Redação AI (08/03/06)- O Brasil está se preparando para a possível entrada do vírus da gripe aviária no país por meio da prevenção, detecção e diagnóstico rápido em aves.Os controles de importação de material genético estão mais rigorosos, a importação de aves ornamentais e de companhia está proibida. Foram intensificados os controles nos portos e aeroportos para evitar a entrada de produtos avícolas não autorizados. Todos os dejetos de aviões e navios são incinerados. Periodicamente, laboratórios credenciados fazem exames sorológicos nas aves comerciais. Além disso, qualquer caso suspeito da doença em aves silvestres ou em frangos deve ser notificado e encaminhado para laboratórios capazes de identificar a causa do problema. Tudo isso, conforme explicou o professor Ariel Mendes, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu, para que eventuais casos de gripe aviária – se ocorrerem -causem o mínimo de impacto econômico no país.
Por enquanto, essa é a principal preocupação dos especialistas, garantiu o professor que participou hoje de uma entrevista coletiva na sede da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Paulo, para esclarecer a população sobre a doença. Ariel Mendes frisou que a gripe aviária é uma doença de aves, causada pelo vírus H5N1, que não existe nas Américas. Outras variantes desse vírus, que não têm a mesma patogenicidade, existem de forma endêmica em aves do México, Guatemala e outros países, mas não no Brasil que é considerado um dos maiores exportadores de aves do mundo. Mendes, que também é vice-presidente técnico-científico da União Brasileira de Avicultura (UBA), explica que, além disso, as associações estaduais de avicultura e a própria UBA mantêm um sistema permanente de consultas, notificações e trocas de informações sobre esse assunto. “Analisamos uma média de dois a três casos suspeitos por semana, mas até agora não tivemos nenhum confirmado”, tranquilizou. “As suspeitas foram sempre motivadas pela preocupação gerada pelos casos na Ásia e serviram mais para testar a estrutura de defesa do país.”
Da mesma forma, o país analisa qualquer possibilidade de gripe aviária em humanos. Segundo explicou o professor José Cerbino Neto, médico infectologista e coordenador do centro de internação do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, da Fiocruz, também presente na entrevista coletiva, o Brasil está alerta para enfrentar casos esporádicos de pessoas que vieram de outros continentes onde o vírus está presente. Até agora só houve um caso suspeito em janeiro de uma pessoa que esteve na China e voltou com sintomas de gripe. Foram realizados exames e constatou-se que essa pessoa não era portadora do H5N1, mas tinha uma gripe comum.
Cerbino Neto explicou que os casos humanos existentes na Ásia foram devido ao contato direto das pessoas com fezes e sangue de aves contaminadas. O H5N1 não é transmitido de pessoa para pessoa e nem pelo consumo de carne de aves e ovos:o processo de fritura ou cozimento do alimento elimina o vírus. O que os especialistas mais temem, porém, é que, de uma hora para outra, o vírus sofra alguma mutação e comece a ser transmitido entre humanos, como ocorreu nas grandes epidemias do passado. Segundo Edison Luiz Durigon, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, as vacinas hoje existentes, desenvolvidas para proteger as pessoas durante epidemias sazonais de gripe comum, não seriam eficazes para a gripe aviária. O Instituto Butantan está estudando a fabricação de uma vacina, como outros países, que poderá estar pronta em 2007. Enquanto isso, diz Cerbino Neto, a estratégia é ficar alerta para o possível aparecimento de casos.