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O consumidor quer transparência

Por Roberta Züge; diretora administrativa do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS); Vice-Presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários do Paraná (SINDIVET); Médica Veterinária Doutora pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP); Sócia da Ceres Qualidade

O consumidor quer transparência

O grupo Casino, empresa de grande varejo presente na França e em outras regiões, com milhares de pontos de venda, desenvolveu um sistema de referência de 230 critérios para medir o bem-estar de frangos de corte, itens que vão do nascimento ao abate.

O sistema tem classificação de D a A, com um selo semelhante ao de eficiência energética que temos no Brasil e, nos mesmos moldes, fica na embalagem do produto.  Sendo o A de melhor qualificação e o D o padrão convencional.

O qualificado como D “convencional”, ou seja, o que é praticado e não atende aos critérios estabelecidos pelo C. Também, o D não passa por auditorias de verificação de controles. O nível C corresponde a um “bom”. Por conseguinte, apresenta uma série de garantias em termos de melhoria do bem-estar animal (BEA). Exemplos incluem a taxa de crescimento (intermediária a lenta), um aumento do espaço para os animais de 40% comparado ao mínimo legal, a presença de poleiros, luz natural, um tempo máximo de transporte de 8 horas. Há o compromisso da transportadora em respeitar o bem-estar animal e o atordoamento antes do sangramento.

O nível B (“muito bom”) reforça certos critérios do nível C, mas já amplia o espaço extra em 53% e o tempo máximo de transporte para 6 horas. Ele também define um tempo de vida mínimo (56 dias) e requer acesso para aves domésticas ao ar livre. Assim, o nível B não pode ser um sistema de confinamento como é praticado na maioria das granjas. Por fim, exige que os matadouros estabeleçam um controle por vídeo nas áreas de manuseamento de frangos vivos.

Por fim, o nível A (“superior”) impõe bônus de crescimento lento, uma vida mínima de 81 dias, com ampliação de espaço em 68%, quando comparado ao mínimo legal e um tempo máximo de transporte de três horas. Esta rotulagem, de acordo com o Grupo Casino, é o fruto do trabalho realizado pela empresa e uma centena de agricultores e três associações de proteção animal, nomeadamente a França Compassion in World Farming (CIWF França), a Fundação Lei Saúde Animal, Ética e Ciência (LFDA) e a Associação de Assistência às Feras de Abate (OABA). A rotulagem diz respeito ao frango inteiro e cortado da marca Casino Terre & Saveurs. Os primeiros produtos foram etiquetados e já estão à venda desde 10 de dezembro.

A marca está montando um site dedicado para expandir as informações do consumidor. O Casino salienta que a rotulagem de bem-estar animal deve ser implantada em outros frangos de linha do Casino e além de outros produtos da marca Cassino.

O Casino foi o primeiro grupo varejista a não comercializar ovos, oriundos de poedeiras alojadas em gaiolas. O grupo também criou um programa para controlar as condições de abate em sua cadeia de fornecimento na França em relação à proteção animal.

Estas iniciativas evidenciam o quanto o consumidor impõe seus critérios aos fornecedores. Tais critérios foram demandas da sociedade, neste caso da francesa, que busca preservar o bem-estar animal, e continuar a consumir alimentos de origem animal, mas com a percepção de sustentabilidade. O Brasil, como grande protagonista do setor, deve conhecer estas tendências e, quem sabe num futuro próximo, atender também a estes mercados mais exigentes, que, certamente, remuneram de forma diferenciada.