A escalada dos preços dos insumos foi a principal responsável pelo aumento dos custos de produção da atividade agropecuária em 2021. As altas foram de 17% na soja, 15,2% na pecuária de corte para cria e recria, 34% no arroz produzido no Rio Grande do Sul e 29% na cana-de-açúcar plantada no Nordeste, segundo dados levantados pelo projeto Campo Futuro, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O fertilizante foi o item que mais pesou no bolso dos produtores. Subiu mais de 100% de janeiro a setembro deste ano ante igual intervalo de 2020, em razão da demanda aquecida, da escassez da oferta mundial, da elevação dos preços internacionais e de problemas logísticos. Os preços de alguns defensivos também dobraram e há sinais de desabastecimento, o que tende a manter a margem de lucro do setor mais apertada no ano que vem após uma sequência de temporadas rentáveis.
Conforme dados do Campo Futuro, o glifosato foi o defensivo que mais encareceu: 126,8%. O salto da cotação do herbicida mais usado no Brasil se deve, em boa medida, à interrupção das operações de indústrias chinesas, e problemas com o fornecimento de matéria-prima deverão persistir nos próximos meses. No caso dos fertilizantes, no acumulado do ano os preços de ureia, MAP (fosfato monoamônico) e cloreto de potássio aumentaram 70,1%, 74,8% e 152,6%, respectivamente.
Soja
A soma desses incrementos com a alta de outros gastos diretos resultou em um Custo Operacional Efetivo (COE) 17% superior para os produtores de soja na safra 2020/21 ante 2019/20. Carro-chefe do agronegócio brasileiro, a oleaginosa surpreendeu com o aumento da produtividade média, que atingiu quase 60 sacas por hectare. A cotação do grão subiu 46,9%, o que mais do que compensou as altas de 14,8% e 16,9% nos preços de fertilizantes e defensivos para a cultura, respectivamente.
Milho
No milho, o principal gasto na primeira safra foi com o controle de pragas, 25,7% superior ao da temporada 2019/20. O ataque da cigarrinha impulsionou esse aumento e afetou a produtividade em algumas regiões. Já na safrinha, principal colheita do país, o problema foi o clima, com secas e geadas. O rendimento das lavouras caiu quase 40%. Mas o bom momento dos preços de venda do cereal foi capaz de assegurar uma receita bruta 2,7% maior e margem bruta ainda positiva.
Pecuária
Na pecuária, o cenário foi mais complicado. Dos 22 modais produtivos pesquisados pela CNA, oito não foram capazes de gerar recursos suficientes para arcar com a alta dos custos diretos de produção, bem como com as despesas com depreciação e pró-labore, e operaram com margem líquida negativa. Nos casos de recria e engorda, o desembolso com a aquisição de animais para reposição representou, em média, 64,8% do COE e nos de confinamento, 62,6%. “Dado a um ágio médio de 35% da arroba desses animais sobre a arroba que o produtor comercializou, o desafio em termos de margem foi alto”, afirmou a CNA.
Em nove meses, o COE desses sistemas acumulou alta de 15,2% em relação a 2020. Já o modelo de ciclo completo teve aumento de 10,6%, e os sistemas de cria, de 16,1%.
Na produção leiteira, quem operou com maior eficiência produtiva e conseguiu atingir mais de 10 mil litros por hectare por ano teve os melhores resultados financeiros, com média de margem líquida de R$ 0,04 por litro. Os modelos de média e baixa produtividade, porém, operaram com margem líquida negativa.
Os custos acumularam alta de 15,7% no segmento, puxados pelo encarecimento das rações e concentrado (15%) e sal mineral (24,7%). A receita no período cresceu 15,8%.
Avicultura
Na avicultura de corte, o item de maior impacto nos custos de produção foi o gasto com mão-de-obra, que subiu 26,7%, seguido da energia (19,5%) e aquecimento dos aviários (18,2%). Na suinocultura, a mão-de-obra representou 41,5% do custo operacional. Para a aquicultura, o gasto com a ração é o maior gargalo.