Desde o ano 2000, quando os primeiro agricultores optaram por também se utilizar da criação de perus para viabilizar pequenas propriedades, o negócio vem tomando vulto e proporcionado uma boa alternativa de renda e manejo. Tudo isso tem colocado o Paraná como líder nacional em produção, representando 25% do total de quilos produzidos em 2008 e 30% no acumulado de janeiro a agosto em 2009, ou seja, 23 mil toneladas e 13 mil toneladas respectivamente. A região cresceu na mesma proporção, passando de 52% da representatividade do Estado no ano passado para 58% do total em 2009.
“Desde que a empresa começou a trabalhar com os produtores integrados só tem acontecido crescimento e a tendência é aumentar mais ainda. A nossa região é considerada centro de excelência por vários fatores, tanto técnicos como naturais. Um exemplo é a grande quantidade de áreas de mata na região, tanto de mata nativa quanto de reflorestamentos. Isso, de certa forma, serve como um filtro natural contra as doenças de outras regiões, garantindo a sanidade dos lotes de perus e melhorando a produtividade”, diz José Roberto Tozatto, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura (Seab) em Ponta Grossa.
Os dados confirmam a preferência pela região no que diz respeito à atividade. O Paraná é o maior produtor nacional, abatendo em 2008 quase 16 milhões de cabeças e nesse ano a produção já alcança 8,5 milhões. Depois vem Minas Gerais em segundo lugar, com 8,9 milhões de abates, ou seja, pouco mais da metade do que o Paraná produz, com Santa Catarina em terceiro com 8 milhões de cabeças e o Rio Grande do Sul em quarto com 5,2 milhões.
Um dos aspectos que mais chama a atenção na produção de perus é que a atividade ajuda a viabilizar pequenas propriedades, que, além do lucro obtido pela comercialização da carne, conseguem ter adubo para as plantações. O esterco de peru é considerado o que dá melhor resultado em nutrientes para as plantas, assim o produtor gasta pouco com adubação de sua terra e consegue lucrar mais com a venda da safra.
“Principalmente nas pequenas propriedades, a produção de peru pode trazer vários benefícios. Primeiro porque é uma atividade de manejo relativamente fácil, ainda que necessite de cuidados técnicos aprimorados para que a produção esteja dentro das normas da empresa compradora. Depois, o manejo não é pesado, possibilitando que toda a família trabalhe com a produção”, diz José Roberto Tozatto, do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Estado da Agricultura em Ponta Grossa.
O produtor Marcio Rickli é da mesma opinião e coloca a atividade como boa alternativa de renda. “O esterco barateia os custo de produção. A empresa também colabora muito, com uma assistência permanente e com todo o pacote tecnológico. Assim, ainda que você conte apenas com o retorno da produção, que não é muito grande, se você conseguir índices bons de produtividade, vai compensar bastante por conta desses outros aspectos”, salienta.
Outro bom motivo para iniciar na atividade produtora de perus é a compra garantida. “Você não precisa ficar se preocupando em comprar e vender, é um negócio seguro. No entanto, é bom saber que é preciso de bastante água na propriedade, com fonte abundante, porque se precisar comprar da empresa estatal, fatalmente vai dar prejuízo”, diz Rickli.
De acordo com o representante do Deral, é necessário saber se a propriedade é adequada para a produção e isso somente a empresa compradora pode determinar. “Nem todos que querem podem ter uma granja de perus, são necessários preencher vários aspectos técnicos, mas se conseguir passar por essa fase é uma boa maneira de viablizar, principalmente as pequenas propriedades”, diz Tozatto.
Carne nutritiva e sem colesterol
Outro atrativo da carne de peru é sua qualidade nutritiva. “Em países da Europa e nos Estados Unidos existe uma tradição de consumo de carne de peru pelas suas qualidades, pois não tem colesterol e é bem nutritiva. O consumidor já está acostumado com isso e valoriza esses aspectos. Aqui no Brasil, o consumo de peru está mais restrito às festas de fim de ano, como o Natal, mas está em amplo crescimento”, diz Tozatto.
Ele salienta também o avanço da produção local. “Desde que começou só tem acontecido crescimento. A nossa região tem todas as qualidades necessárias para a produção e não houve nenhum período de redução. Nesses oito ou nove anos, pode até ter acontecido alguma época de estagnação na produção, mas nunca reduziu”, relata.
Especialização é cada vez maior
Trabalho realizado na Unicamp sobre a produção de perus revela que a atividade tem se tornado muito competitiva e altamente especializada, exigindo a utilização de grandes instalações, que podem conter de 1 mil a 25 mil aves alocadas em densidades acima de 60 quilos por metro quadrado (aproximadamente 3 machos adultos por metro quadrado). Métodos de acondiciomento térmico têm sido amplamente utilizados para melhorar o microambiente das aves para, com isso, se alcançar o bem-estar animal e maiores resultados em produtividade e rentabilidade, visto que, perdas produtivas decorrentes de ondas de calor e demais condições climáticas são comuns na produção de aves em clima tropical.
Em muitos casos a criação de perus tem sido uma alternativa para as famílias que anteriormente dedicavam-se a produção de frangos de corte, tornando-se sua principal atividade. A carência de informações na literatura e de pesquisas nesta área levam produtores de vários estados brasileiros a não se lançarem na produção industrial de perus e, com isso, a perderem um importante espaço no mercado interno e externo.
O trabalho foi coordenado pela pesquisadora Angélica Signor Mendes.
Mercado é de R$ 10 bilhões
O agronegócio avícola brasileiro movimenta em torno de 10 bilhões de dólares ao ano, representando 2 % do PIB do País. Emprega 2 milhões de pessoas, em suas atividades diretas e indiretas, e tem crescido a uma taxa de cerca de 10% ao ano, nas três ultimas décadas (Mendes & Saldanha, 2004). Espelhando-se no sucesso dessa atividade, um outro segmento da avicultura brasileira começa a trilhar o mesmo caminho. A produção de perus vem, nos últimos anos, crescendo de maneira acentuada no Brasil. Os dados são da pesquisa da Unicamp, realizada pela doutora Angélica Signor.