Redação (29/06/06)- A demissão do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ao mesmo tempo em que surpreende a assessoria dele, é uma morte anunciada desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Rodrigues foi convidado a ser ministro numa situação tão inusitada quanto foi a permanência na administração federal até ontem.
Na época, o então agricultor bem-sucedido e referência no setor agrícola deixou claro que não era petista, que não tinha votado em Lula e que, portanto, a gestão à frente do ministério seria de defesa intransigente do setor que representava.
Essa autodefinição prevaleceu e ele, ao longo desses quase quatro anos de governo, enfrentou sucessivas crises com o Poder Executivo e a área econômica. As dificuldades com o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci e agora com o atual ministro, Guido Mantega, têm a mesma linha: o excessivo contingenciamento dos recursos destinados à agricultura. Rodrigues, apesar dos embates com Palocci, sentiu na pele o afastamento dele. Palocci, segundo fontes do setor, oferecia resistência às investidas do ministro da Agricultura por mais verbas, mas mantinha aberto o diálogo.
A mudança de comando na economia reforçou uma postura contra a qual sempre se rebelou – a visão de que o setor é oportunista e caracterizado por empresários que não gostam de pagar as dívidas. “O governo PT começou com a saída do Palocci”, reagiu ontem um empresário.
Rodrigues argumentou com o presidente questões de saúde da mulher dele, Heloisa Rodrigues, mas, no Executivo, era comentário corrente ontem que “ninguém acredita nisso”. “Todo mundo sabe que não é isso”, disse um assessor palaciano.
Ao longo desses três anos e 6 meses à frente da pasta, o ministro enfrentou sucessivos cortes e atrasos no repasse de recursos para o financiamento da safra e a ineficiência de uma política agrícola sem foco na ação preventiva. Por isso, as dificuldades na área de defesa sanitária e o retorno da febre aftosa.
No Congresso, Rodrigues não constituiu “a bancada do Rodrigues”, embora os ruralistas parlamentares preferissem tê-lo como ministro a um político do PT, motivados por um sentimento pragmático: a gestão petista cultivava a simpatia pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pelas invasões das propriedades rurais e não pelos
agricultores.
O ministro deixa a administração federal com o sentimento de que a permanência “evitou o pior” para a agricultura. A partir de agora, Lula passa a conviver com a vulnerabilidade numa área sensível porque, segundo técnicos, existe uma crise agrícola prenunciada, exatamente pela escassez de dinheiro dos últimos anos.
Rodrigues brigava nos bastidores – e até publicamente – pelos agricultores e, dessa forma, conseguia conter os ânimos daqueles que trabalhariam, dentro do Palácio do Planalto, para comprometer a imagem do setor. A saída dele, às vésperas do início da campanha eleitoral, não é boa para o Planalto, apesar de ter anunciado, recentemente, que não ficaria num segundo mandato do presidente, de jeito nenhum. Mas coincide com o início de uma negociação política de apoio da bancada ruralista à reeleição.