Os preços dos principais produtos agropecuários comercializados no país caminham para encerrar o ano em patamares ainda elevados, mas a desaceleração observada no terceiro trimestre fez a escalada arrefecer, e a expectativa de crescimento das ofertas domésticas em 2023 pressiona os mercados.
Em linhas gerais, é o que aponta a nota “Preços e Mercados Agropecuários”, recém-concluída por Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Soja
No mercado de soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, o indicador Cepea/Esalq para a saca de 60 quilos negociada no Paraná encerrou o terceiro trimestre com valor médio 2,3% menor que em igual período de 2021, o que reduziu a alta acumulada nos dez primeiros meses do ano para 11,8%. Essa variação positiva é sustentada, em boa medida, pela quebra na safra 2021/22 na região Sul e em parte de Mato Grosso do Sul.
Segundo os autores do trabalho, também colaboraram para essa alta até outubro a elevação das tarifas de exportação de farelo e óleo de soja na Argentina e a invasão da Ucrânia pela Rússia. A queda do petróleo e os riscos de recessão global, contudo, desidrataram os preços entre julho e outubro, num movimento fortalecido pela queda de demanda na China. O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo, e o país asiático lidera com folga as importações.
Milho
No mercado de milho, o indicador Esalq/BM&FBovespa para a saca de 60 quilos caiu 5,1% no terceiro trimestre ante igual intervalo do ano passado, e com isso de janeiro a outubro a variação também passou a ser negativa (4,3%). A safrinha recorde colhida neste ano pesou sobre as cotações domésticas, mas as cotações ainda encontraram algum suporte nos reflexos negativos da guerra sobre as exportações ucranianas, que gerou cotações recorde do cereal no mercado internacional em maio.
Trigo
O indicador Cepea/Esalq para a saca de 60 quilos do trigo negociada no Paraná, por sua vez, recuou 3,6% no terceiro trimestre, mas ainda encerrou os dez primeiros meses do ano com aumento de 22%. Entre os grãos, o trigo foi o que mais subiu por causa da guerra, tendo em vista o peso da Ucrânia no mercado, e problemas climáticos que afetaram as produções de Argentina e EUA também colaboraram para o salto das cotações. Mas a boa colheita no Brasil, apesar das fortes chuvas no Paraná, tirou parte do suporte.
Proteínas animais
Entre as proteínas animais, Ipea, Conab e Cepea destacam que o indicador Cepea/B3 para a arroba do boi gordo caiu 3,6% no terceiro trimestre, mas mesmo assim houve alta de 6,2% de janeiro a outubro. No caso do quilo da carcaça especial suína, houve alta de 9,4% no trimestre e queda de 8,9% até outubro, e no frango abatido (inteiro e resfriado) as variações do preço do quilo foram apenas positivas — 2,8% e 8,4%, respectivamente.