Em seminário promovido nesta quinta-feira pelo Valor, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, disse que vai propor na COP26, que começará no dia 31 em Glasgow, na Escócia, “mais ambição financeira para incentivar programas como o etanol brasileiro”. Ele defendeu o uso do biocombustível em larga escala como forma de reduzir as emissões de carbono e do carro a combustão por etanol como alternativa ao carro elétrico.
Segundo o ministro, é preciso olhar para o carro elétrico de uma forma ampla, com uma percepção global, de forma a perceber que a infraestrutura necessária para torná-lo viável ainda é muito frágil. “Não temos cidades com tem uma tomada a cada quarteirão no mundo, nem no Brasil”, afirmou. Para ele, o etanol é uma solução de “emprego verde” para o Brasil e para países com mão de obra menos qualificada, como os africanos.
Também no evento, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, reforçou que o Brasil terá a oportunidade de posicionar o etanol como alternativa de mobilidade sustentável durante a COP26. Ela disse que não é possível desprezar o advento dos carros elétricos, mas que o país não pode perder a oportunidade de expandir e exportar o uso do biocombustível — “uma tecnologia limpa, mais barata e mais conveniente” — para o mundo.
Segundo ela, o Brasil precisa de mais parceiros no segmento. Como a Índia, que vem implementando um programa de produção de etanol. Tereza Cristina contou que o presidente da Colômbia, Ivan Duque Márquez, em visita ao Brasil esta semana, mostrou entusiasmo em elevar o plantio de cana em seu país para produzir o biocombustível.
“Uma jabuticaba brasileira que precisamos exportar para o mundo”
De acordo com o CEO da montadora Volkswagen para a América Latina, Pablo Di Si, disse que o etanol é uma “jabuticaba brasileira que precisamos exportar para o mundo”. Ele ressaltou os planos da empresa na Europa para eliminar os motores a combustão e migrar para o sistema elétrico até 2030, mas ponderou que em outros lugares do mundo a realidade é diferente, o que abre oportunidades para os biocombustíveis.
A Volkswagen quer fazer do Brasil um centro de pesquisa e desenvolvimento em biocombustíveis. “O Brasil está em um momento chave de criar uma política pública olhando para os próximos 20 anos e para transformar etanol em célula combustível”, pontuou. “O etanol tem muito a oferecer para o mundo, como sociedade, e precisamos comunicar cada vez mais o entendimento do etanol na cadeia como um todo. Olhar do posto à roda, o consumo total de CO2, independentemente de como sai do escapamento”.
África e Ásia
“O etanol pode revolucionar uma série de países da África e da Ásia que temos mapeado. Não é exportar etanol para lá. Significa levar o know how, a tecnologia, a capacidade de políticas públicas ultra inteligentes que o Brasil aprendeu a desenvolver nisso”, disse o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Evandro Gussi. “Nosso inimigo não é tecnologia ‘A’ ou ‘B’, mas o carbono. É ele que temos que evitar, e só vamos fazer com várias soluções”, acrescentou.
Segundo a Unica, a introdução dos carros flex no Brasil e o maior uso de etanol, desde 2003, já evitaram a emissão de 500 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera. Gussi afirmou que o país faz o dever de casa na área ambiental e que poderá mostrar isso em Glasgow. Ele ponderou que o plantio de cana ocorre longe da Amazônia e que o segmento sucroenergético é o que mais planta árvores no país.
O caso de sucesso do etanol será bastante explorado na COP26 pelo governo e pelo setor produtivo. “Nós não temos uma tomada numa árvore na Amazônia ou no meio da caatinga para carregar um veículo elétrico. Mas, provavelmente, você vai ter acesso a um posto de gasolina que já tem o etanol, que vai carregar a bateria do seu veículo híbrido”, exemplificou o ministro Joaquim Leite.
Acordo do Clima
Ele defendeu o uso do etanol em escala global, “indo para a África e para a Ásia”. E os países que vierem a adotá-lo não serão apenas novos mercados para a vender do biocombustível, mas participantes do Acordo do Clima que querem contribuir para encontrar soluções para os problemas climáticos mundiais.
Tereza Cristina também defendeu a produção de etanol de milho, com a geração de subprodutos aproveitáveis na pecuária, a conversão de pastagens degradadas em lavouras de cana para geração do biocombustível e incentivos ao biogás e biometano. “Precisamos de uma política sólida, baseada na visão estratégica do potencial do Brasil e na perspectiva de desenvolvimento do cenário global”, afirmou. “É um processo de ganha-ganha, mas temos que trabalhar mais. Apesar das nossas emissões serem muito baixas, temos muito a contribuir para a redução global”.