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Oferta de sementes para safrinha de milho é prejudicada pela cigarrinha

Relatos indicam que há problemas em Mato Grosso, Goiás e Paraná

Oferta de sementes para safrinha de milho é prejudicada pela cigarrinha

O leque de alternativas de sementes de milho no país está menor neste segundo semestre, época em que os agricultores costumam comprar o insumo para plantar a segunda safra do cereal — ou a “safrinha”, como é conhecido o cultivo realizado no primeiro trimestre de cada ano, depois da colheita de soja.

O Valor apurou que a oferta de variedades diminuiu em Mato Grosso, Goiás e Paraná, que concentram a produção da safrinha. Produtores e executivos da indústria reiteram, porém, que, apesar de algumas variedades terem se esgotado, não vai faltar semente para o cultivo.

“Talvez o produtor não encontre a semente exata que prefere, então ele terá de comprar outros materiais disponíveis”, disse um alto executivo dessa indústria. As variedades que costumam ser as preferidas dos agricultores reúnem características que as tornam mais produtivas. Uma dessas características é a resistência a pragas como a cigarrinha, que atacou campos produtivos neste ano.

No Brasil, as principais fornecedoras de sementes de milho são multinacionais como a americana Corteva, a alemã Bayer e a Syngenta Seeds, controlada por capital chinês. Ao menos três cooperativas, entre elas Comigo, de Rio Verde (GO), e Coamo, de Campo Mourão (PR), que reúnem produtores em Mato Grosso, Goiás e Paraná, relataram diminuição da oferta neste segundo semestre.

“Tivemos problema com uma encomenda específica. Neste caso, tínhamos adquirido volume de sementes para cultivar 12 mil hectares, mas isso cairá pela metade”, disse Felipe Facco, diretor da Coopercotton, com sede em Rondonópolis (MT).

Ele afirmou, contudo, que 6 mil hectares que receberiam parte da encomenda equivalem a apenas 5% da área total cultivada pelos cooperados. Essa área receberá outras variedades de sementes.

O departamento de comercialização de sementes da goiana Comigo informou que, segundo os fornecedores, a queda da oferta ocorreu por perda de produção nos campos causada pela cigarrinha, praga que afeta o desenvolvimento das plantas.

Consequentemente, houve menos sementes na segunda temporada de produção, que ocorre em meados do ano. O clima desfavorável também atrapalhou, segundo um executivo de multinacional, já que essa é uma “indústria a céu aberto”.

A paranaense Coamo, maior cooperativa agrícola do país, sentiu a redução de oferta de alguns tipos de híbridos resistentes à cigarrinha, mas ainda não sabe informar se isso terá impacto na semeadura. Embora relatos indiquem que as maiores fornecedoras do segmento tiveram problemas, o Valor apurou que a Corteva teria sido uma das mais prejudicadas pelos efeitos do ambiente.

“Infestações sem precedentes”

A companhia americana informou, em nota, que “infestações sem precedentes” de cigarrinha em todo o Brasil causaram enfermidades que afetaram a produção de sementes híbridas de milho. A múlti diz ainda que “reconhece” que a disponibilidade de sementes está em patamar abaixo do esperado. “Estamos monitorando a situação e comprometidos em atender os clientes”.

A Syngenta Seeds, por sua vez, afirmou que avalia a situação e que continua atendendo a demanda “conforme planejado”. Em caso de mudanças, a empresa disse, em nota, que “informará os clientes”. A Bayer, também em nota, informou que, “até o momento, a oferta de híbridos de milho [de suas marcas] está alinhada ao planejamento de demanda para a safra corrente”.

Os híbridos mais resistentes ao ataque de pragas como a cigarrinha já se esgotaram, disse Glauber Silveira, produtor e diretor-executivo da Abramilho, entidade que reúne produtores. “Mas mesmo a tolerância de algumas sementes não é suficiente sem o manejo adequado”, lembrou. “Se o produtor não for cuidadoso e não pulverizar adequadamente o campo, por exemplo, a resistência a um ataque de cigarrinhas acaba”. Silveira reforçou que não faltam variedades com bom desempenho para o plantio da safrinha.

Segundo a Conab, a safrinha de milho do ciclo 2022/23 deverá ocupar 17 milhões de hectares no país, uma área 5,4% maior que a de 2021/22. A colheita deve crescer 12%, para 96,2 milhões de toneladas.

Somadas as três safras da temporada 2022/23 de milho, a produção total deverá aumentar 12,5%, para 126,9 milhões de toneladas. Segundo a Conab, a cigarrinha também afeta o cultivo da primeira safra de milho, que ocorre neste momento. Com isso, a área de plantio deve diminuir 1,5%, para 4,4 milhões de hectares, devido à alta de custos para o controle da praga.