Até o fim do ano, a ampliação das exportações do agro brasileiro para o Reino Unido será uma das prioridades do ministro da Agricultura, Marcos Montes. Técnicos britânicos estiveram no Brasil em outubro e, durante duas semanas, visitaram estabelecimentos que estão sob o Serviço de Inspeção Federal (SIF), como fazendas, granjas de aves, laboratórios federais e privados e centrais de certificação.
Essa foi a primeira missão internacional que os auditores britânicos fizeram após o Brexit, que oficializou a saída do Reino Unido da União Europeia.
A expectativa é que a delegação reconheça a equivalência do sistema brasileiro de defesa sanitária e agropecuária, o que pode ampliar o número de frigoríficos de aves e bovinos habilitados a exportar ao mercado britânico. A previsão é que o relatório dos técnicos saia em até 60 dias.
Antes do Brexit, os acordos ocorriam via União Europeia, mas os frigoríficos habilitados a vender ao bloco seguiram exportando também para o Reino Unido mesmo depois de os britânicos deixarem a UE. Hoje, 250 plantas estão aptas a exportar aos europeus. Sem sucesso com UE Com a UE, as negociações do Brasil seguem travadas.
O bloco, que impôs regras rígidas de controle sanitário para as importações de carne de frango brasileira após as operações Carne Fraca (2017) e Trapaça (2018), ainda não confirmou a realização de auditoria no país nem avanços no diálogo para normalizar o fluxo de comércio. A BRF, gigante da indústria de proteína animal, continua sem acesso ao mercado europeu.
A avaliação em Brasília é que um entendimento com os britânicos pode ser uma boa sinalização para destravar as negociações com a UE. Marcos Montes diz que, depois da missão, já conversou com os ministérios da Economia e das Relações Exteriores para ampliar o intercâmbio com os britânicos.
O Brasil deverá fazer um “gesto diplomático” ao reconhecer a indicação geográfica do uísque escocês, o scotch, uma demanda que os britânicos apresentaram em 2012.
“É quase uma troca, um gesto [de] boa vontade para negociarmos a abertura [do mercado] da proteína animal. Há boas chances de [a aprovação] ocorrer até dezembro”, disse Montes ao Valor.
O relatório do Reino Unido pode ser final ou indicar a necessidade de informações complementares. O documento será submetido a um conselho superior e, se aprovado, tornará oficial o reconhecimento do SIF brasileiro, o que abre a possibilidade de o país indicar novos exportadores. Já há entendimento para os britânicos enviarem novas missões para analisar a inspeção de outros produtos.
Segundo a plataforma de dados de comércio exterior do agronegócio Agrostat, do Ministério da Agricultura, em 2021, o Brasil exportou 116,2 mil toneladas de carnes para o Reino Unido, que renderam US$ 335,5 milhões. Carnes de frango (US$ 232,1 milhões) e bovina (US$ 117,2 milhões) dominaram os embarques.