Inúmeras propriedades rurais no Norte do Paraná estão sendo atacadas por bandos de javaporcos (cruzamente de javali com porcos comuns criados em cativeiro). Um exemplo pode ser observado na Fazenda Esperança, localizada em Marilândia do Sul. O administrador da propriedade, Gilmar Américo dos Santos, calcula que pelo menos cem pontos de lavouras de milho foram alvos de ataques dos animais nas últimas semanas, destruindo cerca de 5 alqueires de plantação.
Santos acompanhou a equipe da FOLHA para mostrar algumas áreas destruidas. Em uma delas, o bando derrubou dezenas de pés de milho para comer as espigas. Nessa área, os pés de milho estão no ponto de colheita aguardando apenas uma breve estiagem para a entrada das máquinas em campo. Mas os javaporcos gostam mesmo é da espiga ainda verde. Em outra área, às margens de um carreador, a lavoura foi destruída de forma linear por quase um quilômetro de comprimento. A estimativa é que o prejuízo chegue a R$ 130 mil.
De acordo com o administrador, os primeiros javaporcos apareceram na propriedade em 2006. Como tem hábitos noturnos, os animais dificilmente são vistos durante o dia. E como os ataques sempre acontecem após o pôr do sol, só na manhã do dia seguinte é possível observar a extensão dos estragos.
Santos já conhece até alguns detalhes curiosos sobre os animais. Ele diz que os javalis cruzam com porcos comuns e se proliferam com rapidez, dando origem a diferentes graus de mistura, mas prevalencendo as características selvagem e agressiva. Os bandos atacam qualquer tipo de lavoura: milho, soja, aveia, trigo, cana, mandioca e até pés de palmito. O milho é mais prejudicada no momento por ser uma cultura predominante nesta época do ano.
Os animais atacam também as matas ciliares próximas às nascentes que ficam vulneráveis à erosão e as áreas de reflorestamento de eucaliptos. Uma das áreas mostradas por Santos estava totalmente pisoteada e a umidade do solo causada pelas chuvas dos últimos dias deixou as marcas ainda mais evidentes. Além disso, os javaporcos mordem os troncos e se esfregam em algumas árvores em um ritual para demarcação de território.
Na estimativa de Santos, há pelo menos 300 javaporcos que perambulam pelas lavouras durante a noite e que estariam divididos em alguns bandos. A marcação nas árvores é uma forma de exercer domínio sobre um território e sobre um bando. Algumas árvores estão com marcas escuras com um metro de altura, o que é usado de parâmetro para medir o tamanho dos animais. No caso, estima-se que o macho líder do bando tenha pouco mais de um metro de altura e pese em torno de 300 quilos.
O pior é que os javaporcos não estão sozinhos. Eles atraíram as onças, que são seus predadores naturais. Segundo ele, há pelo menos quatro exemplares adultos das espécies pantera negra e puma rondando a propriedade. Ele conta que recentemente uma das onças matou um bezerro, o que foi suficiente para o próprio sustento e de dois filhotes durante uma semana. O administrador chegou à essa conclusão observando as pegadas dos felinos.
Para Santos, a situação está chegando a um ponto insustentável e uma das soluções apontadas para impedir ainda mais a proliferação, é liberar a caça desses animais. A própria fazenda se propõe a controlar a entrada dos caçadores.