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Agricultura

Problemas da agricultura não estão somente 'da porteira para fora', afirma professor da USP

Os problemas da agricultura brasileira não estão restritos apenas da porteira para fora, como dizem alguns profissionais do setor.

Problemas da agricultura não estão somente 'da porteira para fora', afirma professor da USP

Os problemas da agricultura brasileira não estão restritos apenas da porteira para fora, como dizem alguns profissionais do setor. É o que afirmou João Eduardo de Morais, professor da Universidade de São Paulo (USP) e diretor da Elabora Consultoria no 4ª Congresso Brasileiro de Fertilizantes, organizado pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).

Para ele, falar que tudo vai bem na agricultura “da porteira para dentro” não é realista. “É verdade mesmo que vai tudo bem? Ou é verdade que a ferrugem da soja era combatida com duas aplicações e tem gente aplicando oito? E o bicudo 12?”.

De acordo com ele, os preços chineses escondem a queda de rendimento e o aumento de custos da produção agrícola brasileira. “A rentabilidade permanece porque os chineses insistem. Os preços elevados continuam sustentando os valores crescentes de pacotes tecnológicos que vêm perdendo eficácia”.

Furtado acredita que “está na hora de pensarmos em rediscutir a dicotomia porteira pra dentro e para fora e construir agenda de abordagens inovadoras para reconstruir o agronegócio brasileiro”. Ele ainda questionou se essa dicotomia ajuda o setor a construir o caminho para o futuro ou se está na hora de procurar outro ângulo.

O professor disse que existem muitos problemas para fora da porteira, mas dentro também. Para ele, é necessário integrar os dois mundos: a agricultura com a indústria e os serviços. “A agricultura pode ser mais dinâmica e produzir mais riqueza se estiver integrada ao setor industrial e de serviços”. Ele citou o uso de previsões climáticas feitas a partir de simulações por computador como exemplo. E pontuou que a integração da agricultura com as soluções modernas da indústria e dos serviços envolve coordenação de ações e compartilhamento de uma mesma visão do futuro.

Furtado ressaltou a importância de uma integração também entre público e privado, pois o desenvolvimento do setor depende de ambas as partes. “É impossível enfrentar nossos problemas se não formos capazes de superar dicotomia Estado-mercado, empresas-governo. Só se faz se for construído com uma convergência que dure”. “Quero substituir dicotomia por engrenagem compartilhada”.

Ciência

“A agricultura brasileira é grande demais, forte demais para se contentar em receber pronto pacote tecnológico que foi desenvolvido para condições diferentes das nossas”, ressaltou. Para ele, é preciso acreditar nas soluções técnológicas nacionais. “A falta de reconhecimento que temos na nossa capacidade cientifica leva a nos subestimarmos”.

Quando questionado sobre se a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) perdeu eficácia, Furtado respondeu que ela já foi mais vigorosa e só reconquistará a efetividade por meio de estímulos também do setor privado. “Embrapa perdeu efetividade porque problemas se mostraram mais complexos também”.

Futuro

“Assim como não tínhamos razões tão fortes para sermos otimistas em 2011, não temos para sermos tão pessimistas como estamos sendo no presente”, afirmou. Para ele, o país sempre reagiu bem à grandes crises, mas tropeça nos pontos menores do cotidiano. Ele ainda frisou que os motivos positivos permanecem, mas é preciso organizar o futuro de forma mais bem fundada, sem excessivo pessimismo ou otimismo.

No setor agrícola, ele disse que o planejamento estratégico como processo de antecipação de possibilidades futuras não está sendo feito adequadamente. Para ele, o estímulo dos chineses à agricultura mundial continuará e isso levará ao surgimento de novos países produtores e ao consequente aumento da oferta e da competição com os produtos nacionais. “A África se tornará poderoso competidor do mercado agrícola nos próximos 20 anos.”