Há três mandatos à frente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), o suinocultor Valdecir Luis Folador acredita que a entidade avançou nos últimos anos graças ao seu trabalho de defesa do suinocultor gaúcho. Admite que não atingiu êxito total em todas as suas ações, mas está ciente de que fez o melhor para o desenvolvimento do setor. Ciência que reflete a opinião de outros suinocultores do Estado [associados à Acsurs], que o reelegeram – pela quarta vez consecutiva – presidente da associação de classe. Desafio e amor ao trabalho. Estes foram os motivos elencados por Folador para entrar e ganhar a disputa pela liderança da entidade.
Folador não poupou esforços para manter a suinocultura gaúcha nos trilhos. Em seis anos de mandatos, fez importantes ações nas áreas sanitárias e ambientais, como a construção de um novo laboratório de análises de doenças veterinárias – que facilita a permanência e abertura de novos mercados consumidores – e o trabalho incansável para garantir condições para uma produção em perfeita harmonia com o meio ambiente. Folador destaca também a atuação conjunta com a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) para a implantação e desenvolvimento do Projeto Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (PNDS), cujo objetivo é aumentar o consumo da carne suína do brasileiro em 2 quilos per capita em um prazo de três anos.
Apesar das inúmeras conquistas, Folador ainda tem um longo caminho a ser vencido. Sempre de olho na rentabilidade do suinocultor, o presidente da Acsurs focará neste mandato questões que estão em evidência no contexto de mercado atual, como a produção integrada de suínos – há um contrato para regulamentar o sistema em votação na Câmara Federal – e a carga tributária do setor cárneo, uma vez que a isenção de impostos “ainda não chegou no bolso do suinocultor”.
Suinocultura Industrial conversou o Valdecir Folador, que falou sobre sua reeleição, sobre as conquistas e desafios da Acsurs e sobre como a suinocultura gaúcha deve se comportar em 2011. Confira abaixo os melhores trechos da entrevista:
Suinocultura Industrial- Os últimos dois anos alternaram bons e maus momentos para a suinocultura gaúcha e, consequentemente, exigiram bastante empenho da Acsurs. Que balanço o senhor faz do trabalho da associação no último biênio?
Valdecir Folador- Olha, é um balanço positivo. Como entidade nós conseguimos representar muito bem os associados. Trabalhamos em diversas questões, tanto econômicas, como sociais e ambientais, buscando alternativas e soluções para os problemas. Muitas vezes a gente sabe que não consegue atingir aquele êxito que busca, mas acredito que, como entidade, nós fizemos um trabalho bastante importante, representando o produtor e seus interesses. Então, na minha avaliação foi feito tudo o que era possível neste período, com resultados bastante satisfatórios.
SI- Em sua opinião quais foram as principais ações da entidade nesse último mandato?
VF- São muitas ações que fica difícil enumerar todas. Posso dizer que o PNDS é um projeto importante na divulgação e promoção da carne suína, buscando mudar o conceito sobre este produto, desmistificando paradigmas, incentivando o consumo e a comercialização. É um projeto que tem ganhado espaço em cada Estado produtor. Outra questão de suma importância foi o inicio das conversas para a regulamentação do sistema de produção integrado de suíno. A relação entre o suinocultor e a indústria não está equilibrada, precisamos rever isso. Existem outras ações de cunho social e ambiental.. é difícil enumerar todas, mas sempre trabalhamos em ações em prol do suinocultor gaúcho.
SI- O senhor já está a três mandatos à frente da Acsurs. Que motivos o levaram a disputar um quarto mandato?
VF- Eu te confesso que um dos principais motivos que me fazem encarar mais dois anos de trabalho e desafio, que na minha vida sempre foram sinônimos positivos, é que eu quero buscar mais benefícios ao suinocultor gaúcho.
SI- Em sua opinião quais serão seus principais desafios neste novo mandato?
VF- Quero lutar por esta regulamentação do sistema de integração, é uma das minhas metas. Há um projeto encaminhado na Câmara Federal. Trata-se uma lei que muda os contratos, com melhores parâmetros dos índices de produção e produtividade, beneficiando a remuneração do produtor. Tenho ouvido e visto algumas entidades que representam o setor industrial dizendo que o projeto é ruim. Eu não acho. Pelo contrário, é um projeto que dará segurança e proteção ao produtor, trará um equilíbrio dentro das cadeias produtivas. A avicultura e a suinocultura são importantes da maneira que são, o sistema de integração é interessante na governança da produção, na governança da gestão, da sanidade, buscando atender normas do mercado interno e externo, mas precisamos avançar mais. O produtor precisa de rentabilidade. É um assunto bastante recorrente. Sempre foi. Mas acredito que devemos dar uma atenção maior nessa questão. Temos outras questões de mercado, lei da oferta e procura. Tudo influencia na remuneração total do produtor, mas também não é possível que o produtor tenha que carregar sozinho, nas costas, todas estas variáveis do mercado suíno.
Outro desafio é levar adiante o PNDS, trabalhando de forma consistente, objetivando aumento de consumo, demanda, tudo focando a melhora da rentabilidade do setor. Existem também outros problemas sérios. Por exemplo, precisamos trabalhar melhor o abastecimento de milho para o Brasil e, principalmente, para a suinocultura do Sul do País, que tem dificuldades maiores no período de entressafra. Enfim, temos muito trabalho para que a suinocultura continue a gerar renda, desenvolvimento social, levando renda pro bolso do suinocultor. Precisamos regular a cadeia e atingir um equilíbrio, senão perfeito, próximo do ideal para todos os lados do setor suinícola.
SI- Mudanças na cobrança do PIS e Cofins, assim como a isenção do ICMS para a atividade suinícola são assuntos que interferem economicamente a suinocultura gaúcha. A Acsurs vai trabalhar de que forma a questão da carga tributária do produtor?
VF- A carga tributária acaba prejudicando a cadeia, pois independente de termos lucro ou não, no final do mês vem a guia de contribuição tanto por parte do produtor e parte da indústria. Acredito que a questão da tributação precisa ser melhor trabalhada. Por exemplo, hoje nós temos a isenção de ICMS, mas analisando friamente a situação, pro bolso do produtor acabou não vindo nada desta isenção, a isenção beneficiou “da indústria pra frente”. O supermercado e o consumidor continua pagando os mesmos preços que estavam pagando a com o ICMS. Outra questão é a isenção do PIS Cofins para a indústria de aves, suíno e bovinos. Aí também, pro bolso do produtor também não veio nada. O preço do boi, por exemplo, melhorou, mas por conta do mercado e não da tributação. Acredito que há uma visão distorcida em relação a isso e precisamos trabalhar melhor esta questão para que o produtor sinta os reflexos destes benefícios.
SI- Qual a atual situação da suinocultura no Rio Grande do Sul?
VF- A suinocultura do RS tem se recuperado gradativamente. Desde o começo de fevereiro, até março, os preços estão subindo. A queda de preço do suíno foi muito forte no começo do ano, com o quilo chegando a R$ 2,05. Mas hoje estamos com cotações diferentes, chegamos a R$ 2,50. Estamos nos recuperando bem, o mercado deve ser firme no médio prazo. É necessária essa recomposição de preço, uma vez que o milho está custando cerca de R$ 27-28,00 a saca. A tonelada de farelo de soja custa R$ 700,00. Com o custo de produção elevado, precisamos de reajustes de preço no nosso produto para manter a lucratividade e podermos fazer quaisquer investimentos e ajustes necessários. O suinocultor trabalha para ganhar dinheiro, fazer sua poupança, comprar sua casa, comprar eletrodomésticos, carro, etc. Acredito que essa recuperação vai será mantida ao longo do ano.
SI- Tendo o preço das commodities, como milho e soja, como pano de fundo, quais são as perspectivas para a suinocultura gaúcha em 2011 sob o ponto de vista do produtor?
VF- Os custos se manterão altos, a não ser que aconteça algum fato extraordinário do mercado. Analisando no médio e longo prazo, no caso de milho e soja, não percebemos um cenário diferente além das altas. No cenário das carnes, a valorização no mercado interno e externo, dá sinais positivos. Visualizo pontos positivos, teremos uma valorização interessante nas nossas carnes. A não ser que aconteça algo extraordinário no mercado, algum acidente sanitário, enfim. Mas fora isso, teremos um ano razoavelmente positivo. Vamos colocar um otimismo, mas um otimismo moderado para não ter surpresas para frente.