A queda na produção de etanol no Brasil na atual safra, a 2011/12, pode fazer com que o país tenha de importar volumes recordes do biocombustível para atender à sua demanda por anidro, que é misturado à gasolina. A consultoria Datagro, que ontem revisou novamente para baixo a moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul, prevê que o país terá que trazer do exterior em torno de 1,49 bilhão de litros no atual ciclo, que vai até março de 2012. Na temporada passada, desembarcaram no país 455 milhões de litros de etanol.
A última vez que o Brasil importou volume semelhante foi em 1995, quando 1,417 bilhão de litros foram adquiridos no exterior. Na época, entre outras razões, havia risco de desabastecimento interno. Além disso, como hoje, os preços do açúcar estavam mais remuneradores, e as usinas maximizavam a produção do adoçante.
Nos três primeiros meses da atual safra – entre maio e julho – já entraram no país 308,11 milhões de litros de etanol. “O restante entrará ao longo deste ano até o início de 2012”, diz o presidente da Datagro, Plínio Nastari.
As geadas que, em 27 e 28 de junho atingiram os canaviais do Centro-Sul, foram as principais responsáveis pela revisão recente, diz Nastari. A empresa prevê agora uma moagem de 517,36 milhões de toneladas de cana na região, 2,14% menor do que estimava em junho (528,72 milhões de toneladas) e 7,09% abaixo dos 556,88 milhões da safra passada.
Segundo Nastari, outras revisões para baixo ainda podem ser feitas nos próximos meses. Isso porque os atuais números ainda não contemplam os efeitos da geada do início deste mês.
Ele acredita, no entanto, que a tendência para o ano que vem é de uma importação menor de etanol. A expectativa é de que os preços do açúcar fiquem menos atrativos do que os do etanol, estimulando as usinas a um mix mais alcooleiro.
Mesmo maximizando a fabricação de açúcar, as usinas do Centro-Sul, que processam 89% da cana do Brasil, não conseguirão produzir tudo o que esperavam, segundo a Datagro. Em vez de 32,80 milhões de toneladas, como previsto em junho, a região deve fabricar um volume de 31,85 milhões de toneladas da commodity. Isso deve afetar as exportações do produto, diz Nastari, que tendem a recuar de 23,30 milhões de toneladas, segundo previsão de junho, para 22,35 milhões de toneladas. Em relação à safra 2010/11, os embarques podem cair 3,58%.
Beneficiada por um clima mais favorável, a região Nordeste deve moer mais cana do que no ciclo anterior, segundo a Datagro. A previsão é de 67,3 milhões de toneladas, ante as 64,5 milhões de toneladas do ciclo 2010/11. A entrada de Tocantins na estatísticas (com a usina de Pedro Afonso, da Bunge) e o aumento do volume de cana em Alagoas e na Bahia explicam a alta nordestina.