Depois de um ano de testes e resultados “fantásticos”, quando foram plantados “somente” 400 hectares de algodão e 100 de soja, o produtor sul-mato-grossense Gilson Pinesso pretende “partir de corpo e alma” em 2011 para o longínquo país africano do Sudão, plantando 20 mil hectares de algodão, 10 mil de soja e 10 mil de milho. A previsão é de que sejam investidos em torno de US$ 80 milhões de dólares na aquisição de maquinários, fertilizantes e sementes. E o desembolso só não é maior porque não é necessário comprar terras, que são públicas e cedidas gratuitamente pelo governo para aqueles que quiserem produzir, conforme Pinesso.
Neste primeiro ano, ele levou somente três brasileiros para cuidar das lavouras. No próximo, principalmente no período do plantio, pretende arregimentar pelo menos 40. Destes, dez devem permanecer em tempo integral, principalmente técnicos e administradores para supervisionar o desenvolvimento das lavouras.
Embora o Sudão fique “do outro lado do mundo”, a viagem não é nenhum bicho de sete cabeças. “Em 15 horas estou lá”, revela o agricultor, que vez ou outra leva este mesmo tempo para se deslocar de uma fazenda para outra aqui no Brasil, já que a família cultiva em torno de 80 mil hectares em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e no Piauí. Em média a empresário rural visita a África a cada 60 ou 70 dias.
O deslocamento compensa porque os custos de produção são inferiores, a logística de venda é melhor e preços são superiores. A saca de soja está cotada a US$ 32 ou US$ 33 no mercado interno, já que o Sudão importa praticamente tudo o que consome, ante US$ 26 pagos em Mato Grosso do Sul. Mas, a produção ainda é menor, dois mil quilos por hectare na África, contra 3,2 mil no Brasil. Isto, porém, deve mudar logo, acredita ele, pois sementes estão sendo adaptadas ao clima local e em duas ou três safras a produtividade deve ser semelhante à brasileira. A diferença, porém, é o custo de produção. Aqui gasta-se em torno de US$ 800 por hectare, ante US$ 350 necessários no país muçulmano.
No caso do algodão, produto que nunca na história teve cotação tão alta quanto agora, R$ 95 a arroba, a diferença é ainda maior. Nas terras sul-mato-grossenses ou mato-grossenses são necessários em torno de 1,5 mil quilos de fertilizantes, contra um terço disto, na férteis áreas do Rio Nilo, região central do maior país africano e décimo maior do mundo, com cerca de 2,5 milhões de quilômetros quadrados. No Brasil, são necessárias 22 aplicações de agroquímicos por safra, contra seis em Agadi. Os sudaneses plantam com US$ 850 por hectare, enquanto no Brasil são cerca de US$ 1,9 mil. Além disso, o algodão produzido por lá, fica a 400 quilômetros do porto e dali está no mercado asiático em questão de dias. E, tanto lá quanto cá colhem-se de 3,5 a 4 mil quilos por hectare. De Mato Grosso até os portos mais próximos são em torno de dois mil quilômetros e depois mais algumas semanas para atravessar o Atlântico. Isto tudo torna o produto africano bem mais competitivo e lucrativo.