Os produtores de grãos do Rio Grande do Sul já relatam os efeitos da fenômeno La Niña sobre as lavouras do Estado. Até o momento, segundo a Emater-RS, as perdas são pontuais e se concentram nas plantações de milho, mas, caso as chuvas não fiquem mais regulares, é possível que os prejuízos aumentem tanto nas áreas de cultivo de milho quanto nas de soja.
De acordo com alerta emitido ontem pela consultoria AgRural,, apesar de o Estado ter registrado algumas pancadas de chuvas, a distribuição foi irregular e com baixo volume. “Essas precipitações amenizaram a situação momentaneamente. A previsão de tempo quente e seco é ameaça de mais perdas para as lavouras gaúchas”, afirma, em nota.
O meteorologista Celso Oliveira, da Climatempo, lembra que o mês de setembro foi o último com chuvas regulares e em boas quantidades no Rio Grande do Sul. Desde então, as precipitações foram mais espaçadas e em menor volume, o que afetou o desenvolvimento das lavouras em algumas parte do Estado. “As regiões mais penalizadas são de Santa Maria, Santa Rosa, Ijuí, onde há relatos de perda de potencial produtivo. O que preocupa é que o milho vai entrar em florada, período em que ele mais necessita de água, e não enxergamos um cenário com chuvas regulares nos próximos 15 dias”, diz.
O coordenador da área de culturas da Emater-RS, Elder Dal Prá, pontua que as regiões afetadas, centro e noroeste, não são as principais para o milho verão no Estado. Mas ele ressalva que um longo período sem chuvas regulares poderá afetar, sim, a produtividade do milho no norte, área mais relevante para a cultura no Rio Grande do Sul.
“A partir disso [de 20 dias sem chuva], começamos a afetar [o norte]. O que aconteceu no centro e noroeste não tem mais volta”, afirma ele, reforçando que ainda é cedo para estimar perdas e que a previsão segue de uma safra superior a de 2020/21, quando o fenômeno também castigou as áreas de milho do Estado.
Até 2 de dezembro, o plantio de milho no Rio Grande do Sul chegou a 88% da área estimada, avanço semanal de apenas 2 pontos percentuais, segundo a Emater-RS. O índice está acima do ciclo passado (83%) e próximo à média dos últimos cinco anos (89%). Segundo a última previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Estado deverá produzir 5,88 milhões de toneladas no verão (+34%).
Para a soja, cultura em que o Estado foi o segundo maior produtor nacional em 2020/21, o especialista recomenda cautela. “Não observamos nada abaixo da média no momento. Começamos a notar um déficit hídrico, o que trouxe um pequeno atraso na semeadura, mas a soja é uma cultura bastante ‘tolerante’, tem capacidade de se regenerar”, afirma Dal Prá.
Décio Teixeira, presidente da Aprosoja-RS, diz que a falta de chuva desde outubro foi prejudicial para a estratégia do agricultor gaúcho, uma vez que a janela ideal de plantio da oleaginosa no Estado ocorre em novembro. “Até outubro, a safra começou bem, mas as chuvas desapareceram e só voltaram por volta de 25 de novembro, pouco uniformes e sem regularidade. A soja está suportando bem, mas houve prejuízo no desenvolvimento e a produtividade tende a vir abaixo do ideal”, relata.