Começaram a ser apresentadas ao mercado nesta semana as primeiras intenções de lançamento de Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro). Há ao menos dois fundos perto de serem submetidos a registro nesta semana e outro que já foi protocolado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esses três pretendem levantar, no total, cerca de R$ 1,3 bilhão para investimentos no campo.
O fundo que já está em análise pelo regulador do mercado foi apresentado pela gestora Santa Fé Investimentos. O fundo Santa Fé Terra Mater pretende levantar ao menos R$ 500 milhões para aportes em terras agrícolas, que devem gerar renda através da exploração dos imóveis e de operações de venda, arrendamento e parcerias agrícolas.
A gestora trouxe para o fundo especialistas técnicos já com histórico no ramo, como os agrônomos Raphael Abe, ex-Pátria Investimentos, e Marcelo Silva, ambos com experiência na região do Matopiba (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), além de Rodrigo Rodrigues, ex-Aqua Capital.
Outros dois fundos que estão saindo do forno devem ser voltados para investimentos em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Um deles está sendo estruturado pela gestora FG/A, de Ribeirão Preto, e pretende levantar R$ 300 milhões na primeira rodada de captação para investimentos em títulos emitidos pelo segmento sucroalcooleiro, um dos principais emissores de CRA, segundo uma fonte de mercado.
Outro fundo com foco nesses certificados está sendo estruturado pela gestora Riza, que já conta com um fundo de terras, o Terrax, e agora pretende levantar inicialmente R$ 500 milhões com um Fiagro de CRA, segundo outra fonte a par do assunto. O novo fundo deve se voltar para os títulos que a própria gestora originar no mercado, além de atuar no mercado secundário de CRAs. Os CRAs originados pela Riza são lastreados em Cédulas do Produtor Rural Financeiras (CPR-F). Procuradas, as gestoras FG/A e Riza não comentaram.
Considerando os prazos de aprovação pela CVM e os procedimentos de roadshow entre investidores, os fundos que estão sendo apresentados à CVM neste mês devem ser oficialmente lançados no mercado entre meados de setembro e outubro. Nas próximas semanas, também devem ser estruturados Fiagro para investimento em duplicatas, seguindo o formato dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), e em florestas, conforme apurou o Valor. Segundo o autor do projeto de lei que criou o Fiagro, Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), já há 27 Fiagro prestes a serem registrados na CVM.
A estruturação desses fundos, viabilizada após uma regulamentação provisória da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), já deve começar aquecida, na avaliação de Bruno Cerqueira, advogado do escritório Tauil & Chequer (T&C) Advogados, especializado em operações no mercado de capitais voltadas ao setor de agronegócios. “Temos sido procurados para várias operações”, afirmou Cerqueira, sem dar mais detalhes.
A XP, que é líder na coordenação de emissões de CRA e de fundos imobiliários, espera colocar ao menos seis Fiagro no mercado ainda neste ano. E o número pode chegar a dez, com base nas conversas em andamento, afirmou Pedro Freitas, sócio da XP para agronegócios, que também não detalhou em quais operações o banco está atuando.
Renato Buranello, sócio do VBSO Advogados e presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA), disse que o escritório trabalha com mais de dez propostas de Fiagro, cinco já em execução, com destaque para imobiliários. “Temos o sentimento de que será um tremendo veículo para investimentos no setor”, diz.
A estruturação dos fundos do agronegócio ganhou tração depois que a proposta de tributação dos fundos de investimento foi descartada nas discussões sobre a reforma tributária, segundo Cerqueira. “Depois disso, a perspectiva ficou ótima”, disse.
Para uma fonte que atua no mercado de fundos, são promissores os Fiagro de investimento em CRAs, mercado que fechou 2020 com estoque de R$ 48 bilhões e R$ 15,8 bilhões em emissões. Na avaliação desse gestor, a entrada de fundos no mercado de CRA deve destravar a liquidez do mercado secundário desses papéis, já que pode diluir os investimentos de pessoas físicas.
A entrada dos Fiagro no mercado de CRA também deve atrair novos emissores, cujo perfil ainda é mais restrito aos grandes produtores e companhias do setor, de acordo com um gestor que acompanha o tema. Também é visto com otimismo no mercado os Fiagro de FIDC de recebíveis do agronegócio, que atualmente somam 29 em operação, com patrimônio líquido total de cerca de R$ 5 bilhões.
Há pouco mais de uma semana, a CVM decidiu criar uma regra provisória para os Fiagro, replicando as normas já válidas para os fundos imobiliários (instrução 472), fundos de investimento de direitos creditórios (instrução 356) e fundos de investimentos em participações (instrução 478). As regras serão válidas a partir de 1º de agosto.