A elevada idade média de seus quadros e o grande número de servidores cedidos a outras áreas do governo são os dois maiores problemas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), avalia o novo presidente da estatal, Rubens Rodrigues. Indicado ao cargo pelo líder do PTB, Jovair Arantes (GO), o ex-gerente nacional na área de habitação da Caixa diz ainda que vai acelerar os processos de investigação na estatal, constante alvo de denúncias.
Segundo Rodrigues, a idade média dos especialistas da estatal beira os 60 anos, e um quarto de todos os seus 4 mil servidores prestam serviços em outros lugares. “Estes empregados oneram a folha de pagamento sem produzir. Obviamente, estão sendo utilizados em outros locais, mas estão fazendo falta”, afirmou Rodrigues ao Valor.
Para resolver a primeira parte do problema, Rodrigues diz que é preciso finalizar o fundo de pensão da Conab ainda neste ano. Segundo ele, o Instituto Conab de Seguridade Social (Cibrius) vai “dar um empurrão” para que quase 900 servidores que já passaram da idade de se aposentar possam deixar a companhia, abrindo caminho para uma renovação. Com o plano do INSS, explica, é mais vantajoso trabalhar até a aposentadoria compulsória, aos 70 anos.
O desejo de Rodrigues é realizar um concurso público, mas o governo ainda não emitiu qualquer sinal sobre a possibilidade. “Precisamos fazer concurso para renovar a companhia”, diz. Um eventual retorno de servidores cedidos a outros órgãos também melhoraria a situação. “A falta de funcionários reflete na escassez de mão-de-obra para operar as políticas que são responsabilidade da Conab executar. A ausência prejudica, inclusive, outros colegas, que ficam sobrecarregados”, diz.
Rodrigues afirma que, desde a sua posse, no último dia 7, trabalha para acelerar os processos de investigação para colocar “ordem” nos passivos da empresa, cuja estrutura está “repleta de vícios”. A Conab é alvo de denúncias de irregularidades que acabaram derrubando o então ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Entre as denúncias, estavam supostos pagamentos a empresas fantasmas e desvios, assuntos que, segundo Rodrigues, estão “sendo resolvidos”. “Temos duas situações diferentes. A primeira são os casos que a própria Advocacia-Geral da União [AGU] está tocando. A outra é que a corregedoria interna tem aberto processos administrativos”, afirma.
Ele cita ainda a investigação de um suposto esquema para burlar a aquisição de grãos em leilões públicos. Segundo denúncias, compradores nos leilões de PEP (o Prêmio de Escoamento da Produção) estariam descontando dos produtores uma parte do valor oferecido pelo prêmio, a fim de receber um “um percentual de volta”. Embora “simples”, o esquema é difícil de ser rastreado, pondera Rodrigues. “Digamos que um agricultor tenha um produto no mercado ao preço de R$ 10. O adquirente diz que vai pagar R$ 12 ou R$ 13, mas cobra a diferença [do preço de mercado] de volta”, diz. “Essa ação de mercado é entre arrematante e produtor, e está fora da nossa gestão. Por isso, já acionamos a polícia e o Ministério Público”, diz.