Crescimento recorde, mas recuperação desigual. O Produto Interno Bruto (PIB) da China subiu 18,3% em ritmo anual no primeiro trimestre, um dado que deve ser relativizado porque as atividades econômicas foram paralisadas no início do ano passado pela pandemia.
Há um ano, o PIB da China teve queda de 6,8% no primeiro trimestre, o pior resultado econômico em 44 anos. A melhora progressiva das condiciones sanitárias a partir da primavera (hemisfério norte) de 2020 permitiu que a economia chinesa se recuperasse ao nível pré-pandemia no fim do ano passado.
E o país foi um dos poucos que registrou crescimento em 2020 (+2,3%).
“De modo geral, a recuperação prosseguiu no primeiro trimestre”, afirmou a porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas, Liu Aihua.
O nível registrado é um recorde desde o início da publicação dos resultados trimestrais do PIB da China, em 1992.
A forte aceleração do Produto Interno Bruto da China era previsível. Um painel de analistas consultado pela AFP projetou um resultado ainda maior (18,7%). “As bases da recuperação devem ser consolidadas”, advertiu Liu, em referência às “incertezas” persistentes no mundo pela pandemia.
Recuperação desigual
O bom resultado se deve principalmente à base de comparação com o início de 2020, quando a economia chinesas estava paralisada pelo vírus, admitiu Liu.
O dado de crescimento “não fornece informações sobre a dinâmica atual da economia”, adverte o analista Julian Evans-Pritchard da consultoria Capital Economics.
Apesar das precauções, o resultado oficial do PIB da China provoca muito interesse pelo peso do país na economia global.
“As exportações foram o principal motor do crescimento no primeiro trimestre”, em particular de produtos eletrônicos (para o teletrabalho) e de equipamentos médicos aos Estados Unidos e à União Europeia, explicou à AFP o economista Rajiv Biswas, do IHS Markit.
Em março, as exportações chinesas permaneceram sólidas (+30,6% em ritmo anual), quando grande parte do mundo ainda estava muito afetado pela pandemia. “Mas a recuperação continua sendo desigual, com o consumo das famílias em queda devido ao desemprego”, destacou recentemente o analista Qu Hongbin, do banco HSBC.
As vendas no varejo, principal indicador do consumo, subiram 34,2% em ritmo anual em março, contra 33,8% de janeiro-fevereiro. Mas alguns setores encontram dificuldades para retomar o nível pré-pandemia, como o transporte aéreo e ferroviário, que alcançam 60% no máximo de suas capacidades.
“A recuperação total do consumo das famílias depende da campanha de vacinação e de uma melhora do mercado de trabalho”, afirmou o analista da Oxford Economics Louis Kuijs.
A taxa de desemprego, calculada apenas para as zonas urbanas, foi de 5,3% em março, depois de atingir o máximo histórico de 6,2% em fevereiro de 2020 devido à pandemia. Mas o quadro está incompleto: o desemprego não leva em consideração os quase 300 milhões de trabalhadores de origem rural, que foram muito afetados no ano passado pela epidemia.
A produção industrial chinesa progrediu em março 14,1% em ritmo anual, contra 35,1% de janeiro e fevereiro em conjunto. Os investimentos em capital fixo registraram crescimento de 25,6% desde o início do ano e até março.
Recuperada do impacto da pandemia, a China projeta um crescimento de pelo menos 6% este ano (dado mais modesto que as previsões dos economistas).
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um aumento de 8,4% do PIB da segunda maior economia mundial.