alimentos sem ingredientes vindos de culturas produzidas pela bioengenharia.

Todos os anos, mais de dois milhões de americanos contraem infecções bacterianas resistentes a antibióticos, que causam a morte de pelo menos 23 mil deles, segundo um relatório de 2013 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CCPD).

Líderes do setor de saúde pública consideram isso uma crise mundial e atribuem a culpa, em parte, à utilização generalizada de remédios pela indústria da carne. “Até metade do uso de antibióticos nos seres humanos e grande parte do uso de antibióticos em animais é desnecessária, inadequada e reduz a segurança de todos”, afirmou o CCPD no ano passado, citando o uso de antibióticos para estimular o crescimento de animais.

O receio é que bovinos ou frangos criados em confinamento e medicados continuamente com antibióticos acabem gerando milhões de culturas vivas, onde bactérias nocivas têm a chance de sofrer mutações para escapar das drogas. As bactérias podem então passar para os seres humanos se a carne não for bem cozida ou se verduras e legumes conservarem vestígios do esterco animal usado como adubo.

O setor de carne há muito sustenta que a adição de antibióticos à ração ou à água dos animais é segura, em parte porque muitas das drogas em questão não são usadas em seres humanos.

Richard Carnevale, diretor de assuntos regulatórios, científicos e internacionais do Instituto de Saúde Animal, uma organização de fabricantes de remédios veterinários, não acredita que os antibióticos usados em animais contribuam significativamente para os problemas de resistência bacteriana. Ele diz que o aumento das bactérias resistentes a antibióticos não tem uma nítida correlação com a intensidade do uso desses antibióticos específicos na criação de animais.

Muitos consumidores já tomaram sua decisão. Uma pesquisa realizada em 2012 pela Consumer Reports concluiu que 72% das pessoas estavam extremamente ou muito preocupadas com o uso generalizado de antibióticos na alimentação animal. Este ano, a firma de pesquisas Midan Marketing entrevistou clientes de supermercados e verificou que 88% estão cientes do uso de antibióticos nos animais e 60% se preocupam com isso.

A FDA aprovou o uso de antibióticos para estimular o crescimento do gado na década de 50, depois que pesquisadores descobriram que animais que recebiam doses pequenas e regulares de drogas antibacterianas pareciam crescer mais depressa. As razões não são bem compreendidas, mas muitos cientistas acreditam que as drogas melhoram a absorção de nutrientes.

Em 2012, os cerca de 8 bilhões de frangos de corte, 66 milhões de suínos, 89 milhões de cabeças de gado e outros animais consumiram 14,6 milhões de quilos de antibióticos, segundo a FDA. Foi uma alta de 8% em um ano e mais de quatro vezes a quantidade de antibióticos vendida para uso humano, embora a FDA ressalte que os totais não são diretamente comparáveis. Cerca de 60% dos tipos de antibióticos usados em animais de criação também são utilizados em seres humanos.

Os cientistas já alertaram, há muitos anos, que adicionar antibióticos à alimentação dos animais de corte poderia provocar resistência bacteriana aos remédios. Os frigoríficos e fabricantes de produtos para saúde animal fizeram lobby para convencer o Congresso dos EUA e a FDA a continuar aprovando o uso em animais. Poucas restrições foram impostas, embora o Congresso tenha exigido, em 2008, que os laboratórios farmacêuticos divulguem as vendas de antibióticos para animais de corte.

As recomendações feitas pela FDA no ano passado, embora de aceitação voluntária, estão entre as iniciativas de mais longo alcance que a agência já adotou sobre o assunto. Ela pediu aos produtores de antibióticos veterinários que revisem seus rótulos, de maneira a tornar efetivamente ilegal que agricultores e pecuaristas administrem as drogas para estimular o crescimento. A FDA afirma que todos os 26 fabricantes desses medicamentos concordaram em eliminar gradualmente seu uso como estimulante do crescimento até dezembro de 2016.

Os críticos, como Robert Lawrence, diretor do Centro para um Futuro Habitável da Escola Bloomberg de Saúde Pública, da Universidade Johns Hopkins, afirma que as diretrizes podem ter pouco impacto. Entre as razões: as regras continuam permitindo adicionar antibióticos à ração animal com o objetivo de prevenir doenças.

Alguns defensores da saúde pública dizem que a ameaça da resistência bacteriana é grande demais para deixar que as forças do mercado eliminem o uso de antibióticos na alimentação animal. Mas a FDA afirma que impor limites obrigatórios a quase 280 produtos antibióticos agropecuários levaria anos.