Ao desembarcar no Parque de Exposições Assis Brasil, na manhã de ontem (30/08), para cumprir uma agenda de quatro horas na Expointer 2009, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes mostrou que estava preparado para amenizar a polêmica entre governo e agricultores, um dia depois de o colega Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário, ter desagradado aos produtores ao defender a revisão dos índices de produtividade utilizados para reforma agrária.
“Eu sei o que me espera”, disse Stephanes, ao ser abordado por jornalistas logo na chegada ao parque, reconhecendo que a polêmica dominaria sua passagem por Esteio (RS).
Os primeiros compromissos no parque foram cumpridos rapidamente. Ficou apenas 10 minutos em uma cerimônia no estande do Ministério de Agricultura e outros 10 na solenidade em que recebeu homenagem da Bolsa Brasileira de Mercadorias no Estado.
A ideia era deixar tempo para apaziguar os produtores e combater o incêndio das discussões entre Cassel e o deputado Ronaldo Caiado (DEM/GO), no sábado, na Casa RBS. Com passos largos e rápidos, o ministro foi até o primeiro encontro com o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, antes de protagonizar uma rara participação de ministro no Freio de Ouro.
Depois, foi para uma reunião fechada com cerca de 150 representantes de sindicatos rurais do Interior. Stephanes não foi interrompido pelos produtores distribuídos em grandes mesas circulares, que o ouviram expor, por cerca de 20 minutos, a posição sobre a revisão dos critérios que permitem desapropriar uma fazenda. Afirmou que a portaria está longe de ser publicada, contrariando a expectativa criada por Cassel de que ocorreria nos próximos dias. Disse não ter assinado o documento, que depende de avaliação do Conselho Nacional de Política Agrícola.
Em seguida, provocou os produtores da agricultura empresarial a se unirem e manifestarem a contrariedade em relação à revisão dos índices em Brasília.
“Isso demonstrou certo isolamento dele, que precisa da mobilização”, comentou o presidente do Sindicato Rural de São Gabriel, Tarso Teixeira. “Ele mostrou que é sensato, que é preciso debater mais o tema”, completou Maria Helena Ferreira, presidente do Sindicato Rural de Pelotas. Ruralistas apontaram visita como luz no fim do túnel
A visita de Stephanes também agradou pelo fato de o ministro ter se mostrado contrariado com a proposta do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Não é o momento de revisar (os índices de produtividade), já que temos uma crise mundial. Grandes mudanças trariam mais instabilidade ao campo”, sustentou o ministro.
Embora considere o momento inadequado, Stephanes disse que cabe ao presidente Lula um eventual adiamento. Por enquanto, a ideia é de que o Ministério da Agricultura proponha mudanças, corrigindo pontos considerados falhos. Um é o fato de considerar apenas o uso físico da terra, sem considerar preço e mercado, que podem levar os produtores a plantar menos quando os preços estão baixos.
“Lula está aberto a ouvir e pode apoiar a mudança se convencido de que prejudicaria os produtores”, teria dito Stephanes no encontro fechado, segundo Teixeira.
A posição dos produtores está em carta entregue por Sperotto: “O anúncio de Cassel causa tumulto e gera insegurança na classe produtora rural, visto que fulmina, se implementado, qualquer planejamento empresarial”.
À imprensa, Stephanes evitou criticar Cassel. Sobre a possibilidade de deixar o cargo, caso o presidente Lula e o restante do governo pressionem pela confirmação da mudança nos índices, Stephanes desconversou. “Prefiro não discutir essa hipótese”.