O governo brasileiro busca construir um consenso no bloco dos países que integram o Mercosul para rechaçar o controle sobre o preço dos alimentos. A rejeição à tese levantada pelo governo francês foi levada pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi, ao Conselho Agropecuário do Sul (CAS), reunido na capital da Argentina nesta quinta-feira, 31 de março.
“O Brasil não aceita a tese de que seja possível regular os preços das commodities com intervenções bruscas no mercado ou criando estoques de alimentos. Os preços (dos alimentos) só sofrerão menor impacto se aumentarmos a oferta de produtos agropecuários”, disse Wagner Rossi. “Não se pode punir os produtores dos países emergentes porque eles conseguem entregar seus produtos com mais eficiência e a preços competitivos”.
A volatilidade no mercado de alimentos será um dos temas a serem discutidos pelo chamado G20, o grupo dos países mais ricos do mundo, durante reunião em Paris, no final de junho. A tese do controle está sendo defendida publicamente pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. A expectativa de Rossi é que os outros cinco países que integram o Conselho Agropecuário do Sul – Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai – mostrem-se sensíveis ao tema e rechacem a proposta francesa.
“Durante anos, os preços dos alimentos permaneceram deprimidos e nenhum dos grandes países nos procurou para tratar do assunto. Agora, quando os preços estão altos, querem punir aqueles que vêm fazendo o seu melhor? Não dá para aceitar”, comentou. “Isso é para ser visto no mínimo com desconfiança”. Rossi concedeu entrevista coletiva ao lado do ministro da Agricultura da Argentina, Julian Domínguez.
O brasileiro comentou que fora da América Latina são poucos os países que podem contribuir nos próximos anos para ampliar a oferta de alimentos. “Por isso, insisto: os preços só baixarão com aumento de produção. Qualquer outra proposta para diminuir preços é manipulação”, disse.
De acordo com Rossi, Brasil, Argentina e Uruguai são alguns dos grandes fornecedores mundiais de alimentos e têm posição semelhante quanto à tese do controle de preços. Mas ainda não há consenso, inclusive por parte de outros vizinhos, que dependem das importações para o abastecimento de seus mercados internos de alimentos.
Além de Rossi e Domínguez, participam da reunião do conselho os ministros Nemesia Achacollo (Bolívia), José Antonio Galilea (Chile) e Enzo Cardozo (Paraguai). O vice-ministro de Agricultura do Uruguai, Daniel Garín, representou o titular, Tabaré Aguerre, que não pôde comparecer ao encontro. Também acompanhou os debates o diretor geral do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA), Víctor Villalobos.