É inevitável: se alguém contrai uma doença, tudo que se disser a respeito do mal será objeto de atenção de todos os familiares e amigos. O mesmo acontece agora em São Paulo, com a prolongada e persistente estiagem, que afeta nossos reservatórios e pode amargar nossos dias em pouco tempo.Tudo o que se fala a respeito de água nos atrai.
Um dos fatos que chama muito a atenção, por exemplo, é a devastadora seca que assola um dos mais ricos estados norte-americanos, a Califórnia. É uma estiagem sem precedentes, considerada a pior em pelo menos 90 anos e o próprio presidente Barack Obama, em viagem ao estado, anunciou US$ 100 milhões em assistência, e outras verbas.
Mas dificilmente haverá talões de cheques que bastem para socorrer o estado, onde o governador declarou estado de emergência pela seca, ainda em 17 de janeiro, quando ficou claro que 2013 fechou o ano mais seco já registrado em muitas áreas do estado. Secas não são novidade por lá: houve cerca de nove nos últimos cem anos, e o que preocupa as autoridades agora é como fazer a divisão do escasso recurso natural.
A Califórnia está no terceiro ano de uma seca profunda , que pode ser parte de uma tendência muito mais prolongada, que pode durar décadas , até mesmo séculos , de acordo com a climatologista B. Lynn Ingram, da Universidade da Califórnia em Berkeley. Parte pode ter a ver com as mudanças climáticas induzidas pelo homem, e parte, causada por oscilações naturais que ocorrem com mudanças na temperatura da superfície do Oceano Pacífico. A combinação é um golpe duplo para a Califórnia.
Inevitável também voltar a atenção para um outro país que é exemplo pela sua ciência e cultura, Israel. País que fez das gotas – sim gotas – de água uma forma de abastecer sua agricultura.
Esse sistema de irrigação – por gotejamento – descoberto pelo engenheiro Simcha Blass, permite o cultivo de legumes e até flores em uma das regiões mais desérticas do mundo. Ele notou que onde havia um vazamento em tubulações, mesmo que de poucas gotas, surgiam plantas. Na sequência, desenvolveu equipamentos que geraram a tecnologia que veio a revolucionar a agricultura. Com o tempo, além da água, os produtores acrescentaram os nutrientes necessários ao desenvolvimento das espécies. E o resultado? O país exporta até mesmo flores para a Europa.
O Reino Unido, também afetado por uma seca devastadora em meados de 2004, chegou a proibir que seus cidadãos usassem água potável para regar jardins e encher piscinas. É um dos mais cuidadosos no controle do desperdício e não é raro o brasileiro que chega por lé em visita, ouvir a estranha pergunta: “Você pretende tomar quantos banhos por semana?”.
Em São Paulo, seremos obrigados a encarar de frente a necessidade de poupar água. Todos os novos apartamentos entregues trazem um medidor de consumo de água individual, e isso é obrigatório, por lei. Mas nem todos os condomínios optaram pela ativação do recurso. Assim como existem pessoas que jogam lixo pela janela de seus veículos, também vemos aqui e ali outros lavando calçadas com água ou molhando as plantas nos horários de maior calor, quando isso deve ser feito bem cedo ou ao anoitecer, por exemplo.
O caminho para a economia de água é feito de pequenas atitudes, da parte dos cidadãos. Mas de grandes ações por parte do poder público, que deve dedicar seus melhores esforços ao planejamento e à prevenção. Para que depois não seja obrigado a emitir os mesmos cheques que o governo Obama. Ou sofrer pela falta de arrecadação, decorrente da redução na atividade econômica.
O importante é fazer as escolhas certas agora. Os cidadãos estarão acompanhando todos os movimentos. Mesmo porque a consciência de que as alterações climáticas são uma realidade, nos deixa mais atentos. E tudo isso vale para a conservação da energia.
Imagine se a gente for desenterrar a velha canção sobre o Rio de Janeiro, onde “de dia falta água de noite falta luz!” Era só o que faltava. (Claudia Bozzo)