Principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, a China ainda reserva boas oportunidades para o setor, desde que contornadas barreiras tarifárias e não-tarifárias para alguns produtos. E, entre os candidatos com possibilidade de reforçar uma pauta atualmente dominada por soja, carnes, celulose, açúcar, tabaco e algodão, está o milho, cuja produção é crescente no Brasil – e que já começou a ganhar relevância nas importações chinesas.
Esse cenário é reforçado por um estudo recém-concluído feito em parceria pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pela Academia Chinesa de Comércio Internacional (Caitec), que traçou pilares e oportunidades para as relações comerciais bilaterais. Assinado pelos pesquisadores Marcelo José Braga Nonnemberg, Uallace Moreira Lima, Mateus Azevedo Araujo, Fernanda Pedrosa e Scarlett Queen Almeida Bispo, o trabalho será publicado esta semana.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, as exportações do agro brasileiro para a China renderam US$ 27,9 bilhões de janeiro a julho, ou 38,4% do valor total registrado. Essa participação cresceu com o avanço dos embarques de soja e carnes. O Brasil já é um grande fornecedor externo de produtos do agro para ao mercado chinês, mas pode avançar mais: além do milho, foram mapeadas oportunidades para o Brasil no comércio de frutas (in natura e em conserva), pescados, crustáceos, sucos e extratos vegetais, entre outros.
Nesses segmentos em que o Brasil tem excedente exportável e a China é importadora, contudo, há barreiras tarifárias a serem superadas, levando-se em conta que países concorrentes mantêm acordos com Pequim que garantem tarifa zero para seus produtos. Governo e iniciativa privada estão cientes das travas e buscam contorná-las, mas há poucos sinais de avanços concretos no curto prazo.
Mas há o milho – e, nesse caso, as necessidades da China, que mantém entre seus planos na área de segurança alimentar a ampliação da produção doméstica de carnes suína e de frango, certamente falarão mais alto. Embora tenha sido um país exportador de milho até alguns anos atrás, a China, com sua demanda crescente, já deverá importar 26 milhões de toneladas do grão nesta safra 2021/22, segundo estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Isso apesar de sua gigantesca produção, que se aproximará de 270 milhões de toneladas.
Por enquanto, Ucrânia e EUA são os maiores fornecedores de milho à China, mas a escalada das importações do país asiático reserva uma importante fatia de mercado para o cereal brasileiro. “Dos produtos dos quais o Brasil é grande exportador e que a China importa muito, o milho salta aos olhos”, diz o economista Marcelo Nonnemberg. Mas, para destravar essa porta, é preciso firmar acordos fitossanitários. Do ponto de vista de oferta, a agricultura brasileira é fértil, já que há grandes áreas ainda disponíveis para a segunda safra, semeada após a colheita de soja.
Já impulsionadas pela safrinha, as exportações de milho do Brasil deverão somar 43 milhões de toneladas em 2021/22, de acordo com o USDA. O volume é menor apenas que o estimado para os EUA (61 milhões), e supera em 7 milhões de toneladas a projeção para a Argentina.
Em 2020, a Ucrânia forneceu 55,8% do milho que a China importou, segundo o relatório “Perspectivas Agrícolas da China – 2021-2030”, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e da agência de promoção de investimentos do Estado de São Paulo Investe SP. EUA, Laos, Myanmar e Bulgária completaram a lista de cinco maiores fornecedores. As importações chinesas somaram 11,3 milhões de toneladas em 2020, 135,8% mais que em 2019 – e já um recorde.