A ractopamina é frequentemente utilizada na suinocultura brasileira, principalmente para suínos em fase final de acabamento. Sua utilização tem por objetivo alterar a dinâmica de deposição tecidual, aumentando a deposição muscular em detrimento ao tecido adiposo (Gunawan et al., 2007).
A maior deposição muscular nos animais suplementados com ractopamina, pode aumentar a demanda principalmente por aminoácidos, alterando as exigências nutricionais dos suínos (Webster et al., 2007; Andretta et al., 2011).
Segundo Apple et al. (2004) a ação da ractopamina é influenciada por diversos fatores dietéticos, como concentração de lisina e energia metabolizável. Entretanto, diversos trabalhos demostraram que a o aumento da energia metabolizável acima do requerimento parece ter efeito pouco evidente sobre o desempenho e características de carcaça de suínos consumindo ractopamina (Williams et al., 1994; Dunshea et al., 1998; Apple et al., 2004). Já o aumento da deposição muscular pode estar relacionado com maior necessidade aminoacídica na dieta, principalmente da lisina, devido à relação direta entre a mesma e a deposição muscular (Apple et al., 2004).
Suínos consumindo ractopamina alteram o perfil aminoacídico depositado no músculo esquelético. A concentração de lisina depositada no músculo de suínos suplementados aumenta de 6,80 para 7,15% (Schinckel et al., 2003). Sendo este um indicio de que a concentração de lisina dietética deva ser aumentada para que a ractopamina alcance seu máximo efeito.
Em estudo meta-analítico, Andretta et al. (2012) relataram que em suínos consumindo ractopamina, o aumento da área de olho de lombo está positivamente correlacionado com o aumento da concentração de lisina dietética. Além disso, suínos suplementados com ractopamina consumindo quantidade superior de lisina e correção da relação aminoacídica, apresentam 14% a mais de ganho de peso, 17% a mais de carne na carcaça e 34% a menos de gordura, quando comparado a animais suplementados, mas, com conteúdo de lisina normal.
Webster et al. (2007) realizaram um estudo avaliando níveis de ractopamina (0, 5 e 10 ppm) e níveis de lisina (0,6; 0,8; 1,0; 1,2; 1,4%) para suínos em terminação. Os
pesquisadores relataram que quando os animais consomem 5 ppm de ractopamina o nível de lisina que promove melhor resultado é 1,0%. E quando os animais são suplementados com 10 ppm, o melhor nível de lisina a se utilizar é 1,2%.
No Brasil, o principal manual de referências nutricionais, elaborado por Rostagno et al., (2017) sugere aumento na exigência de lisina de acordo com a concentração de ractopamina utilizada e o tempo suplementado. Segundo os autores, em um período de suplementação de 28 dias, com as concentrações de 5, 10, 15, e 20 ppm de ractopamina
deve haver aumento no fornecimento de lisina digestível de 0,123, 0,146, 0,167, 0,187% respectivamente. Considerando a exigência de suínos machos castrados, isso refletiria em um aumento de 18,9% na contração de lisina da dieta sem suplementação para a dieta com 20 ppm de ractopamina.
Todavia, Souza et al., (2019) avaliaram níveis de lisina digestível em dietas sem e com 10 ppm de ractopamina, e relataram que 0,73% de lisina em dietas foi adequado para suínos castrados sem suplementação, já para os animais suplementados a concentração de 1,03% de lisina nas dietas promoveu melhor desempenho e características de carcaça. Desta forma, para o máximo efeito da adição de 10 ppm de ractopamina foi necessário um incremento de 29% de lisina digestível.
Há coerência de que a ractopamina aumenta o requerimento nutricional de lisina, mas a concentração ideal ainda necessita ser estabelecida. Além disso, os resultados de pesquisa referentes ao requerimento de lisina de acordo com a suplementação de ractopamina são variados devido à divergência de tempo de suplementação, genótipo utilizado e concentração de ractopamina.
De maneira geral, o aumento entre 19 a 20% de lisina digestível em dietas suplementadas com ractopamina, apresenta bons resultados de desempenho e características de carcaça (Marcolla et al., 2017; Brustolini et al., 2019), sendo este aumento aconselhado até a novos trabalhos determinarem a real variação da exigência
aminoacídica com o uso da ractopamina. Ademais, é importante ressaltar que com o aumento do fornecimento de lisina é necessário ajustar os demais aminoácidos mantendo a relação adequada com a lisina digestível, como preconizada por Rostagno et al., (2017).
Referências Bibliográficas
Andretta, I. et al. Meta-analysis of the relationship between ractopamine and dietary lysine levels on carcass characteristics in pigs. Livestock Science, v. 143, n. 1, p. 91-96, 2012.
Andretta, I. et al. Relação da ractopamina com componentes nutricionais e desempenho em suínos: um estudo meta-analítico. Ciência Rural, v. 41, n. 1, p. 186-191, 2011.
Apple, J. K. et al. Effects of dietary lysine and energy density on performance and carcass characteristics of finishing pigs fed ractopamine. Journal of Animal Science, v. 82, n. 11, p. 3277-3287, 2004.
Brustolini, A. P. L. et al. Interactive effects of feed allowance and ractopamine supplementation on growth performance and carcass traits of physically and immunologically castrated heavy weight pigs. Livestock Science, v. 228, p. 120-126, 2019.
Dunshea, F. R. et al. Interrelationships between dietary ractopamine, energy intake, and sex in pigs. Australian Journal of Agricultural Research, v. 49, n. 4, p. 565-574, 1998.
Gunawan, A. M. et al. Ractopamine induces differential gene expression in porcine skeletal muscles. Journal of Animal Science, v. 85, n. 9, p. 2115-2124, 2007.
Marcolla, C. S. et al. Chromium, CLA, and ractopamine for finishing pigs. Journal of Animal Science, v. 95, n. 10, p. 4472-4480, 2017.
Rostagno, H. S. et al. Tabelas brasileiras para aves e suínos. Composição de alimentos e exigências nutricionais, v. 2, p. 186, 2011.
Schinckel, A. P. et al. Development of a model to describe the compositional growth and dietary lysine requirements of pigs fed ractopamine. Journal of Animal Science, v. 81, n. 5, p. 1106-1119, 2003.
Souza, M. F. et al. Effect of ractopamine on digestible-lysine requirement for finishing barrows under thermoneutral conditions. Animal Production Science, v. 59, n. 3, p. 531- 542, 2019.
Webster, M. J. et al. Interactive effects between ractopamine hydrochloride and dietary lysine on finishing pig growth performance, carcass characteristics, pork quality, and tissue accretion. The Professional Animal Scientist, v. 23, n. 6, p. 597-611, 2007.
Williams, N. H. et al. The impact of ractopamine, energy intake, and dietary fat on finisher pig growth performance and carcass merit. Journal of Animal Science, v. 72, n. 12, p. 3152-3162, 1994.