A revista Avicultura Industrial fez uma merecida homenagem a um dos mais notáveis entusiastas do setor avícola do Brasil e do mundo, Dr. Egladison João Campos. Nas páginas da seção Túnel do Tempo, Professor Egladison faz ponte com a publicação de 1985 onde o destaque era nada mais que os anos de dedicação ao setor deste profissional que ajudou a tornar a avicultura brasileira referência mundial. Abaixo, o homenageado escreve algumas linhas sobre os anos vividos e sua perspectiva para o futuro da avicultura. Acompanhe:
Trata-se de uma frase contida em um manifesto dirigido á juventude de autoria de Rui Barbosa, quando morava na França. Realmente, o tempo é o nosso maior inimigo, pois, estamos sempre lutando contra ele. Principalmente, quando se trata de um objetivo. Em 1985, completamos 50 anos de idade e 23 anos como um especialista em produção avícola ,e, em 2015, aos 80 anos, mais 30 anos na mesma especialidade. Embora o tempo não pare, os progressos avícolas naquele período foram a continuação mais intensa das bases adquiridas nos primeiros 23 anos. Era natural tal acontecimento devido ao aumento da população tanto do País quanto da população avícola. O consumo “per capita” tanto de ovos como de carne de frangos, além das exportações, contribuíram para tal aumento, obrigando alterações profundas no manejo das aves em função da Genética, da Biossegurança , da Nutrição, além das alterações climáticas. Em termos de frangos de corte, o desenvolvimento da Genética avícola, ocorrido principalmente na linha fêmea que passou a contribuir para a características de conformação e rendimento, além da precocidade, trouxe problemas sérios no manejo, principalmente na fase de recria das aves onde o peso ás 20 semanas tornou-se o fator mais importante para o bom desempenho durante a fase de produção. Por outro lado, devido a precocidade, a “ síndrome da má absorção “ ou a “doença das mil faces” tornou-se um problema mundial que foi solucionado com as alterações no período de incubação levando-se em consideração a idade das reprodutoras. Porém, como foi difícil a solução do problema, e, como a linhagem Arbor Acres, predominava no mercado, tal fato foi fator determinante para a saída do mercado da linhagem. A “síndrome ascítica” e a “síndrome da morte súbita” foram problemas genéticos associados á nutrição. O surgimento do, “vírus J da leucose” contribuiu para o desaparecimento do mercado das linhagens Hubard , campeã de vendas e Indian River. Em termo de Genética, a avicultura brasileira, ou mesmo a mundial, podem se sentir ameaçadas porque apenas três linhagens ou casas genéticas com predominância da linhagem Cobb, seguida pela linhagem Ross e com o ressurgimento da linhagem HUbard, caso ocorra algum problema como os já relatados anteriormente.
Em termos de Biossegurança, o controle sanitário, a avicultura brasileira exerce uma liderança no mercado mundial graças aos critérios adotados com seriedade pelas nossas empresas,, não importando a grandeza de cada uma. As práticas de isolamento das unidade de produção, de proibição de visitas, do controle do trânsito de pessoal entre as unidades de produção, além de outras práticas, tem contribuído para a manutenção do estado saudável da avicultura brasileira. Entretanto, os progressos ocorridos entre vacinas e vacinações, representam os grandes aliados da Biossegurança. Porém, nem tudo são flores, depois dos “50 anos”, em uma de nossas palestras, discutimos sobre as mutações virais que estavam provocando alterações nos sintomas e lesões de determinadas enfermidades, por exemplo, as doenças de Gumboro, Marek, Newcastle. Por outro lado, os surtos de salmonelas, antes com as duas espécies históricas, pulorom e galinarum, e atualmente com inúmeras outras espécies, porém, tudo indica que as vacinas tem controlado satisfatoriamente tal incidência, que atualmente, é um problema mundial. Torna-se oportuno salientar que o surgimento das vacinas, contribuiu para o abandono das provas de hemoaglutinação nos plantéis de reprodução. Um fato bastante interessante e ás vezes confuso : a gripe aviária que ressurgiu em 1983 nos Estados Unidos e foi se disseminando até em Países de pouca exploração avícola, atribuída principalmente a migração de pássaros e muitas vezes explorada pela mídia de uma forma alarmante. Cremos que as pesquisas sobre as vacinas já estejam bastante adiantadas e tal problema, estará sobre controle. Vale a pena salientar que ocorrem surtos em algumas áreas do Estados Unidos que são controlados pelo sacrifício das aves como uma forma de erradicação da doença. Um fato bem interessante : desde o surgimento do surto nos Estados Unidos, o seu vizinho, o México, tem sofrido com a doença que pelo tempo, poderia concluir que a doença já se encontre como uma forma enzoótica.
Em termos nutricionais, a interação entre nutrição X genética X meio, além da preservação o trato gastrointestinal das aves tem colaborado de maneira eficiente para o bom desempenho das aves. A introdução de minerais quelatados ou orgânicos como antioxidantes, enzimas, prebiótico, probióticos, simbióticos, enzimas, tem contribuído, tanto para o desempenho das aves como para o aumento da resposta imunitária.
Fatores climáticos – desde 1983, as alterações climáticas vem afetando o desempenho das aves, tanto que a FACTA em 1995, promoveu um simpósio internacional sobre os efeitos do clima no desempenho das aves . Embora na produção das aves já se adotava o emprego de ventiladores de forma indiscriminada sem nenhum planejamento, outros sistemas sugeridos e praticamente adotados pelos produtores, são : pressão positiva com ventiladores (túnel), alguns produtores não sabem ainda como manejá-los, pressão negativa com exautores, bastante eficientes, porém mal aplicados, ou seja, o seu emprego somente será eficiente em locais de clima quente e seco. Muitos produtores e técnicos confundem ambiência com bem estar ou conforto , entretanto, ambos se interagem dependendo das condições.
Em se tratando de poedeiras comerciais, nos últimos 30 anos, sofreram modificações semelhantes a aquelas do frango de corte, principalmente com a entrada da linhagem Lohman no mercado de poedeiras comerciais devido a alta persistência de produção e ao tamanho do ovo. Ocorreu que o tamanho do ovo deixou de ser uma preferência de mercado, assim, tal característica, aliada a alta mortalidade, a liderança da linhagem foi por terra; mais tarde, com a redução do tamanho do ovo e redução da mortalidade ocorreu o regresso da linhagem no mercado. Com a retirada temporária linhagem Lohman do mercado, ressurgiu a linhagem DeKalb já manejada de maneira correta e que disputa o mercado com a linhagem Hy Line, produzindo normalmente 360 ovos no período normal de produção
O futuro avícola poderá revelar surpresas como por exemplo :
1 – automação completa nos sistemas de produção para a redução de mão de obra, principalmente com o emprego de ninhos automáticos para as reprodutoras e colheita automática de ovos nas poedeiras
2 – o bem estar das aves , principalmente para as poedeiras comerciais, aumentando a área por ave (740 cm2), adotado por parte da União Europeia e sob estudos nos Estados Unidos; na exploração brasileira de ovos comerciais, os produtores tem adotado o sistema verticalizado, ainda com os problemas de manejo; vale a pena salientar que o Brasil está se tornando um grande exportador de ovos, porém, alguns Países exigem poedeiras criadas em condições ideais de bem estar.
3 – o técnico em produção de aves terá um aprendizado virtual pois como poderá aprender, se há restrições de visitas as granjas e diagnosticar doenças.
O que eu espero não para o futuro, que a Avicultura Brasileira tenha a sua representatividade com o retorno da União Brasileira de Avicultura
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