As primeiras estimativas para a próxima safra de grãos (2021/22), que começará a ser plantada no segundo semestre, apontam para uma forte elevação nos custos de produção, de até 30% em algumas regiões do país, puxada pela alta dos fertilizantes e pela variação cambial. Mas, mesmo assim, o boom de preços das commodities deverá proporcionar a melhor relação de troca da última década de soja e milho por insumos, o que indica boa rentabilidade para os agricultores que conseguirem fechar suas vendas na hora certa.
Como reza a cartilha no campo, a preocupação constante é com o clima e, agora, também com a manutenção do atual patamar das cotações agrícolas no mercado mundial. “Mesmo com o custo subindo muito, a viabilidade econômica das culturas é muito boa, talvez a melhor dos últimos anos”, afirmou o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), Paulo Pires. “É um cenário altamente favorável, com possibilidades de ganhos muito boas, porque os preços dos produtos subiram mais que os dos insumos. Temos que torcer para termos um clima favorável e para que o mercado não caia”, disse o dirigente.
Conforme a Fecoagro, os custos totais para a produção de soja na safra 2021/22 no Rio Grande do Sul – terceiro maior produtor do país, com colheita superior a 20 milhões de toneladas em 2020/21 – vão aumentar 31,8%, para R$ 4,8 mil por hectare. Em termos de desembolso, o aumento será de 30%, para R$ 3,1 mil por hectare, considerando produtividade de 60 sacas por hectare.
Já no milho o aumento dos custos totais é estimado em 31,6%, para R$ 6,6 mil por hectare, considerando um rendimento de 160 sacas por hectare. O desembolso efetivo para plantar um hectare do cereal aumentará 27,4%, para R$ 4,5 mil. Essas estimativas foram apresentadas ontem em coletiva de imprensa. Apesar das altas expressivas, a relação de troca dos grãos pelos insumos é a melhor dos últimos nove anos para a soja e dos últimos dez anos para o milho. A Fecoagro levou em conta os dados levantados junto às cooperativas e os preços de soja e milho na primeira semana de maio – R$ 165 e R$ 88, respectivamente.
Se na safra 2020/21 o produtor gaúcho precisou usar 37,5 sacas de 60 quilos de soja por hectare para pagar os custos totais, na próxima temporada, serão necessárias 29,1 sacas, queda de 22,5% na relação de troca. Já para cobrir o desembolso (o que realmente sai do bolso no custo de produção), serão necessárias 18,8 sacas, 23,5% a menos que na atual temporada (24,6 sacas por hectare).
No milho, a queda foi ainda mais acentuada, o que torna o cereal até mais vantajoso que a soja no Rio Grande do Sul em termos de rentabilidade na próxima safra. Para cobrir os custos totais, segundo a Fecoagro-RS, o produtor gaúcho precisará colher 75,3 sacas do cereal, e 51,7 sacas para custear o desembolso. Os números são 35,7% e 37,7% menores que os apurados nesta temporada, de 117 e 83 sacas.
O aumento no custo de produção é puxado pelo câmbio e seus efeitos sobretudo nos preços dos fertilizantes. E alguns produtos ficaram mais caros em dólar. A Fecoagro apontou altas também nos gastos com combustíveis, aquisição ou conservação das máquinas e até no seguro rural. “O seguro é preocupante e já é o segundo item mais caro da lavoura. Só perde em alguns casos para os fertilizantes”, observou Paulo Pires.
Mesmo com o cenário favorável, a Fecoagro acredita que a comercialização futura será mais lenta. A esta altura, em 2020, os produtores gaúchos já haviam vendido 35% da colheita. Com o aumento dos preços depois das vendas e a frustração da produção em algumas regiões, muitos deixaram de ganhar com a alta.
Em Mato Grosso, líder na produção nacional de soja e milho, a sinalização é que os custos vão subir 13% em 2021/22. Os boletins mais recentes do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea) apontam que a relação de troca do custo total pelo preço de paridade da soja de março de 2022 está próximo de 30 sacas, enquanto há um ano chegava a 51 sacas. No milho, a relação de troca do custo dos insumos do cereal de alta tecnologia pelo preço do grão disponível em Mato Grosso está próxima de 20 sacas. Em junho de 2020, era de 50 sacas.