Uma das tendências mais importantes no processo de segurança alimentar, dentro da indústria avícola, é o controle das Salmoneloses. Isso está dentro das maiores prioridades das empresas, pois a ocorrência de problemas pode pôr em risco a credibilidade das mesmas e pode causar grandes prejuízos financeiros em casos de contaminação, uma vez que as salmonelas são potenciais causadoras de toxinfecções alimentares aos humanos.
Várias são as ferramentas utilizadas para controlar as Salmoneloses em aves, mas, em especial nos últimos anos, tem se destacado a busca de um amplo e eficiente programa de vacinação desde as reprodutoras até as aves comerciais de modo a evitar que este microrganismo se mantenha nos plantéis. A diversidade dos sorovares de Salmonella encontrados na natureza é considerado fator crítico na dificuldade do controle desta doença. Dessa forma, a composição inteligente entre vacinas vivas (replicantes) e mortas (não-replicantes), buscando a maior abrangência possível em relação aos principais sorovares presentes no ambiente, é o caminho certo para a defesa das aves de produção comercial de corte.
Chama muito a atenção estatísticas do uso da vacina viva em frangos de corte nas empresas avícolas norte-americanas (maior produtor de frangos do mundo), onde existe um aumento claro e progressivo na adoção da vacina viva para o controle das Salmoneloses. O uso da vacinação com vacinas vivas em frangos de corte tem sido uma escolha relativamente recente dentro da avicultura industrial. Isso decorre do fato de que produtos adequados vem sendo desenvolvidos e registrados para essa finalidade nos últimos anos. Os principais atributos que permitem o uso em frangos de corte estão ligados à eficácia e segurança.
Os principais fatores críticos para a escolha da vacina viva dentro do programa ideal de vacinação estão descritos na Tabela 01. Esses fatores são essenciais quando pensamos em construir um programa de imunização para frangos de corte, considerando que a vacina viva será utilizada desde as reprodutoras e constitui uma ferramenta auxiliar ao controle integrado desse microrganismo.
Quando falamos das vacinas vivas contra a Salmonella, o sistema imune de mucosa das aves ganha enorme notoriedade, pois é esse sistema que realiza a defesa do organismo do hospedeiro contra a invasão do patógeno. Naturalmente o epitélio das aves está exposto a uma enorme quantidade de microrganismos. A maioria dessa população é comensal, mas também podem estar presentes os patógenos potenciais incluindo a Salmonella. Sendo assim, o epitélio, constituído por uma fina camada de células, é essencial para a manutenção da saúde da ave e requer proteção contínua contra a invasão. Parte dessa proteção é dada pela própria atuação do epitélio como barreira física bem como com as primeiras linhas de defesa contra infecções das células epiteliais unidas pelas junções ocludentes, pelo muco, pelo baixo pH em determinadas porções do trato gastrointestinal, por enzimas (pepsina), por peptídeos antibacterianos e também pela flora bacteriana normal. Além dessa defesa inata e não específica, a proteção das mucosas se faz pelo sistema imune adaptativo onde antígenos serão reconhecidos e eliminados de maneira específica.
Estrategicamente os tratos gastrointestinal, respiratório e genitourinário são dotados de sistema imune de mucosa com a finalidade de proteger a extensa superfície de contato existente, sendo que grande parte dos agentes infecciosos invade o hospedeiro por essa via desencadeando doenças. No caso específico da Salmonella, um gênero bacteriano da família das Enterobactérias, o trato gastrointestinal é a principal via de manutenção e invasão. Da mesma forma que o patógeno, a estirpe vacinal viva contra a Salmonella também tem na mucosa o seu principal sítio de atuação para estimular a resposta imune protetora.
Estima-se que três quartos de todos os linfócitos estejam localizados no sistema imune de mucosa e esse sistema é o principal responsável pela produção das imunoglobulinas das aves. Dessa forma, o sistema imune de mucosa é considerado o principal compartimento do sistema imune. O intestino tem sido denominado o principal “órgão imune” dos vertebrados e imagina-se que o sistema imune de mucosa foi o primeiro compartimento a desenvolver-se durante o processo evolutivo. Forte indicativo disso é o fato de que tanto o timo quanto a bolsa de Fabrício derivarem do intestino embrionário. Tem-se proposto que o sistema imune de mucosa representa o sistema imune original, e que baço é uma especialização posterior.
As vacinas vivas contra a Salmonella imitam a infecção de campo e, portanto, têm capacidade de interagir com o sistema imune de mucosa resultando em imunidade específica por produção de IgA (anticorpo de mucosa) como por imunidade celular (especialmente linfócitos CD8+ citotóxicos). Além disso, a administração da vacina viva produz intensa ativação de mecanismos imunes inatos da mucosa como ativação e recrutamento de macrófagos, estímulo à liberação de linfocinas e ocupação dos sítios de ligação na mucosa intestinal (Figura 01).
Cada vez mais, trabalhos científicos têm demonstrado que o uso das vacinas vivas, através de forte indução de proteção local com estímulo a imunidade de mucosa e maior amplitude de proteção cruzada, participam de maneira decisiva no controle das Salmoneloses (Tabela 02).
Todos esses mecanismos de ação e eficácia têm sido bastante investigados e por isso a vacina viva já é considerada uma das ferramentas mais completas para o controle da Salmonella em avicultura sendo uma excelente opção inclusive para uso em frangos de corte.
¹Gerente de Serviços Técnicos e Outcomes Research Aves Brasil – Zoetis
As Referências Bibliográficas deste artigo podem ser obtidas no site de Avicultura Industrial por meio do link: www.aviculturaindustrial.com.br/vacinacao1311
Confira a matéria na edição 1311 da Revista Avicultura Industrial