Com a retomada do acordo que permitiu a Ucrânia voltar a exportar seus grãos pelo Mar Negro, o trigo fechou em forte queda ontem na bolsa de Chicago.
Os contratos futuros do cereal que vencem em dezembro, os de maior liquidez, recuaram 6,26%, a US$ 8,46 por bushel, enquanto os papéis de segunda posição de entrega, para março, caíram 5,88%, para US$ 8,65 por bushel. Na manhã de ontem, representantes do governo russo confirmaram que voltariam a respeitar o acordo, diante das garantias de que o corredor de exportação seria usado apenas para o escoamento de cargas agrícolas.
A Rússia havia decidido suspender sua participação no acordo no sábado, após alegar que os ucranianos usaram a rota para promover ataques militares. Luiz Pacheco, analista da TF Consultoria Agroeconômica, disse que a Rússia concordou em retomar o acordo porque também será beneficiada. “O [Vladimir] Putin [presidente da Rússia] foi convencido a voltar com o acordo, pois a Rússia tem uma grande safra de trigo para colher neste ano, que pode superar 100 milhões de toneladas.
A Rússia quer exportar parte dessa produção, e uma retaliação ao acordo não é a melhor solução para isso”, disse Pacheco. Ele observou que, com a queda de ontem, as cotações praticamente voltaram ao nível de 23 de fevereiro, dia da invasão russa na Ucrânia. “Podemos dizer que o mercado voltou à estaca zero, pois já precificou o corredor de grãos e a guerra, por isso, os preços não devem ficar muito longe de US$ 7,50 a US$ 8,50 por bushel. Na melhor das hipóteses pode ir a US$ 9,50, mas só se for confirmada uma quebra na Argentina e na Austrália”, complementou o analista.
Com a rota segura de escoamento restabelecida, a Ucrânia está otimista de que o acordo será estendido além do término do prazo inicial previsto, em 19 de novembro. Desde a assinatura do pacto entre Rússia e Ucrânia, em julho deste ano, 9,7 milhões de toneladas de grãos deixaram a Ucrânia, conforme informações da Organização das Nações Unidas (ONU). O milho acompanhou o tombo do trigo em Chicago.
Os contratos do cereal para dezembro, os mais negociados, fecharam em queda de 1,47%, a US$ 6,875 por bushel, e os papéis para março do ano que vem recuaram 1,39%, a US$ 9,9275 por bushel. Como no trigo, a Ucrânia é um player importante no comércio de milho, e por isso o restabelecimento do corretor de exportações pesa sobre as cotações. Outra notícia relevante para o mercado foi a lista que a Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) publicou com 136 estabelecimentos brasileiros habilitados a exportar milho ao país asiático.
A autorização era o passo que faltava para o início dos embarques do cereal nacional àquele mercado. A lista foi enviada pelo Ministério da Agricultura do Brasil após auditoria nos estabelecimentos, exigência incluída pelos chineses no protocolo de exportação de milho assinado recentemente entre os dois países.
Ontem, a GACC publicou uma atualização das empresas autorizadas e incluiu as unidades brasileiras exportadoras pela primeira vez.
Foram habilitadas unidades exportadoras de 14 Estados. São 53 estabelecimentos localizados em Mato Grosso, 24 no Paraná, 20 em São Paulo, oito em Goiás, sete em Santa Catarina, cinco no Rio Grande do Sul, quatro na Bahia, quatro no Espírito Santo, três no Maranhão, três em Mato Grosso do Sul, dois no Pará, um em Minas Gerais, um em Rondônia e um no Piauí.
Grandes tradings multinacionais presentes no Brasil, como Bunge, Louis Dreyfus Company, Cargill e Cofco International estão entre as donas de unidades exportadoras autorizadas a embarcar milho aos chineses. As brasileiras Amaggi e 3tentos também tiveram plantas habilitadas, bem como cooperativas como Coamo e C.Vale.
Ao todo, 51 empresas estão na lista. Dos 136 estabelecimentos autorizados a exportar milho para a China, nove também são registrados como terminais de grãos e três como exportadores portuários.