Com a maior parte dos grandes mamíferos, os suínos são compostos por cerca de 70% de água, atuando essa em diversas áreas de manutenção da existência do animal, entre elas
- Dissolução de nutrientes e componentes de base alimentar
- Preenchimento de estruturas moleculares
- Veículo de transferência osmótica dentro de células
- Construção de tecidos diversos, incluindo os musculares
Tendo isso em vista, é compreensível que a qualidade e quantidade dessa, quando oferecida aos suínos, tem impacto expressivo na eficiência dos mesmos no ganho de peso diário (GPD), conversão alimentar (CA) e, no caso de matrizes, lactação.
SOBRE A QUALIDADE:
Uma série de quesitos devem ser atendidos e, para auxiliar no seu entendimento, a Resolução CONAMA Nº 357, de 17 de março de 2005, aponta “Classe 3” para oferta de água aos suínos. Segue trecho do texto:
“IV – Classe 3: águas que podem ser destinadas:
a. ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado;
b. à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
c. à pesca amadora;
d. à recreação de contato secundário; e
e. à dessedentação de animais.”
Observar que essa água está distante do consumo humano somente por um tratamento e é equivalente às aguas de recreação ou pesca amadora, portanto com limites mínimos de pureza, a exemplo dos coliformes não passando de 1000 coliformes por 100 ml em 80% ou mais de no mínimo 6 amostras coletadas durante o período de 1 ano, com frequência bimestral.
Além dessa característica, outras devem ser observadas, entre elas:
TURBIDEZ | Elevada turbidez (> 5 NTU) afeta negativamente os filtros e os programas de desinfecção. 1 NTU = 1 mg de Si02/L. COR Normalmente não altera o consumo (TCU). |
PH | Variação aceitável: 6,5 – 8,5. Se passar de 8,5, a cloração será pouco eficaz; se for muito ácido, diversos medicamentos podem se precipitar. |
ODOR | Deve estar livre de odores (TON). Casos positivos sugerem contaminações microbianas e presença de compostos orgânicos. |
TOTAL DE SÓLIDOS DISSOLVIDOS | Determina a quantidade de bicarbonato, cloretos, sulfato sódico, de cálcio e magnésio. Níveis < 1000 mg/L não originam problema. Entre 1000 e 3000 mg/L causam diarreias transitórias em leitões. |
CONDUTIVIDADE | Habilidade para conduzir eletricidade determinada por elevado nível de íons minerais dissolvidos. |
DUREZA | É a medida dos cátions multivalentes: cálcio, magnésio – em suas formas de carbonato, bicarbonato, sulfato e cloreto, expressos em equivalentes de carbonatos cálcicos. Uma dureza elevada reduz a eficácia de detergentes (> 180 mg/L CaCa3) e origina problemas nos sistemas de calefação por água, refrigeração, filtros, válvulas e bebedouros. Ideal que fique a cerca de 110 ppm |
SULFATOS | Níveis de 1000 a 1500 mg/L têm capacidade osmótica, provocando diarreias não patogênicas, que durante semanas de consumo costumam desaparecer por hábito (o impacto é dose-dependente). Algumas bactérias podem extrair oxigênio dos sulfatos. |
FERRO e MAGNÉSIO | Costumam ser solúveis, dando uma tonalidade marrom (Fe) ou escura (Mn) à água. Servem de nutrientes a certas bactérias patógenas. Não se recomenda níveis maiores de 0,3 mg/L de Fe e de 0,05 mg/L de Mn. |
NITRATOS – NITRITOS | Sequestram a hemoglobina e reduzem o transporte de oxigênio e nutrientes ao formar meta-hemoglobina. Mais de 200 mg de nitratos/L reduz o GMPD e altera o metabolismo da vitamina A. Recomendam-se níveis menores que 100 mg/L de nitritos e de 10 mg/L de nitratos. Os bovinos são mais susceptíveis aos nitratos do que os suínos. |
SÓDIO | Em sua forma de sulfato é laxante e altera a capacidade de filtração renal. |
MAGNÉSIO | Tem um potente efeito laxante nos suínos. |
CLORO | Doses superiores a 400 mg/L propicia um sabor metálico, sem efeitos negativos determinados. Os suínos toleram até 2 ppm de cloro livre, por isso, deve-se prestar atenção à cloração |
Soma-se a isso a importância da temperatura a qual se deve evitar oferecer superior a 3 °C em relação à temperatura ambiente e sempre deve estar abaixo de 20 °C.
SOBRE A QUANTIDADE:
Como regra geral, espera-se que em todas as fases da vida o suíno consuma no mínimo 10% do peso próprio em água diariamente, essa demanda pode ser ainda maior em matrizes durante o período de lactação.
Apesar de não ser dotado de glândulas sudoríparas, esses animais demandam de grande carga hidráulica, especialmente pela importância que essa tem no metabolismo. Diante disso, dificultar o acesso à água de boa qualidade e diariamente compromete diretamente a produção.
Grande prejuízo à Conversão Alimentar foi observado reduzindo-se a oferta de água para suínos durante 30 dias, em animais com peso inicial médio de 75 Kg:
Naturalmente há um limite para esse comportamento. Se há menor disponibilidade, funções diversas no corpo do são comprometidas e se o consumo for menor que 6% do seu peso em água diariamente, ocorre surgimento de doenças nos sistemas respiratório, nervoso e digestivo. Em relação ao limite superior, a questão é hidráulica, afinal o suíno tem um estômago com volume definido e, se expandir muito o consumo de água além do que seu corpo expele após metaboliza-la, haverá concorrência entre alimento sólido e água e consequente desnutrição do animal.
Sabe-se ainda que a ingestão não é o único acesso que os suínos têm à água, embora seja a que fornece maior % desse nutriente (sim, a água deve ser encarada como um nutriente). Outra fonte são os alimentos (até cerca de 15%) por meio da quebra de grandes moléculas, entretanto vale ressaltar que essas próprias moléculas em geral são hidrossolúveis, ou seja, demandam de mais água para poderem ser dissolvidas.
Uma solução que garante saciedade nutricional ao mesmo tempo que garante equilíbrio hidráulico para os suínos é a dieta líquida. As proporções variam, mas já considerando os líquidos embutidos nos alimentos “sólidos”, em geral as formulações ficam com proporções entre 24% e 29% de matéria seca, para ser mais simplista, fica numa relação de ¼ de matéria seca contra ¾ de água. Além disso um suíno adulto consegue ingerir até 1 L/min de ração líquida, versus meros 15 a 20g/min de ração seca, o que faz com que a saciedade e posterior tranquilidade sejam bastante observáveis em animais em dieta líquida, desde que todos os aninais de uma baia tenham acesso ao coxo concomitantemente.
Com essa proporção de cerca de 75% de água em dieta líquida fica fácil perceber a manutenção hidráulica, veja:
1. Um suíno de 100 Kg consumirá cerca de 2,8Kg de alimento seco/dia.
2. Em dieta líquida, esse alimento será complementado com 2,8 x 3 Kg de água = 8,4 Kg.
3. Isso representa 8,4% da água necessária ao animal, restando somente 10 – 8,4 = 1,6Kg de água para o mesmo buscar fora da dieta líquida.
Observando o gráfico acima, nota-se que mesmo que esse suíno não tivesse qualquer acesso adicional à água, ainda teria aumento relativo de somente 5,9% da conversão alimentar, garantindo em termos práticos, sua manutenção hidráulica e até mesmo a sustentabilidade do negócio.
O que isso demonstra? Que sistemas de dieta líquida, cuja redução de conversão alimentar é de até 15%, contribui com até cerca de 84% da demanda hidráulica do suíno, e que com essa substancialmente suprida, mesmo que o suíno não tenha acesso a outras fontes de água ainda terá conversão alimentar até 10% superior ao arraçoamento tradicional (considerando o mesmo balanço nutricional).
Outro ponto que fica esclarecido é que, com dieta líquida ou não, a performance nutricional do suíno fica fortemente comprometida se o balaço hidráulico do mesmo não for respeitado, portanto, fique de olho!