A saída de Neri Geller do Ministério da Agricultura pode aliviar a situação do governo diante da repercussão negativa do leilão para compra de arroz importado, mas também abre um vazio em uma das principais secretarias da Pasta a apenas duas semanas do lançamento do novo Plano Safra 2024/25.
O ministro Carlos Fávaro perde um articulador político hábil em Brasília para as questões do agronegócio e a principal conexão do ministério com o setor produtivo brasileiro, em uma relação que já vinha se desgastando desde a campanha eleitoral.
A Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Ministério da Agricultura tem um papel crucial na elaboração do Plano Safra, a principal política de crédito para o setor. Com o lançamento do novo plano previsto para daqui a duas semanas, a vacância no cargo gera especulações sobre como serão conduzidas as definições de orçamento, taxas de juros e volume de recursos para financiamentos da agricultura empresarial a partir de julho.
Apesar disso, há confiança nos quadros técnicos da secretaria. O nome de Wilson Vaz de Araújo, servidor de carreira com vasta experiência na área, é o mais citado para assumir as responsabilidades do Plano Safra neste momento. Ainda não há definição se outra pessoa será nomeada para o cargo definitivo posteriormente.
A SPA é responsável não apenas pela elaboração do Plano Safra, mas também pela gestão do seguro rural, pela operacionalização das ações para comercialização agrícola e pelo equilíbrio de preços no país, entre outras atribuições. A ausência de um titular efetivo no cargo durante grande parte do ano passado já gerou desafios, e a saída de Geller agora adiciona novas incertezas ao processo.
Geller, que foi ex-ministro da Agricultura de Dilma Rousseff, foi nomeado secretário após um período de impedimento judicial. Desde então, ele desempenhou um papel importante no ministério, articulando demandas do agronegócio e promovendo reuniões em Brasília e em viagens pelo país com líderes do setor.
Sua demissão, comunicada por Fávaro, ocorreu em meio a pressões relacionadas ao leilão de arroz importado, no qual foram identificadas possíveis irregularidades. A empresa Wisley A de Sousa Ltda, principal arrematante do leilão, lamentou a decisão de anular o certame, destacando que estava pronta para colaborar com o abastecimento do país.
A repercussão negativa do caso levou o presidente Lula a cobrar ação do governo para garantir melhores preços na alimentação básica.
A promessa é de um novo edital, com regras mais rigorosas para evitar fragilidades técnicas e econômicas entre os participantes. Entretanto, a incerteza persiste, especialmente em relação à vigência da isenção para importação de arroz de fora do Mercosul, que permanece válida até o final do ano.