Deve ter sido uma época muito boa aquela em que nossos ancestrais se alimentavam da caça e da coleta, de maneira versátil e oportunista, sem terem que se preocupar com rótulos, calorias, gordura, quantidade, fibras, vitaminas ou suplementos. A única preocupação deles no campo da nutrição era a de encontrar comida e quando a encontravam, comiam, sem discussões nutricionais. Obter comida e comer era instintivo, assim como a fome que atendiam era real. É presumível que a atividade caçadora-coletora fornecia a nutrição ideal.
Hoje, um ato tão natural como o de simplesmente se alimentar, foi corrompido e transformado em um palco para inúmeras discussões, análises, debates, estudos, desavenças e etc. Todos os dias surgem estudos que embasam manchetes sensacionalistas e bizarras nos portais de notícias do país. Em meio a tanta informação e desinformação, o homem médio não sabe mais o que comer, quanto comer, onde comer, porque comer.
Caçar e coletar talvez fosse mais fácil que percorrer os corredores dos supermercados e entender tantas classificações para os alimentos. Um ancestral certamente ficaria confuso ao se deparar com produtos “light, diet, fit, zero, sem gordura, natural, orgânico, multigrão, low fat, baixo teor de sódio, produto vegano, aninal free”, todos empacotados ou ensacados.
Nossos ancestrais também se alimentavam sem o exagero perfeitamente possível hoje, já que o nosso limite alimentar não tem mais relação com a disponibilidade da natureza, mas com a disponibilidade da prateleira do supermercado, cada vez mais farta, prática e não sazonal.
A verdade é que nunca se falou tanto sobre alimentação, saúde e nutrição, o que seria ótimo se o público estivesse realmente sendo bem informado, mas infelizmente não é o que acontece.
O nascituro dos tempos modernos pode não saber, mas ao vir ao mundo, sua vida nutricional já foi previamente desenhada e definida por grandes companhias e ratificada por entidades governamentais. Enquanto no peito da mãe, estará recebendo nutrição adequada, dali em diante, muito provavelmente entrará no fluxo de qualquer cidadão comum, recebendo sustento deficiente e proveniente em sua grande parte de substâncias comestíveis, quando na verdade, tudo que seu corpo efetivamente precisava era de comida de verdade, especialmente ou até mesmo exclusivamente de alimentos de origem animal.
De uns tempos para cá vemos nas propagandas de canais de televisão, revistas e internet diversas “opiniões de especialistas” sobre o que devemos ou não comer – dietas com alto ou baixo carboidrato, consumo de grãos ou comida sem glúten, inclusão de carne ou veganismo e por aí vai; uma discussão interminável que nos coloca em 2019 D.C ainda tentando descobrir como é que devemos nos alimentar enquanto espécie.
O que se observa é que a maior parte dos conselhos promove nossas escolhas alimentares como uma simples decisão binária: coma isso, não coma aquilo; isso é bom para você, isso é ruim, mas o problema é que na maioria das vezes são justamente os alimentos mais saudáveis que são condenados, como as carnes, ovos, queijo e manteiga e quando não são demonizados com foco na exclusão, o apelo é para que haja uma drástica redução do consumo.
Por estarmos distantes do nosso passado em termos evolutivo, as decisões que tomamos sobre o que comer ou não, agora também são baseadas em costumes culturais, práticas religiosas, preocupações éticas, gênero, estágio da vida e estado de saúde, localização geográfica, economia, preferências familiares e individuais e esses fatores desempenham um papel nas seleções que fazemos.
Em meio a tudo isso, a carne se tornou um bode expiatório para defensores comerciais e ambientais, em discursos muitas vezes baseados em más ciências.
É importante voltarmos na história se quisermos ter pistas de como devemos nos alimentar para obter a melhor saúde possível e fazendo isso prontamente nos damos conta de que nossos ancestrais evoluíram para serem superpredadores e compartilharam conosco uma estratégia de sobrevivência fundamental para nossa espécie por milhões de anos.
Então, será que nós realmente temos uma escolha sobre comer carne ou não nos dias de hoje?
A cultura é uma força onipresente quando se trata de fazer escolhas sobre alimentos. Todas as sociedades humanas, desde caçadores-coletores a pós-industriais como a nossa, têm preferências e modismos alimentares, ou restrições e tabus; o problema é que enquanto as escolhas anteriores foram acertadas e nos trouxeram até aqui em termos de perpetuação da nossa espécie, as nossas decisões atuais estão colocando a civilização humana em rápido declínio.
Agora nós comemos coisas porque elas têm um gosto bom, mesmo que sejam ruins para nós. Outras coisas que evitamos têm benefícios comprovados para a saúde, mas talvez simplesmente não sejam tão saborosos ou palatáveis e por isso ficam de fora de nossos cardápios – o caso das vísceras de animais por exemplo.
Os que fogem do fast-food e dos alimentos processados e ultraprocessados, esbarram em conselhos dietéticos bem-intencionados, mas uma quantidade substancial deles é enganosa e frequentemente cheira a anti-intelectualismo.
O debate sobre a carne e se nós humanos evoluímos para comê-la deve ser um dos melhores exemplos disso, já que argumentação em desfavor das carnes tenta reescrever nossa história evolutiva invocando a pseudociência.
Não importa o que os veganos ou vegetarianos mais militantes gostariam de pensar, há uma abundância de evidências científicas de que nós, humanos, dependemos do consumo de alimentos de origem animal em nossas dietas.
Nossos ancestrais eram caçadores extremamente qualificados, a carne era amplamente consumida e altamente valorizada e enquanto variavam consideravelmente em termos de quantidade de carne que consumiam, nenhum deles era vegetariano ou vegano. Essas dietas simplesmente não teriam opções disponíveis ou viáveis ??para que fossem adotadas.
Nossa estratégia humana ecológica e de história de vida evoluiu em torno da aquisição e compartilhamento de alimentos difíceis de capturar, mas grandes, como grandes mamíferos e peixes.
Os seres humanos são biologicamente adaptados a uma dieta que inclui carne. Os achados arqueológicos sugerem que os hominídeos estavam abatendo animais com ferramentas de pedra há 2,5 milhões de anos. Ossos massacrados e destruídos da mesma época indicam claramente que os humanos primitivos estavam massacrando grandes mamíferos em busca de alimento.
Para construir e manter um cérebro mais complexo, nossos ancestrais usavam ingredientes encontrados principalmente na carne, incluindo ferro, zinco, vitamina B12 e ácidos graxos.
Embora as plantas contenham alguns nutrientes, eles ocorrem em quantidades mais baixas e geralmente em uma forma que os humanos não podem usar prontamente.
Por exemplo, a carne vermelha é rica em ferro derivado da hemoglobina, que é mais facilmente absorvida do que a forma não-heme encontrada nos feijões e folhas verdes. Além disso, os compostos conhecidos como fitatos se ligam ao ferro e bloqueiam sua disponibilidade para o corpo.
Como resultado, a carne é uma fonte dietética muito mais rica de ferro do que qualquer alimento vegetal.
As implicações disso para a saúde cognitiva são enormes. Existe uma ligação clara, mas subestimada, entre a carne e a mente. Deficiências nos micronutrientes encontrados na carne têm sido associadas a distúrbios relacionados ao cérebro, incluindo baixo QI, autismo, depressão e demência.
O ferro é crucial para o crescimento e ramificação dos neurônios; o zinco é encontrado em altas concentrações no hipocampo, uma região crucial para aprendizado e memória; a vitamina B12 mantém as bainhas que protegem os nervos; e os ácidos graxos ômega-3, como o ácido docosahexaenóico (DHA), ajudam a manter os neurônios vivos e a regular a inflamação.
Com o tempo, nossa capacidade de converter o ácido alfa-linolênico (ALA) do ácido graxo ômega-3, encontrado nas plantas, nas formas de ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA) biologicamente importantes (encontradas principalmente em frutos do mar, mas também em carne), ovos e laticínios; tornou-se bastante reduzida em comparação com outros primatas.
Quando se trata de praticamente todas as outras espécies, geralmente tomamos como garantido que ela prosperará melhor com uma dieta que se assemelha aproximadamente à que foi adaptada. Seria algo surpreendente se o homo sapiens se tornasse uma exceção tão espetacular a esse princípio.
No entanto, o discurso principal da nutrição geralmente retrata a carne como um desastre para a saúde, sugerindo que ela pode ser facilmente substituída por vegetais/frutas e suplementos de vitamina B12, sendo que a confusão adicional é gerada por deturpações sensacionalistas das evidências científicas nos meios de comunicação de massa.
Esses dados são, em grande parte, gerados a partir de estudos observacionais no domínio da epidemiologia nutricional, cujas limitações são desconhecidas pelo público leigo e pasmem, até mesmo por muitos profissionais da área da saúde.
Os estudos epidemiológicos (observacionais) apenas podem levantar hipóteses, mas não podem estabelecer causa e efeito.
A verdade é que ao longo da história humana, a carne forneceu uma ampla gama de nutrientes valiosos que nem sempre são facilmente obtidos (ou obtidos) a partir de materiais vegetais, como especialmente lisina, treonina e metionina, vitaminas B (com a vitamina B12 restrita apenas a fontes animais), vitaminas A, D e K2 (principalmente por meio de carnes de órgãos) e vários minerais.
Apesar de ser negligenciada na maioria das avaliações nutricionais, a carne também contém vários componentes bioativos como a taurina, creatina, carnosina, bem como ácido linoléico conjugado, carnitina, colina, ubiquinona e glutationa.
Esses componentes podem oferecer importantes benefícios nutricionais, por exemplo, no que diz respeito ao desenvolvimento ideal das funções cognitivas.
Os defensores das dietas vegetarianas / veganas geralmente admitem que essas dietas devem ser “bem planejadas” para serem bem-sucedidas, o que envolve suplementação regular com nutrientes como a vitamina B12. No entanto, realisticamente, muitas pessoas não são diligentes em relação à suplementação e frequentemente mergulham em faixas deficientes ou limítrofes se não obtiverem nutrientes de sua dieta regular, o que inclusive é mais desejável, já que alimentos sólidos e reais devem ser a principal escolha para todas as formas de macronutrientes e micronutrientes. Em relação a qualquer dieta, se você tiver que suplementar algo, então por definição a sua dieta é inadequada.
A principal preocupação é que evitar ou minimizar demais o consumo de carne possa comprometer a entrega de nutrientes, especialmente em crianças e outras populações vulneráveis.
Evidentemente, quanto mais restrita a dieta e menor a idade, mais esse será um ponto de atenção, pois mesmo dietas vegetarianas ou veganas que incluem suplementação diligente podem colocar as crianças em risco de deficiências e comprometer a saúde a curto e longo prazo.
De forma bastante crítica, uma dieta vegana pode “emburrecer” a inteligência da próxima geração, já que uma dieta baseada em plantas carece de colina, por exemplo e este é um nutriente essencial para o desenvolvimento mental e que é encontrado principalmente em carne bovina, ovos, laticínios, peixe e frango.
A crescente popularidade das dietas veganas e à base de plantas corre o risco de diminuir a ingestão de um nutriente essencial para a saúde do cérebro, encontrado principalmente em alimentos para animais.
Atualmente muitos milhões de pessoas hoje sobrevivem com dietas com pouca carne ou sem carne, por opção ou não. Nesse sentido, o vegetarianismo ou o veganismo são como qualquer outra escolha alimentar culturalmente situada.
Deve ser entendido e respeitado como tal, porém não pode ser explicado recorrendo a uma narrativa específica de nosso passado evolutivo, tampouco justificado em termos de melhor saúde, já que ambas as dietas podem desencadear o deterioramento dela.
No final, a queixa não é com vegetarianos ou veganos, mas com pessoas que se propõem a promover suas crenças apelando ao anti-intelectualismo. Pessoas desonestas que evitam a evidência e contestabilidade de idéias que estão no cerne da ciência para ganhos pessoais, políticos ou financeiros.
Esses especialistas nomeados pretendem nos enganar deliberadamente usando a pseudociência para construir sua própria versão do nosso passado.
As alegações sobre os perigos para a saúde da carne não são apenas improváveis à luz de nossa história evolutiva, mas estão longe de serem apoiadas por evidências científicas robustas.
A carne tem sido, e continua sendo, uma fonte primária de nutrição de alta qualidade. A teoria de que ela pode ser substituída por vegetais e/ou suplementos é mera especulação.
Embora a carne tenha sido um componente central da dieta de nossa linhagem há milhões de anos, algumas autoridades nutricionais – que frequentemente têm conexões estreitas com ativistas dos direitos dos animais ou outras formas de vegetarianismo ideológico, como o adventismo do sétimo dia estão promovendo a visão de que a carne causa uma série de problemas de saúde, com base em argumentos que em grande parte se baseiam em evidências colhidas em estudos observacionais de baixa qualidade. A afirmação de que a carne é um “alimento não saudável” é extremamente sem suporte.
Com base em declarações falsas do estado da ciência, algumas organizações estão tentando influenciar os formuladores de políticas a tomar medidas para reduzir o consumo de carne.
O endosso oficial de dietas que evitam produtos de origem animal como opções saudáveis ??representa um risco que os formuladores de políticas não deveriam correr, sendo alarmante em países desenvolvidos encontrarmos situações em que a saúde de uma criança é posta em risco pela desnutrição, não por problemas econômicos, mas por causa das escolhas ideológicas dos pais. Se não bastassem pessoas jovens e adultos sofrendo com uma infinidade de problemas de saúde, até mesmo as crianças estão sendo afetadas por conta de tomadas de decisões equivocadas a respeito de nutrição.
Recomendações bem-intencionadas, ainda que exageradas e prematuras, podem eventualmente causar mais danos do que benefícios, não apenas fisiologicamente, mas também responsabilizando injustificadamente os indivíduos por seus resultados de saúde.
Uma redução no consumo de carne pode causar sérios danos, mas estamos sendo diariamente alienados para perseguimos esse caminho, optando por produtos de origem vegetal, alimentos processados e ultraprocessados, ao passo em que se deixa de lado os alimentos que melhor fornecem nutrição ao corpo, que são os de origem animal.
A palavra “alienação” vem do latim alienus, e significa “algo que vem de outra pessoa”. Já “alienação social” é um termo que se refere à maneira pela qual membros de uma sociedade tornam-se padronizados e perdem – ainda que parcialmente – seu senso crítico.
A forma mais eficiente de combater a padronização e a falta de senso crítico, ambas reflexo de uma vida de imposição de senso comum, é munindo-se de conhecimento, desafiando a realidade, rebatendo crenças e suposições populares edificadas.
A epidemia de problemas de saúde que enfrentamos hoje no mundo deixa muitíssimo claro que estamos fazendo escolhas erradas por alimentos desprovidos de densidade nutricional e gorduras saudáveis.
O fato objetivo da questão é que as plantas não contêm os nutrientes necessários para o seu corpo e ele também não tem mecanismos para extrair os nutrientes das plantas de maneira eficiente. Não acredite na propaganda de que uma dieta à base de plantas seja a melhor solução para a sua saúde ou para o planeta.
Não somos mais caçadores-coletores e nosso estilo de vida está tão distante do de nossos ancestrais quanto se pode imaginar, mas precisamos nos adaptar às nossas circunstâncias em mudança e encontrar uma dieta que suporte a nossa vida saudavelmente, como sempre fizemos como espécie.