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Reportagem da Folha de São de Paulo recebe parabenização da UBA

<p>O suplemento Equilíbrio, publicado ontem (18/01) pelo jornal, trouxe reportagem que quebra o mito sobre o uso de hormônios na produção de frangos.</p>

Redação (19/01/07) – O presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA), Zoé Silveira dAvila, encaminhou uma carta de parabenização ao jornal Folha de São Paulo e às jornalistas Flávia Mantovani e Tatiana Diniz, pela publicação da reportagem “Diferença da Granja”, veiculada no suplemento semanal Equilíbrio nesta quinta-feira (18/01). A reportagem destaca as diferentes produções de frangos (convencionais, verdes e orgânicos) e esclarece que os mesmos, em qualquer um desses tipos de criação, não recebem hormônios para crescer de forma mais rápida: “é o melhoramento genético que responde pelo crescimento rápido”, destaca o subtítulo da reportagem.

Segundo a carta do presidente da UBA, “a matéria demonstrou sensibilidade e responsabilidade em tratar de assunto que ainda é cercado de preconceitos pela sociedade brasileira. A suspeita do uso de hormônios é um mito que se perpetua pela desinformação. Acreditamos que qualquer veículo comprometido com a verdade deva exercer suas funções de auxiliar a opinião pública com seriedade”. O Dr. Zoé ainda frisou em seu texto: “A postura da Folha de São Paulo é louvável e a coloca em um patamar diferenciado, já que enfrentamos também preconceitos e falta de informação em outros veículos de informação”.

É… parece que a grande imprensa (veículos não específicos do agronegócio) está começando a entender e a valorizar a importância e a potencialidade da avicultura brasileira, buscando informações técnicas e atualizadas com os profissionais do setor e não apenas reproduzindo mitos e crendices populares (que infelizmente vemos muito por aí) sobre a produção de frangos e ovos.

Veja abaixo a íntegra da reportagem do suplemento Equilíbrio do jornal Folha de São Paulo:

Diferença na granja

Hormônios de crescimento não são usados em aves para corte – é o melhoramento genético que responde pelo crescimento rápido; veja diferenças entre criações convencionais, “verdes” e orgânicas

Sempre citada como alternativa saudável à carne vermelha, a carne de frango deixou de ser um produto simples de escolher. Nas prateleiras, variações mais caras como o frango “verde” e o orgânico chamam a atenção do consumidor. Afinal, além do preço, que diferença vem com as novas opções?

“Não tem hormônio. ” Essa costuma ser uma resposta comum. Na esteira de um sistema produtivo em que aves vivem cerca de 45 dias entre sair do ovo e ir ao abate, o mito do uso de hormônios de crescimento na avicultura ganhou força. “Spams” alertam sobre o risco de puberdade precoce em crianças. De leigos a médicos, não é raro encontrar quem cite o “frango cheio de hormônio” como um perigo à saúde.

Mas hormônios de crescimento, ou substâncias anabolizantes, não são empregados na criação de aves. O que há é o uso de compostos promotores de crescimento produzidos pela indústria farmacêutica -geralmente por laboratórios que também fazem medicamentos para humanos.

Os especialistas garantem que o medo do hormônio não passa de um mito. “É um grande mal-entendido. Não existe nenhuma possibilidade de haver uso de hormônio em frangos de corte. Os animais não respondem a essa substância”, explica a professora Andréa Machado Leal Ribeiro, coordenadora do laboratório de nutrição animal do departamento de zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O pesquisador Gerson Scheuermann, da Embrapa Suínos e Aves (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), diz que, como qualquer outro animal, os frangos têm hormônios naturais. “Mas não são usados hormônios exógenos na criação”, afirma o agrônomo, doutor em produção animal.

Melhoramento genético

Segundo os pesquisadores, o melhoramento genético feito durante décadas é um dos grandes responsáveis pelo maior ganho de peso em pouco tempo. “Ano após ano, são selecionadas as melhores aves, as que ganham mais peso, as que têm melhor performance”, esclarece Scheuermann.

O melhoramento é impulsionado, segundo Ribeiro, pelo fato de a galinha ter muitos pintinhos, o que permite fazer uma seleção melhor. “A vaca, por exemplo, tem um bezerro por ano. Já a galinha bota 280 ovos anualmente”, compara. “Nossas avós conheciam um frango diferente do que temos hoje. Em duas gerações, a ave mudou muito. As pessoas simplificam e acham que foram os hormônios”, completa.

Segundo ela, estudos já avaliaram o uso de hormônios em aves, mas os resultados não foram bons. “Não encontraram nada que estimulasse o crescimento além do próprio potencial genético do animal.”

Os avanços na nutrição (com rações consideradas mais balanceadas do que a dieta de humanos), o controle ambiental (com regulagem de luz e de temperatura) e o desenvolvimento na prevenção e no tratamento de doenças também são apontados como fatores que fazem o frango crescer rápido.

Promotor de crescimento

Apesar de não serem utilizados hormônios, criadores convencionais colocam na ração os promotores de crescimento. São antibióticos usados em dosagem muito menor do que a recomendada para fins terapêuticos. Por melhorarem as condições do intestino dos animais, evitando diarréias, os produtos fazem com que aproveitem melhor o que comem.

Em muitos países da Europa, essas substâncias são proibidas. O argumento é que elas poderiam contribuir para a resistência das bactérias aos antibióticos, tornando os remédios desse tipo ineficazes para doenças humanas.

“É uma discussão recente no mundo, às vezes acalorada. A principal causa da resistência bacteriana são os antibióticos usados pelos próprios humanos. Além disso, a substância não se deposita nos músculos dos animais nem deixa resíduos”, diz Scheuermann.

A segurança dos antibióticos não é unanimidade. “Ninguém pode dizer com certeza que não deixam resíduos. Exames não detectam moléculas inteiras dessas substâncias. Quimicamente, os resíduos podem ter outra estrutura”, observa Luiz Carlos Demattê Filho, gerente de produção animal da Korin. A empresa, seguidora dos princípios da agricultura natural da Igreja Messiânica, não faz uso de antibióticos nas criações de frangos.

Mesmo entre os criadores convencionais, a prática é suspender a inclusão dessas substâncias na ração nos sete dias que antecedem o abate. E, devido às restrições européias, os produtores brasileiros vêm trocando o uso delas por alternativas como extratos vegetais, probióticos e enzimas.

Do ovo ao frango

Para saber de onde vêm as opções de frango que hoje disputam as panelas, a reportagem da Folha visitou três diferentes criadouros de aves -um convencional (Amarelinho), um do tipo “verde” (Korin) e um orgânico certificado (Coq).

Cada uma das granjas produtoras segue um modelo específico de manejo, sendo as duas últimas inspiradas em princípios de equilíbrio ecológico e de baixo impacto ambiental.

Aprovar ou não a presença de antibióticos promotores de crescimento misturados à ração é o primeiro ponto que as diferencia. A ele, somam-se preocupações com a densidade de animais nos alojamentos e a exposição à luz. Nos galpões, é comum que o período de claridade seja estendido para que os frangos comam mais.

Nas criações convencionais de frango, recorre-se aos antibióticos com freqüência. “São fórmulas reguladoras do intestino. Evitam desperdício de ração e desconforto para os animais”, explica o veterinário Carlos Zanchetta, que supervisiona as criações de frango da marca Amarelinho (convencional), no interior de São Paulo.

Os 200 produtores parceiros da marca recebem pintos criados durante um ciclo de 45 dias e alimentados com lotes de ração feitos seguindo essa premissa. Crescem confinados em galpões em que até doze frangos dividem o mesmo metro quadrado. Têm cerca de quatro horas diárias de escuro.

Nos frangos do tipo “verde”, da Korin, também no interior de São Paulo, a regulação intestinal das aves é feita com probióticos (microorganismos vivos, como lactobacilos).

O frango da Korin não é orgânico porque o milho e o farelo de soja usados na ração não são oriundos desse modo de cultivo. A densidade de aves na granja visitada é maior do que a da convencional, mas os animais têm duas horas diárias a mais de escuro. O tempo de vida supera o da convencional em apenas dois dias.

“Foram dez anos de pesquisa até chegarmos a esse sistema, que concentra preocupações com as cadeias ambiental e social”, comenta o gerente de produção animal Luiz Carlos Demattê Filho.

Orgânico

Visualmente, não há diferenças entre a granja convencional e a granja “verde”. Já na Domaine Agroecológica, no interior do Espírito Santo, a diferença é evidente.

Ali são criadas as aves da marca Coq, que levam o selo de orgânicas certificadas do IBD (Instituto Biodinâmico, certificadora de produtos orgânicos; é possível conferir produtos certificados no site www.ibd. com.br).

No modo orgânico, os animais passam o dia no pasto, e a densidade de alojamento é de cinco aves por metro quadrado.

São protegidos com receitas naturais: recebem doses diárias de alho, própolis e plantas medicinais. Além da ração feita com milho e sojas orgânicos, comem vegetais e leguminosas de hortas desse tipo.
A marca Coq vende frangos, galinhas e galos. “São aves caipiras, pois a branca é menos resistente e não suportaria esse tipo de criação”, explica a produtora Isabelle Cicatelli. O que difere o branco do caipira é a linhagem. Nutricionistas afirmam que os dois tipos são equivalentes como alimento.

Frangos orgânicos vivem 90 dias e não recebem luz artificial. Galinhas e galos vivem 18 meses, tempo do ciclo reprodutivo, e podem receber luz artificial dependendo da idade e da época do ano, mas têm pelo menos oito horas de escuridão.

“Na criação orgânica, o manejo é preventivo e tem de ser bem seguido. Já um frango criado confinado não experimenta as condições naturais da sua espécie durante a vida. A carne não será natural”, comenta Cicatelli.

Há quem questione. “Esses frangos têm acesso à parte externa, o que cria maior possibilidade de contato com pássaros silvestres, que transmitem a gripe aviária, por exemplo. Tanto que, em 2006, a Embrapa recomendou que as aves fossem fechadas, temporariamente, para evitar o risco de contaminação”, diz Gerson Scheuermann, da Embrapa.

Nos três modos de criação, as aves recebem vacinas estipuladas por lei e suplementação vitamínica pré-fabricada misturada à ração.

Derivados

Caldos de frango em tabletes, “nuggets”, empanados e salsichas são feitos com as sobras de cortes dos animais -as aparas do peito ou da coxa, por exemplo. Pele e cartilagem também podem entrar na receita. (Flávia Mantovani e Tatiana Diniz, da reportagem local)