O Instituto Butantan começou a produzir nesta terça-feira (11) a vacina contra o vírus H3N2, que está provocando um surto de gripe no país. Oitenta milhões de doses devem estar disponíveis a partir de março.
Na receita da vacina contra a gripe vai ovo – muito ovo. Só nesta terça, o Instituto Butantan recebeu mais de 40 mil dúzias. Logo que chegam, eles vão para uma sala escura onde um funcionário usa uma luz forte para ver dentro do ovo. É um controle de qualidade.
“Não são os ovos que nós encontramos no mercado. Já é uma produção específica para essa finalidade. Os ovos desde as granjas eles têm um cuidado de temperatura, umidade, controle de CO2 durante todo o transporte e aqui na fábrica quando eles são recebidos”, explica o gerente de produção Douglas Gonçalves de Macedo.
A vacina da gripe muda sempre porque o vírus da gripe muda muito. Então, todo ano a Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica os três tipos que estão circulando mais e são eles que vão estar na próxima fórmula. A vacina da campanha de 2022 vai proteger contra os vírus H1N1, aquele da pandemia de gripe suína, o da influenza B e de um tipo de H3N2, que é o que tem provocado esse surto de gripe em várias cidades do país.
O Jornal Nacional acompanhou com exclusividade o início da produção do ingrediente farmacêutico ativo, o IFA, da vacina contra o H3N2.
O vírus é injetado dentro dos ovos com agulhas muito finas. Essa é uma tecnologia que o Butantan usa para fabricar a vacina da gripe há mais de dez anos. Depois, os ovos são abertos, o líquido é filtrado, o vírus é inativado e perde a capacidade de provocar a doença. Aí o Ingrediente Farmacêutico Ativo está pronto.
Em seguida, ele vai ser misturado ao IFA dos outros dois vírus: H1N1 e B, que já foram feitos nos últimos meses. Assim a vacina vai proteger contra os três vírus.
A epidemiologista Carla Domingues, que já coordenou o Programa Nacional de Imunizações, reforça que o número de vacinados contra gripe no país precisa aumentar.
“Nós precisamos alertar a população todos os anos sobre a necessidade de vacinar a população alvo e atingir uma cobertura vacinal de pelo menos 90% de cobertura. É dessa forma que nós estaremos protegendo as pessoas mais vulneráveis no nosso país”, afirma Carla Domingues.
Em 2021, o país não atingiu a meta. A cobertura vacinal do grupo prioritário ficou em 71,2%.
A infectologista Mírian Dal Ben, do Hospital Sírio-Libanês, alerta que essa situação é crítica, porque a gripe também pode evoluir para casos graves.
“A gente sabe que este ano a gripe causou esse estrago que a gente viu no final do ano, justamente porque, em 2021, a cobertura vacinal foi muito baixa. A gente vacinou bem menos pessoas do que a gente tinha por hábito vacinar nos anos anteriores. Então é importante estar todo mundo com isso bem na cabeça e programado: tem que vacinar tanto para Covid-19 quanto para gripe”, enfatiza Mírian Dal Ben.