Na corrida para incluir a sustentabilidade entre as questões mais importantes do mundo corporativo, o Brasil está aos poucos alcançando uma boa posição entre as nações industrializadas. Pelo menos é o que indica o relatório Corporate Knights 2012 das 100 Corporações Mais Sustentáveis do Mundo. No documento, a brasileira Natura figura como segunda colocada, e outras duas empresas do país foram incluídas, indicando que o Brasil pode estar no caminho certo para a sustentabilidade empresarial.
O relatório, que já está em sua 8ª edição e é sempre apresentado no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, é desenvolvido pela Corporate Knights, firma canadense de mídia e de finanças dedicada à promoção de práticas corporativas responsáveis e ao desenvolvimento da sustentabilidade social e ambiental.
Para criar a classificação, a Corporate Knights trabalha com os rankings de outras três organizações – Global Currents, Inflection Point Capital Management e Phoenix Global Advisors -, que selecionam cerca de 400 empresas de uma lista de quase quatro mil.
A partir dessas 400, o grupo de pesquisa da Corporate Knights seleciona as 100 mais sustentáveis através de 11 critérios ambientais, sociais e de governança. Se esses critérios não são divulgados pelas empresas, elas são penalizadas e perdem pontos, o que pode acarretar em uma queda na classificação.
Embora admita que essa abordagem tem falhas, a Corporate Knights alega que ela ajuda a diagnosticar “maus comportamentos” em diversas áreas, e é capaz de mensurar o progresso em vários aspectos.
“Essa abordagem não é perfeita. Ela não compreende a contaminação de ecossistemas, grilagem de terras na África, táticas de lobby clandestinas ou mau tratamento de civis em outros países (ainda não, pelo menos). Mas podemos sempre lançar uma luz nas empresas que estão se comportando mal em diferentes áreas. O que a abordagem faz é estabelecer algumas regras básicas objetivas e transparentes para medir o progresso”, diz o relatório.
“Não há modelo perfeito para medir a sustentabilidade da mesma forma que nenhum modelo financeiro pode antecipar perfeitamente os movimentos nos preços das ações. No entanto, sentimos que nosso modelo é o mais sofisticado, objetivo e com abordagem de dados mais direcionada”, justificou Doug Morrow, vice-presidente de pesquisa da Corporate Knights.
“Se você pode pontuar objetivamente as companhias por critérios significativos e esses pontos puderem ser usados para influenciar forças de mercado, será possível desviar capital de firmas ineficientes e irresponsáveis para as mais produtivas e responsáveis”, acrescentou ainda Toby Heaps, presidente da Corporate Knights.
O primeiro lugar geral na lista ficou com a dinamarquesa Novo Nordisk, companhia de medicamentos que é líder mundial no tratamento de diabetes. Segundo o documento, o que levou a Novo Nordisk para o topo da lista foi a combinação entre a filosofia empresarial, o estímulo para reduzir a pegada de carbono e a venda de remédios com desconto para países pobres.
“O principal fundamento da Novo Nordisk é a linha tripla, porque é isso que está protegendo nossa licença para operar. Isso obriga todos na companhia não apenas a ver que nos tornamos um bom negócio – essa é a linha financeira – mas que fizemos isso de uma forma que é social e ambientalmente responsável”, comentou Lars Rebien Sorensen, presidente e CEO da firma.
A brasileira Natura foi a segunda colocada. Mas a empresa de cosméticos não foi a única do país a figurar na lista. O 61º lugar ficou com o banco Bradesco, e o 81º, com a Petrobras.
“Dentro de seu grupo industrial, a Natura se tornou a melhor em produtividade de energia, comparada ao ano anterior, quando era apenas a terceira melhor entre seu grupo industrial. Ela também se tornou a segunda melhor em produtividade de resíduos na avaliação deste ano, e estava entre as principais em 2011”, explicou Morrow.
Em relação aos países que mais apresentam firmas sustentáveis, o Reino Unido ficou em primeiro lugar, com 16 companhias. Em seguida, vieram o Japão, com 11 empresas, a França e os Estados Unidos, com oito cada um, e a Austrália, com sete. Entre as nações emergentes, o Brasil teve três firmas incluídas na lista, a Índia, a África do Sul e a Coreia do Sul, uma empresa cada , e a China, nenhuma.
Para Heaps, além dos investimentos maiores e em maior quantidade, a sustentabilidade nos países industrializados também é estimulada por regulamentações e pela maior transparência política e econômica dessas nações.
“A companhias europeias têm a melhor transparência globalmente, e as do Reino Unido mantiveram alguma distância da queda do euro que tem atormentado o continente, então os números de produtividade delas se mantiveram melhor do que os das empresas similares do continente.”
Apesar disso, o relatório indica que nos países emergentes, bem como no mundo todo, a sustentabilidade empresarial também está se desenvolvendo. “É possível que as companhias de alguns países estejam superando outras, mas a comunidade corporativa como um todo está fazendo mais do que há cinco anos. Os níveis de desempenho estão aumentando globalmente”, declarou Aron Cramer, CEO da BSR.
Nesse contexto, o documento alerta ainda que o papel das 100 empresas do ranking é importante, pois estimula o mesmo comportamento por outras companhias. “Em um ano em que Wall Street foi ocupada e o capitalismo se tornou uma palavra ruim, as 100 companhias globais servem como embaixadoras para um tipo de capitalismo melhor e mais limpo, que acaba por ser mais rentável”, concluiu Heaps.