Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Internacional

Gasto da Rússia com guerra pesará sobre indústria de fertilizantes

A partir de janeiro, país adotará imposto inédito sobre as exportações do insumo

Gasto da Rússia com guerra pesará sobre indústria de fertilizantes

Parte da fatura da guerra entre Rússia e Ucrânia poderá bater no bolso da indústria de fertilizantes russa a partir de janeiro de 2023, em forma de um imposto inédito, que incidirá sobre as exportações do setor. Entre os importadores no Brasil, ainda não se prevê impacto sobre os preços nas negociações – ao menos em curto prazo.

A norma, publicada pelo governo do presidente russo Vladimir Putin em 3 de dezembro, estabeleceu a cobrança de 23,5% sobre a tonelada de NPK (nitrogenados, fosfatados e potássicos) exportada, quando o preço for superior a US$ 450.

O documento oficial tirou dúvidas que pairavam entre os agentes que atuam nesse mercado desde novembro, quando circularam as primeiras notícias sobre a novidade. Uma das dúvidas era sobre a forma de cobrança.

A alíquota vai incidir apenas sobre a diferença entre o teto estabelecido para a isenção e o preço pago, caso seja superior. Isso quer dizer que, caso a tonelada de fertilizante custe US$ 460, por exemplo, serão cobrados 23,5% de US$ 10, que é a diferença a partir de US$ 450, explicou Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da StoneX.

Ajuste de orçamento

O motivo da decisão do governo russo de taxar as exportações de adubos não é explícito. Mas, entre agentes do mercado de fertilizantes, é consenso que a criação do novo imposto é uma das soluções de Putin para ajustar o orçamento do país, bastante afetado pelo custo da guerra na Ucrânia. A nova taxa vai “morder” a margem de lucros da indústria russa, já que os principais grupos de produtos custam mais do que os US$ 450 por tonelada.

O imposto poderia levar os exportadores a tentarem um repasse para o preço de venda, mas há pouco espaço para isso. “Todo vendedor quer aumentar preços, e esse [imposto] é um argumento excelente. Inclusive, alguns exportadores já estão tentando”, disse Mello. “Mas o mercado não está para tudo isso”, completa. É que os preços de fertilizantes já estão em patamares históricos elevados, e os produtores agrícolas compraram menos em 2022. Ademais, o fator que determina alta ou baixa de cotações de adubos é oferta e demanda. “Essa medida, por si só, não vai afetar preços”, reforçou Aluísio Schwartz Teixeira, presidente do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas do Paraná (Sindiadubos).

Tentativas de dividir parte da nova cobrança com o cliente só levariam os importadores a trocar de fornecedor. Além disso, as multinacionais do setor “têm gordura para queimar” antes de arriscarem perder clientes, já que vivem um momento de fortes ganhos, após as altas das cotações nos últimos dois anos. Segundo Teixeira, depois de meses em queda, os preços dos fertilizantes estão reagindo.

Uma razão para isso é a demanda que está ganhando força no Brasil neste fim de ano.

Os produtores estão na reta final de compras de insumos para a safrinha de milho – cultivada no começo de cada ano -, e quem cultiva soja começa a adquirir adubos para a safra 2023/24. A StoneX já prevê alta de cerca de 20% das cotações de ureia e fosfatados para os primeiros meses de 2023. Nessa época, além da demanda brasileira, há também a chegada dos produtores dos Estados Unidos e da Europa ao mercado para as compras do insumo do ano que vem.