Redação (21/06/07) – Se nenhum acordo for fechado agora, as negociações terão mais um bom tempo de espera, para além de 2009, até que novas negociações sejam retomadas.
Em Genebra, os diplomatas tratam de arrancar dos países emergentes, entre eles o Brasil, e dos ricos, União Européia, Estados Unidos e Japão, alguma forma de compensação.
Está em jogo a disputa na abertura dos mercados agrícolas da União Européia, com menos subsídios, em troca da também abertura dos mercados para produtos industrializados e serviços da América do Sul, da China, Índia e Japão e menos subsídios dos Estados Unidos aos seus agricultores. É pendenga que vem de mais de uma década e os obstáculos atualmente são políticos.
Na Europa e nos Estados Unidos, os agricultores não querem abrir mão dos bilhões de dólares e euros que recebem em ajuda. Temem especialmente os produtos brasileiros, onde o agronegócio se sobressai.
Na América do Sul ninguém quer deixar escancarado o mercado para os produtos industrializados e dos serviços dos EUA e europeus. Por isso, o encontro dos ministros do Brasil, Índia, EUA e da Europa, o G-4, é tão importante. George Bush e Tony Blair torcem por um acordo, Lula da Silva também.
Em Potsdam, a mesma cidade e no hotel Cecilianhof onde a Alemanha foi dividida em 1945 pelos EUA, URSS e o Reino Unido, a sorte está lançada. As decisões do Brasil e da Índia poderão afetar o comércio mundial pelos próximos 10 anos. Em 2001, em Doha, a rodada de negociações da OMC foi lançada, mas nunca prosperou e está paralisada há um ano. No final deste mês, acaba a autorização dada pelo Congresso para que George Bush feche acordos sem necessitar de aprovação posterior.
Se nada for acordado, só depois de 2009, com um novo presidente na Casa Branca, o assunto poderá ser retomado. Falhando, ninguém se iluda, os grandes perdedores serão os emergentes, entre eles e principalmente, o Brasil. Ficaremos sem nada, sem Alca, sem acordo do Mercosul com a União Européia e com quase nenhum acerto bilateral importante.
O comércio mundial está viciado com os subsídios dos ricos. Os EUA têm de baixar os seus para, no máximo, US$ 22,5 bilhões por ano. Hoje, eles são de US$ 40 bilhões. Em 2006, a Casa Branca distribuiu ””só”” 11 bilhões para seus agricultores. Então, o novo teto ainda permitirá mais subsídios pelo Tio Sam. Os emergentes querem um teto de US$ 13 bilhões.
Se os norte-americanos não recuarem, a União Européia também não baixará os seus próprios subsídios, com medo da invasão dos produtos do Brasil e dos EUA. Os europeus aceitam cortar 39% de suas tarifas de importação, enquanto o Brasil quer 54%. Em troca, o Brasil e a Argentina têm de abrir seus mercados para produtos industrializados e serviços, o que a Argentina teme.
Finalmente a Organização Mundial do Comércio tornou-se instrumento de defesa dos países pobres, contra os favorecimentos ilegais dados pelos ricos. Embora o belo discurso pró-mercado livre, há décadas que os subsídios e as práticas mais nefastas vêm sendo impostas pelos líderes europeus, pelos Estados Unidos e até o Japão, prejudicando o comércio de commodities, especialmente.
Tendo iniciado 20 contenciosos na OMC, o Brasil ganhou a metade deles e, nos demais, houve acordo para que o resultado final também não desse ganho de causa ao nosso País. A UE se compromete a reduzir seus subsídios em um prazo de 10 anos.
Não é o ideal, mas o começo de uma caminhada.