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Impacto do apagão argentino é sentido no Brasil

<p>A concorrência da Argentina será maior com soja em grão e preços podem recuar. O apagão energético na Argentina começa a surtir efeito no mercado do Brasil, sobretudo no de soja.</p>

Redação (11/07/07) – Por um lado, os exportadores brasileiros de óleo de soja estão tendo menos descontos no porto que no mesmo período do ano passado, ou seja, estão tendo receita superior.

Por outro lado, os exportadores de grão devem se preparar para a concorrência argentina. Com dificuldade de fabricar o óleo, os vizinhos devem entrar agressivamente nas exportações de grão, abrindo disputa com o Brasil.

O mercado estima que as indústrias processadoras de soja da Argentina estejam trabalhando com 70% a 80% de ociosidade, por conta do apagão energético. A Câmara da Indústria de Óleo da Argentina (CIARA, sigla em espanhol) foi procurada, mas nenhum representante foi encontrado para falar sobre o assunto. Ainda não foi estimado pelos técnicos da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) o impacto da retração da oferta argentina de óleo para o mercado brasileiro.

No entanto, a entidade informou que neste ano, as fábricas do Brasil estão projetando esmagar em torno de 30 milhões de toneladas de grão e teriam condições de ampliar esse volume em mais 8 milhões de toneladas, visto que a capacidade fabril instalada é de 40 milhões de toneladas.

Analistas não arriscam medir neste momento, o efeito da Argentina no mercado internacional de óleos vegetais, pois a demanda aquecida por alimentação e produção de biodiesel já vem causando altas nos preços internacionais do óleo. Desde junho, esse aumento acumulou 3,75% na Bolsa de Chicago (CBOT), no entanto, os descontos nos portos brasileiros, que normalmente ficariam maiores ao exportador, se mantiveram estáveis, já reflexo do " efeito argentina", segundo o analista da consultoria de risco FCStone, Gonzalo Terracini.

Descontos menores

Além disso, os prêmios no mesmo período de 2006 estavam mais negativos que agora. Segundo informações do Cepea, foram negativos em 300 em junho e 350 em julho de 2006, enquanto nos dois meses deste ano, os descontos ficaram em torno de 110 negativos.

Apesar das altas dos preços do grão e do farelo na CBOT, os descontos no porto brasileiro para os dois produtos também se mantiveram estáveis. Mas, segundo Terracini, a tendência é que o grão brasileiro passe a ficar menos atrativo para os exportadores brasileiros, ou seja, com prêmios mais negativos nos portos. "Diante da impossibilidade de processar a soja, os argentinos devem exportar mais soja em grão e concorrer mais fortemente com o Brasil", completa Terracini.

Por enquanto, esses descontos para soja em grão estão estáveis desde junho em torno de 30 centavos de dólar por tonelada (negativos), segundo o Cepea. Por outro lado, as cotações do grão em Chicago se valorizaram 6,85% de junho até meados deste mês de julho.Para Anderson Galvão, diretor da Céleres Consultoriao desempenho das exportações brasileiras do complexo soja já refletem o mal momento da indústria argentina, devido ao racionamento energético que se arrasta há mais tempo.

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério de Indústria e Comércio Exterior, somente no primeiro semestre deste ano, as vendas externas do complexo soja cresceram 27,2% em relação ao mesmo período de 2006 para 5,3 milhões de toneladas.

Óleo valorizado

E, a tendência, segundo Galvão, é de que se o problema na Argentina continuar, vai ter mais espaço para os produto processado brasileiro – óleo e farelo – e menos para o grão. "Isso indica mais descontos maiores para o grão da Argentina e do Brasil e prêmios altos para óleo e farelo.

O problema, segundo Sérgio Mendes, diretor da Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec), é que as indústrias brasileiras não conseguem manter a competitividade em relação à Argentina. "Mesmo que nós consigamos abocanhar esse mercado, será momentâneo. Logo que a situação energética voltar ao normal naquele País, nós perdemos terreno novamente. Isso porque eles têm vantagens logísticas e tributárias em relação ao Brasil", avalia Mendes.

Por conta desse cenário, e das instabilidades logísticas do exportador brasileiro, segundo Mendes, as projeções iniciais de exportação de soja em grão estão sendo revistas pela Anec. A previsão inicial de embarcar 28 milhões de toneladas este ano, já foram revista para 26,5 milhões de toneladas. "Nós temos também incertezas logísticas que nos fazem perder competitividade", diz Sérgio Mendes, diretor da Anec.