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Internacional

Lula reivindica comando da FAO para o Brasil

Candidato do presidente para ocupar direção da entidade é o ex-ministro José Graziano.

Na reta final de seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu reivindicar para o Brasil o comando da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, um dos mais cobiçados cargos em organismos multilaterais do globo.

O “ataque” de Lula para garantir a inédita direção-geral da FAO a um brasileiro começará oficialmente com um aviso do Itamaraty aos 186 países-membros sobre a intenção do país de dirigir as políticas e o orçamento anual superior a US$ 1 bilhão do organismo internacional criado em 1945. E o candidato de Lula é o ex-ministro José Graziano, atualmente diretor regional da própria FAO para América Latina e Caribe. Mas o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, também está no páreo. Lula aposta no sucesso internacional de políticas para a agricultura familiar, segurança alimentar, desenvolvimento rural e de combate à fome para emplacar seu candidato. As vitrines são os programa Pronaf, PAA, “Mais Alimentos” e seguro de renda rural, implantados ou vitaminados ao longo de seu governo.

Mas pode haver problemas, já que a eleição para a FAO ocorre em junho de 2011, o que enfraqueceria um candidato brasileiro apoiado por um presidente às vésperas do fim de seu segundo mandato. O embaixador Rubens Ricupero é apontado como um dos favoritos do candidato presidencial José Serra (PSDB). E a China ensaia lançar um candidato único da Ásia. Na divisão de poder dentro da ONU, o Brasil sente-se relegado. Busca, quase de forma obsessiva, um assento permanente no Conselho de Segurança desde o início do governo Lula. A FAO seria uma compensação em um área onde o país é referência global.

Diante disso, Lula antecipou a estratégia. A ofensiva para angariar simpatias e apoio já ficou visível na realização “Diálogo Brasil-África”, evento que reúne 47 ministros de Agricultura do continente africano em Brasília nesta semana. Em uma demonstração de apreço a parte dos futuros eleitores, o presidente mandou um Boeing da Força Aérea Brasileira (FAB) buscar os africanos em Luanda (Angola), onde participavam justamente de um evento regional da FAO. Antes, na Cidade do Panamá, Lula já havia costurado um acordo com os presidentes para conseguir um documento oficial de apoio a um candidato único da América Latina e Caribe. No comando da operação, Graziano teve sucesso ao obter o compromisso regional há duas semanas.

A estratégia de Lula também incluiu um café da manhã com o atual diretor-geral da FAO, o senegalês Jacques Diouf, na segunda-feira, em pleno Palácio da Alvorada. Ali, Diouf comprometeu-se a sondar os colegas africanos reunidos em Brasília sobre eventual apoio a Graziano. O senegalês está desde 1994 no comando da FAO e tem forte influência sobre os 53 países africanos.

Contrariado com o insucesso de recentes investidas em organismos internacionais, como Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio (OMC) e Unesco, o presidente Lula decidiu telefonar aos presidentes dos países europeus e ao americano Barack Obama atrás de “compromissos concretos”. A Cúpula União Europeia-América Latina, marcada para a próxima semana, em Madri, será uma “oportunidade de ouro” para alinhavar um consenso entre os líderes da latino-americanos, caribenhos e da União Europeia, especialmente com o francês Nicolas Sarkozy, a alemã Angela Merkel e o italiano Silvio Berlusconi. Lula também usará encontros em fóruns como o G-8 e o G-20 para fazer lobby por seu candidato.

Nos bastidores do governo, fala-se ainda de uma eventual candidatura do ex-ministro Roberto Rodrigues e do ex-presidente da Embrapa, Silvio Crestana. Mas interlocutores do presidente Lula informam que ele “desautorizou” quaisquer negociações com esses eventuais candidatos. Mas a sombra do embaixador Rubens Ricupero, profundo conhecedor dos bastidores da ONU, ainda assusta parte do governo Lula.