Em 20 anos – entre 2002 e 2022 -, o PIB do agronegócio do Brasil saltou (em números deflacionados) de US$ 122 bilhões para US$ 500 bilhões – valor equivalente ao PIB da Argentina, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. No final de 2022, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, que calcula anualmente, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a fatia que o agronegócio representa no PIB do País, considerou o biênio 2020-2021 como um dos melhores da história recente do agronegócio nacional.
O número não foi maior porque, em 2022, impactado pela alta de insumos em decorrência das mudanças no cenário político mundial, o PIB do setor teve recuos sucessivos ao longo dos três primeiros trimestres do ano, acumulando queda de 4,28% de janeiro a setembro de 2022.
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, porém, o Brasil tem todo potencial necessário para continuar nessa escalada de prosperidade agrícola.
“Temos pesquisa, difusão de informação e competência das pessoas. Nosso setor agropecuário é aberto ao mundo, não tendo problema de limitações de mercado, por isso pode aumentar significativamente a produção. Organismos internacionais projetam que, diante do crescimento da demanda global de alimentos nos próximos 10 ou 15 anos, o Brasil será provedor de pelo menos 30% a 35%. Diferentemente do que aconteceu no setor urbano, seja na indústria ou em serviços, o crescimento do agronegócio é persistente e essa é a primeira lição que o agro dá. Crescer sempre é mais importante do que crescer muito em alguns anos e cair nos anos seguintes. É um crescimento sustentável, o que torna o agronegócio bastante competitivo.”
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) calcula que o Brasil deve romper este ano a barreira das 300 milhões de toneladas de grãos, firmando-se como o terceiro maior produtor mundial de cereais, atrás da China e dos Estados Unidos. Esse crescimento, na avaliação de especialistas, se baseia no investimento em pesquisa e nas políticas públicas para o campo, que têm propiciado sucessivos recordes na produção agrícola.
Segundo o coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, a virada na agricultura brasileira começou com o advento da soja no Sul do País.
“Foi o grande pontapé inicial, pois a soja, de ciclo mais curto, permitiu fazer uma cultura de inverno depois dela, como o trigo, aveia ou sorgo. A soja possibilitou a segunda safra. Com o tempo, esse processo evoluiu para outras regiões do País, com outras características”, explicou.
Nos Estados onde não chove no inverno, como boa parte do Sudeste, do Centro-Oeste e do Nordeste, não era possível plantar uma segunda cultura, mas isso não deteve os produtores, segundo Rodrigues.
“Quando fui ministro da Agricultura (de 2003 a 2006), eu lancei com a Embrapa a integração lavoura-pecuária, mais tarde lavoura-pecuária-floresta, permitindo fazer duas culturas também em regiões onde não chove no inverno, basicamente por causa do pasto. Você planta milho, soja ou algodão, que são culturas de verão, e depois da colheita você tem o pasto formado para o gado.”
Na área da Cooperativa Agrícola de Capão Bonito, o consórcio da soja com milho vai de vento em popa. Em 2005, a cooperativa tinha 55 agricultores associados e feijão era a cultura principal, sendo o milho plantado apenas no verão. Atualmente, com 102 associados, a cooperativa planta 24 mil hectares de soja, produzem uma média de 80 sacas por hectare e, cultivam o milho na safrinha.
A engenheira agrônoma Tamires Tangerino, de 33 anos, consultora técnica da Stoller, empresa especializada em fisiologia vegetal e nutrição, tem auxiliado a cooperativa nessa produção. No último dia 14, em um plantio comercial de soja da Cooperativa Agrícola de Capão Bonito, ela obteve produtividade de 6.672 kg por hectare, o dobro da média nacional e acima da excelente média regional, de 4.800 kg/ha – uma mostra do impacto da pesquisa como motor do crescimento.
Rodrigues lembra que a evolução em pesquisa e tecnologia mudou o perfil da produção, salientando que a irrigação possibilitou ao produtor fazer três culturas de soja, milho e feijão, irrigando quando necessário. “É uma soma de processos de evolução ao longo do tempo que começou com a soja, uma cultura praticamente nova no País”, afirma Rodrigues.
A adaptação da oleaginosa aos diversos microclimas do País fez, inclusive, o Brasil ultrapassar os EUA, se tornando o maior produtor do grão e também o principal exportador mundial. Enquanto a safra 2002/03 rendeu 47,4 milhões de toneladas de soja, a atual terá produção de 152,9 milhões, um aumento de 322%, segundo a Conab. O milho, usado na rotação de culturas com a soja, cresceu 260%, de 47,4 milhões para 123 milhões de toneladas.
Mendonça de Barros relembra que, em 1965, quando se formou em Economia, havia no Brasil só 400 mil hectares de soja, produzindo 1.200 quilos (por hectare). Hoje tem 44 milhões de hectares, produzindo 3.600 quilos.
“A evolução tecnológica, a tropicalização da soja e de outras culturas permitiram esse progresso espetacular na produtividade. Vamos evoluir muito mais, pois temos o principal, o empreendedorismo do agricultor brasileiro. O céu é o limite”.