Depois do sucesso que foi a inclusão da energia eólica na matriz brasileira, com diversas fábricas de aerogeradores se instalando no país, começam os primeiros movimentos de forma mais orquestrada para que também a energia solar seja uma alternativa viável. Já há investidores como a Rio Alto Energia com projetos que poderiam ter competido no último leilão do governo federal, em que a própria eólica foi negociada a menos de R$ 100 o MWh. Para se ter ideia do tamanho da ambição, na Espanha o preço da energia solar gira em torno de € 300 o MWh.
O projeto da Rio Alto não foi habilitado, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, porque não há ainda previsão legal para a participação desse tipo de energia, apesar de a empresa ter tentado se cadastrar como térmica movida a biomassa. Tolmasquim ainda é um pouco cético sobre a questão do preço que, segundo ele, é o entrave para que se faça um leilão específico para solar, a exemplo do que se fez no primeiro leilão de eólica. Mas acrescenta: “É questão de tempo para a solar participar dos leilões. Falta massa crítica, projetos suficientes para um leilão”.
O projeto da Rio Alto, dos empresários Rafael Brandão, Sergio Reinas e Edmond Farhat, prevê uma usina termo solar no sertão da Paraíba com capacidade de gerar 50 megawatts (MW). A estimativa de investimentos é de R$ 350 milhões e recentemente o grupo fechou parceria com o Banco Paulista para o empreendimento. “Teríamos tido condições de competir no último leilão até o fim”, disse Reina. “Já temos licença de instalação emitida, negociações com fornecedores como a Siemens caminhando e também de financiamento com o Banco do Nordeste.” O projeto está em fase avançada e a negociação com fornecedores para as turbinas solares também caminha a passos largos. A Siemens estuda a possibilidade de até mesmo fabricar esse tipo de equipamento no país.
Os empresários dizem que o motivo de se conseguir no Brasil um preço mais competitivo que a Europa está no custo da terra, que no sertão da Paraíba não tem uso produtivo; na fabricação brasileira dos equipamentos; no projeto termo solar, que é diferente do fotovoltaico (usado principalmente em residências); na pequena distância para conexão à rede (cerca de quatro quilômetros da subestção da Chesf); e ainda da alta produtividade (cerca de 60%).
A produção em grande escala de energia solar requer grandes pedaços de terra. Para o projeto Coremas, da Rio Alto, são cerca de 60 hectares. Para ter o fator de capacidade de 60%, a energia é gerada durante 12 horas, sendo parte com energia direta do sol e outra parte com o uso de biomassa. No sertão paraibano há grande quantidade de dejetos de coco, que podem ser usado como combustível na usina. O preço não prevê um segundo uso da unidade.
A ideia é fazer uma espécie de estufa, com as turbinas solares ficando cerca de dois metros acima do solo e possibilitando a plantação na área. Segundo os executivos da Rio Alto, esse tipo de uso das unidades termo solares é super comum nos Estados Unidos. Será inclusive de lá que será trazida a tecnologia de polímero flexível, que substitui o espelho nessas unidades termo solares. A empresa tem ainda em projetos outros 250 MW para serem desenvolvidos.