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Economia

Marco de volta do agro à B3, Boa Safra amplia operações

Sementeira avalia locais para unidades que planeja abrir até 2026

Marco de volta do agro à B3, Boa Safra amplia operações

Boa Safra Sementes

Após abrir seu capital em abril, operação em que levantou R$ 460 milhões, a Boa Safra Sementes tem uma lista de motivos para comemorar. Nem mesmo a alta dos insumos, que preocupa o segmento de grãos no país, é razão, ao menos por ora, para tirar o sono de Marino Colpo, fundador e CEO da companhia, que segue de olho nas projeções de aumento do consumo de soja no mundo, puxado pelo crescimento populacional e de renda.

Uma das razões do otimismo é a bem-sucedida oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da companhia, que marcou a volta do agronegócio à B3. Todos os recursos da emissão foram para o caixa da empresa. “O agronegócio representa 26% do PIB e tem relevância baixíssima na bolsa, com menos de 2%. Isso, a meu ver, mostra o tamanho da oportunidade”, diz. Para o empresário, a possibilidade de representar o retorno do setor ao mercado de capitais, após um vácuo de 15 anos sem listagens, tem sido um fator positivo para a Boa Safra.

Alguns números indicam isso. Em seis meses de B3, o valor de mercado da companhia passou de R$ 1,1 bilhão para R$ 1,64 bilhão – já na largada, os papéis subiram mais de 40% (para faixa próxima aos R$ 15). No período de 12 meses até junho deste ano, a receita líquida cresceu 38,3%, para R$ 592 milhões, e o lucro subiu 84%. O carro-chefe é a comercialização de soja; milho e feijão também integram os negócios.

Leonardo Alencar, analista de agro, alimentos e bebidas da XP, diz que a disparada das ações no IPO superou o que normalmente se espera para o início (algo entre 10% e 20%). “A tese do negócio é clara, tem muito foco em tecnologia, fator que tem muito peso, e a empresa atua em um setor ao qual muitos investidores queriam se expor mais”, avalia.

Ao todo, Colpo e sua irmã, Camila, reúnem hoje 44.186 sócios na Boa Safra. Desse total, 43.736 são pessoa física, dado mais recente informado pela empresa. Apesar do modelo trazer volatilimandade, é mais ‘democrático’, classifica o empresário. Ele reconhece que a estrutura pulverizada traz maior demanda para o departamento de Relações com Investidores, mas, ao mesmo tempo, atrai maior cobertura da mídia, por exemplo, o que contribui para a divulgação da marca e a circulação de informações, cita. As dúvidas por parte de acionistas já levaram a Boa Safra a anunciar mais um diretor para o corpo administrativo: Felipe Marques chegou há cerca de dez dias para o posto de diretor financeiro e de RI. Com isso, Glaube Caldas, que acumulava cargos, poderá se dedicar apenas ao posto de diretor administrativo.

O desafio da diretoria neste momento é a execução do plano estratégico de cinco anos. Com o projeto, a empresa quer reforçar a presença em todas as regiões do país, incluindo o Sul, onde ainda não comercializa sementes. Parte do dinheiro captado na operação de IPO será destinado à expansão das fábricas de Goiás e Minas Gerais e à construção da unidade na Bahia, com início de atividades previsto para o ano que vem. As três obras estão em andamento.

Com o movimento, a capacidade produtiva de sementes de soja da empresa crescerá 70% entre 2020 e 2022. No ano passado, a produção somava 100 mil “bags” (cada uma com 5 milhões de sementes). A ideia de Colpo é abrir uma unidade por ano até 2026. O Valor apurou que, para outras quatro novas unidades, estão no radar da Boa Safra os Estados de Mato Grosso, São Paulo, Paraná ou Santa Catarina no Sul, e, no Nordeste, Piauí ou Ceará. Ter unidades em faixas climáticas distintas permite somar cultivares adaptáveis a solo e clima ao portfólio.

Neste ano, a Boa Safra adicionará 18 cultivares aos 32 materiais que já vendia. Nesse caso, as novidades resultam do investimento em licenciamento de novas biotecnologias, da Bayer (Intacta2) e da Corteva (Conkesta, Enlist). A expectativa de Colpo é que os lançamentos “estourem” a partir de 2023, quando a empresa terá mais volume disponível para a comercialização.

Por ora, o mercado aguarda que as expectativas se confirmem. Devido à sazonalidade do cultivo de soja, é no segundo semestre que a empresa efetivamente fatura o que tinha na carteira de pedidos. De acordo com o último balanço, esse valor somava R$ 546,4 milhões em pedidos para este ciclo, bem acima dos R$ 189 milhões registrados no segundo semestre do ano passado.