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Paraná aposta no mercado de carnes nobres

<p>É cada vez maior a variedade na criação de animais de corte no Paraná.</p>

Redação (30/11/06) – Pequenos rebanhos de ovelhas, por exemplo, enfeitam a paisagem e garantem cardápio diferenciado em fins de semana. Muitas vezes hobby, a atividade também é uma aposta num mercado crescente: o de carnes nobres. De olho no interesse de restaurantes, os pecuaristas se mobilizam para organizar o setor, com a meta de dobrar o consumo de carnes nobres no estado, estimado em apenas 35 toneladas ao mês. Há três semanas eles participam de uma série de reuniões realizadas em Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá e Ponta Grossa. O encontro final, na próxima terça-feira, em Curitiba, deve arrematar as negociações.

Criadores de ovinos, caprinos, coelhos e avestruzes foram chamados a participar das discussões, normalmente reservadas apenas aos setores de bovinos e suínos. A idéia é usar o apelo das carnes exóticas em favor das carnes nobres, classificadas pelo tratamento que recebem do pasto à cozinha. Para muitos produtores, o programa é uma espécie de sondagem.

Os restaurantes pagam até três vezes mais pelas carnes nobres na comparação com a bovina comum. Mesmo para quem está começando, o setor pode ser uma boa alternativa, afirma o criador de suínos Roelof Rabbers, de Castro (Campos Gerais). Ele aguarda elevação no preço da carne comum de porco em 10 centavos o quilo para sair da crise que começou em outubro do ano passado, com a suspeita de aftosa no estado. Numa área de pasto em frente de casa Rabbers cria ovelhas e lhamas por enquanto, para consumo próprio.

Para os representantes de bares e restaurantes, trata-se de uma estratégia para conquistar os clientes mais exigentes, que querem saber de onde vem a carne, com o que o animal foi alimentado e em que condições ocorreu o abate. Há 20 anos, quando cheguei a Curitiba, os restaurantes serviam só pratos comerciais, não havia buffet ou casa mais sofisticadas. Hoje temos bons buffets, que servem uma variedade considerável de pratos. No domingo, servimos mais de 15 tipos de carnes, afirma o empresário Bruno da Silva Draghi, do Armazém Italiano.

As discussões sobre o mercado de carnes nobres nas principais cidades do estado foram abertas pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e pelo governo do estado, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A iniciativa partiu da constatação de que muitos restaurantes e bares do Paraná compram carnes nobres de outras regiões, apesar da produção local ser cada vez mais variada.

Além da falta de integração regional, existe um desconhecimento do potencial das carnes nobres, conforme o consultor Gilberto Keserle, do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Durante os encontros, criadores e distribuidores conhecem melhor a produção regional e, numa sessão de degustação, as carnes nobres mais pedidas no estado.

Programa quer estimular as negociações regionais

O consumo de carnes de outros estados chega a 40% no Paraná, conforme o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná, o Sindicarne. O porcentual refere-se a carnes de primeira com inspeção federal, cujo consumo chega a 15 mil toneladas ao mês. No caso das carnes nobres, essa proporção passa de 80%, estima a entidade.

Os privilégios à carne trazida de outras regiões são evidentes, conforme o médico veterinário Cezar Amin Pasqualin, que tenta estruturar as cadeias produtivas de ovinos e caprinos pela Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural, a Emater. As reuniões que estão ocorrendo entre produtores e donos de restaurantes mostram que há muito o que fazer pelos mercados regionais, relata. Ele sustenta que o consumidor sairá beneficiado. O passeio encarece a carne.

Segundo Pasqualin, as qualidades dos produtos regionais não estão sendo bem aproveitadas nos restaurantes. Além disso, ainda é necessário melhorar o abate, a desossa e inclusive a embalagem, afirma.

O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Paraná, José Henrique Carlan, diz que os negócios serão ampliados à medida que os problemas do setor forem resolvidos. Ele aponta como prioridade a melhoria no abate de animais como ovelhas, cabras, coelhos e avestruzes.

Hoje muitos criadores dependem de instalações distantes ou acabam apelando a abatedouros de bovinos, suínos e aves, dependendo do tamanho do animal. O Paraná produz carnes nobres até melhores do que as que estamos comprando, mas ainda é preciso ajustes, acrescenta Carlan.

O analista técnico-econômico do Sindicarne, Gustavo Fanaya, afirma que os investimentos podem transformar carne de suíno, bovino e ave em carne nobre. Qualquer carne pode ser nobre, dependendo de como é produzida, de como chega ao supermercado ou ao restaurante, do conceito que tem, da embalagem. Patinho vira bife paris e picadinho, strogonoff.