Um grupo de pesquisadores de diferentes instituições sediadas no Estado do Rio de Janeiro investiga, desde 2006, a presença do vírus Influenza em aves residentes e migratórias do estado. O estudo poderá auxiliar na prevenção e no acompanhamento de eventuais surtos da gripe aviária não só no Sudeste como nas demais regiões do País. É a primeira vez que um estudo do gênero é realizado em território fluminense
Com o título de Projeto de Vigilância Laboratorial da Influenza Aviária no Estado do Rio de Janeiro, a iniciativa levou à criação de uma rede de pesquisa do vírus Influenza, que abrange tanto a área animal como a humana. O tema ganhou ainda mais importância com o anúncio, feito por autoridades de saúde mundiais, da propagação do vírus da gripe suína, agora chamado Gripe A, por vários países nas últimas semanas, e que levou as autoridades brasileiras a lançarem um plano de contingência que inclui o monitoramento de aeroportos e portos do País.
O trabalho teve início no Laboratório de Biologia Animal da Pesagro-Rio e continua no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O projeto conta com o apoio da FAPERJ, que disponibilizou recursos para a realização do projeto por meio de programa destinado a auxiliar as entidades estaduais de pesquisa.
No trabalho de campo, os pesquisadores examinaram 573 amostras de aves, entre residentes e migratórias – provenientes do hemisfério Norte –, coletadas principalmente da Bacia de Campos, no Norte Fluminense. As aves da ordem Anseriformes, família Anatidae (cisnes, gansos, patos e marrecas), seguidos pela ordem Charadriiformes (gaivotas, maçaricos e batuíras) são as que possuem a maior incidência do vírus Influenza e diversidade de subtipos. Os dois grupos tem em comum o fato de abrangerem espécies, em sua maioria, migratórias, aquáticas e gregárias.
– Por todas essas características, essas aves são consideradas os principais reservatórios do vírus Influenza e seus potenciais disseminadores. Pouco se sabe sobre a prevalência desse vírus em patos selvagens do hemisfério Sul ou seu potencial de transmissão entre os hemisférios – disse a coordenadora do estudo, Maíra Halfen Teixeira Liberal, pesquisadora responsável pela Área de Biotecnologia, do Laboratório de Biologia Animal da Pesagro-Rio.
De acordo com os pesquisadores, há pouca conectividade de espécies de anatídeos entre o Norte e o Sul, e a maioria das espécies permanece dentro do continente durante o ano inteiro com a finalidade de reprodução. Segundo estudos publicados anteriormente, na América do Sul, várias outras espécies de patos poderiam servir como hospedeiros do vírus da gripe, mas os dados de vigilância epidemiológica não estão disponíveis.
– Nosso estudo visa, entre outros objetivos, preencher essa lacuna na literatura científica. Cerca de 10% das amostras que recolhemos apresentaram positividade para vírus respiratórios, sendo 2% deles para Influenza – explica Luz Alba M. Fornells, que participa da pesquisa como bolsista de pós-doutorado da Fundação.
Para o pesquisador associado da UFRJ Cláudio de Moraes Andrade, que também participa do projeto, as cepas encontradas nas amostras não representam, por ora, risco para a população.
– As cepas encontradas nas amostras são de baixa patogenicidade e as chances de serem disseminadas entre humanos são, neste momento, baixíssimas – disse Moraes Andrade.