Fui convidado pela equipe da Gessulli para realizar uma coluna mensal para seus leitores de aves e suínos, sendo este o meu primeiro texto. Tenho uma relação de largo prazo com os editores desta revista, e agora faço parte de seus provedores de conteúdo. Este fato me enche de orgulho e tentarei contribuir com informações relevantes para nosso setor.
Iniciarei esta participação com um assunto de extrema importância, fazendo uma revisão sobre o controle de antibióticos como promotores de crescimento para a nutrição animal, bem como traçar uma expectativa de futuro para este tema. Minha intenção aqui não será abordar ferramentas alternativas aos antibióticos utilizados como promotores de crescimento, tema já fortemente abordado nesta revista. Quero trazer uma opinião pessoal sobre os condicionantes que nos fizeram chegar onde estamos, e assim gerar uma visão ampla dos fatos para estratégias de tomada de decisão futura.
O primeiro ponto que devemos ponderar sobre este tema refere-se sobre o momento vivemos hoje! Da Suécia, que foi o primeiro país no mundo a adotar tal política em 1986, até as publicações recentes que estamos observando no mercado Americano, passaram-se 30 anos. Desde 2012 existe uma farta literatura publicada pelo FDA1 e 2 e por entidades de pesquisas norte americanas sobre este tema. Quanto ao Brasil, fica claro a intenção do Ministério da Agricultura (MAPA) em restringir o uso destes compostos, como o texto contido na Instrução Normativa nº 45 de 20163; que acrescentou na lista de produtos proibidos para uso como promotores de crescimento o Sulfato de Colistina, elevando para 13 os grupos de substancias proibidas na alimentação animal.
Vejo que algumas destas proibições são um desserviço para nosso setor, em especial pelo impacto econômico que trará e por não ter amparo científico para que justifique tal investimento. Em uma revisão realizada por uma equipe de pesquisadores americanos5, após o banimento do uso de promotores de crescimento na indústria de frangos de corte da Dinamarca, o índice de conversão alimentar (CA) médio das indústrias elevou-se 0,016 g/g de Novembro de 1995 a Maio 1999 (1,780 a 1,796). Para se ter uma ideia, uma integração que abate 200 mil aves por dia, esta diferença geraria um incremento de consumo de 220 toneladas/mês para a produção do mesmo volume de carne. Para suínos, este incremento na CA representaria, em uma granja de 4000 matrizes, uma diferença de mais de 10 toneladas/mês apenas para a fase de recria e terminação (63 a 165 dias – 94 quilos de ganho) para a produção do mesmo volume de carne.
Já existem alternativas que permitem um avanço em desempenho suficientemente interessante para mitigar por completo esta perda de eficiência em desempenho. Porém, em quase todas alternativas, teremos um investimento no valor final de formulação, o que apenas transfere parcial ou totalmente este centro de custo.
Outro ponto importante a ser considerado é a falta da garantia científica de que o banimento será eficiente para redução de resistência bacteriana em humanos. Os antibióticos que são utilizados como promotores de crescimento geralmente possuem baixa absorção e, como consequência, exclusiva ação no ambiente intestinal do animal. Assim não são metabolizados e geram baixa ou nenhuma possibilidade de resíduo na carne.
Visto isso, até bem pouco tempo, o objeto principal nas discussões no mercado americano entre as empresas produtoras de proteína, entidades de classe e agências reguladoras governamentais era de avaliar os dados que já estavam sendo gerados em outros países (experiência europeia), e proceder com cautela permitindo que os órgãos reguladores científicos tomassem as decisões baseadas em avaliações tão sólidas quanto aos seus achados.
Esta pressão para o banimento, que até então sempre foi governamental, está mudando de mãos. Estamos vivendo um momento onde o principal motivador para avaliarmos a possibilidade produção de carne sem antibióticos promotores de crescimento vem do mercado consumidor. Boa parte desta nova “onda” é capitaneada pelos integrantes da Geração Y, ou Millennials.
Os Millennials são aquelas pessoas nascidas especialmente nos anos 90 (até o inicio dos anos 2000). Essa geração desenvolveu-se numa época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica. É importante notar que quase não existe pessoas da Geração Y no campo, sendo uma população ambientada predominantemente no meio urbano.
Esta geração quer principalmente produtos de alta qualidade, em especial aqueles que os façam parecer “bons consumidores”, preocupados com o futuro do planeta, entre outros aspectos. Querem consumir marcas que se orgulhem em recomendar a um amigo ou a família.
O mercado de alimentação já sofre estes impactos, em um estudo realizado pela agência de mídia do banco Morgan Stanley8, os Millennials representam 42% do mercado consumidor das 20 principais redes de fast food norte-americanas. Outro ponto importante é que dos 4,1 milhões de pessoas que trabalham nesta cadeia de fast food mundial, 60,7% possuem de 16 a 24 anos de idade, com apenas 36,4% entre 25 a 54 anos9. Infelizmente não possuímos tais estatísticas para o mercado brasileiro, mas sinceramente isso pouco importa, pois estas redes de fast food possuem suas matrizes geralmente localizadas nos Estados Unidos, onde as decisões estratégicas de relevância são tomadas para todo o grupo.
Uma delas é “aproximar” suas marcas cada vez mais de seu principal mercado consumidor, que neste caso são os Millennials, pessoas que buscam acima de tudo empresas que humanizam suas marcas. Isso ajuda a explicar o porque que a principal gigante do setor de fast food mundial vem realizando esforços para a compra de carne sem o uso de anbióticos promotores de crescimento já para 2019, sendo seguido pelos seus principais concorrentes!
Estamos vivendo um novo tempo, onde a pressão de mudança não é mais governamental e sim por uma característica do mercado consumidor. Seja esta justa ou não, ela existirá e precisaremos estar preparados. Isso vai alterar completamente a forma como trabalhamos em ambiência, patologia e nutrição. Está última profissão experimentará uma mudança profunda, o nutricionista deverá se dedicar cada vez mais a nutrologia, reduzindo o impacto dos fatores antinutricionais das dietas dos animais e promovendo a saúde intestinal como consequência direta.
Por tudo isso, afirmo que não estamos simplesmente vivendo uma “época de mudanças” e sim vivemos uma verdadeira “mudança de época”. Sem dúvida, é tempo de nos reinventarmos!
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