O setor de frango foi bastante afetado pela crise financeira mundial em 2009. A queda da produção no início do ano chegou até a causar aumento de preços. Contudo, a interrupção do ritmo crescente das exportações combinada com a retomada da produção a partir de maio gerou excedente de carne de frango no mercado interno, pressionando as cotações.
Exportação
Apesar do volume recorde exportado em abril – 308 mil toneladas -, as exportações de carne de frango devem fechar este ano com recuo de 1,5% na comparação com 2008. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), até o mês de novembro foram embarcadas ao exterior 2,98 milhões de toneladas do produto, 1,7% menos que entre janeiro e novembro de 2008.
A pequena diminuição deveu-se quase que exclusivamente à crise mundial, que dificultou o acesso a crédito de alguns de nossos principais clientes, dificultando as compras. Em 2009, Rússia e Venezuela compraram apenas metade do adquirido no ano anterior – considerando o mesmo período analisado acima. Outro país importante na carteira brasileira que reduziu suas compras foi o Japão. Nos onze primeiros meses, foi embarcado um terço a menos que em igual período de 2008.
Quanto à receita, as quedas devem ser em torno de 10%. Entre janeiro e novembro, a indústria brasileira exportadora recebeu R$ 8,7 bilhões (Secex) pela venda de carne de frango ao exterior. Esse montante é 9,7% menor que o de igual período de 2008.
Além da queda na quantidade da carne, outro fator impactou negativamente no montante recebido pelas empresas foi o câmbio. Com a recuperação da economia nacional em ritmo superior ao da mundial, houve forte entrada de capital internacional, acarretando na valorização do Real em 28% no acumulado do ano (até o final de novembro). E como os preços internacionais valorizaram tímidos 6%, a cotação da tonelada de frango teve média de R$ 2.722,60 em novembro – 31% inferior à de novembro/08.
A boa notícia para este ano foi a entrada do produto brasileiro em alguns mercados importante, como a China. Até nov/09, este país havia comprado cerca de 16.800 toneladas, contra apenas 950 toneladas no ano anterior. Se considerarmos apenas o volume embarcado nos últimos meses, este país já está entre os 10 maiores clientes brasileiros.
Produção
A exemplo dos últimos seis anos, a produção de carne de frango começou o ano com redução. Em 2009, no entanto, devido às incertezas dos desdobramentos da crise, a produção entre os meses de janeiro e abril foi ainda inferior àquela vista em igual período de 2008. Nos meses seguintes, voltou a aumentar, retomando volumes anteriores à crise financeira mundial.
Dois fatores culminaram na redução do total produzido no início do ano. O primeiro foram as previsões pessimistas do mercado quanto ao consumo de carne tanto no mercado externo quanto no doméstico. Outro motivo foi a falta de crédito para produção, também advinda da crise. Muitos frigoríficos enfrentaram problemas no inicio do ano por não conseguirem dinheiro para continuar a produção. Alguns chegaram a parar o abate de animais. O caso mais notável de complicação financeira no setor foi protagonizado pelaSadia, que sofreu perdas de centenas de milhões de dólares com a desvalorização do Real frente à moeda americana e acabou precisando se fundir com a Perdigão, formando a Brasil Foods.
Com a melhora das exportações, jáno mês de março, as empresas começaram a aumentar o alojamento de matrizes em maio, acreditando que o mercado externo seguisse aquecido. Esse movimento resultou no recorde mensal de produção de carne de frango em agosto. De acordo com dados da Apinco (Associação dos Produtores de Pinto de Corte), naquele mês foram produzidas pouco mais de 1 milhão de toneladas da carne.
A expectativa de continuidade de bons embarques, contudo, não se confirmou e a produção adicional voltou-se para o mercado interno. Nesse cenário, a disponibilidade interna de carne de frango – que entre janeiro e abril foi 10% inferior à de igual período de 2008 – acumulou até setembro 5,6 milhões de toneladas, volume 2% superior ao do ano anterior.
Entre janeiro e setembro deste ano foram produzidas 8,073 milhões de toneladas de carne de frango, também segundo números da Apinco. Esse volume é bem próximo ao do mesmo período de 2008, de 8,068 milhões de toneladas.
Preços
Devido aos fatores de oferta e demanda apresentados, principalmente no primeiro semestre, os preços mantiveram-se no melhor nível dos últimos anos (veja figura 3). O excesso de oferta do a partir de meados do ano, no entanto, reduziu os preços para o segundo pior valor desde 2004 no mês de outubro – em termos reais, deflacionados pelo IPCA.
A cotação média mensal do frango congeladono atacado de São Paulo (capital), por exemplo, teve um leve recuou de 1,4%entre janeiro e março deste ano, com o produto negociado a R$ 2,75/kg na média de março. Logo após, com o mercado interno enxuto, os preços subiram, comportamento mantido até julho. De março a julho, ainda no atacado de São Paulo, o congelado valorizou 7,5%, comercializado a R$ 2,95/kg no último período.
Já em agosto, o excesso de carne no mercado interno causado pelo recorde de produção pressionou as cotações. Em outubro, o preço médio do congelado foiR$ 2,69/kg. Em novembro, houve nova inversão de tendência, guiada pela diminuição na oferta. Os preços, então, voltaram a subir para o mesmo valor observado em janeiro, R$ 2,79 (média de novembro). A alta entre a média de outubro e novembro foi de 3,5%.
No mercado de frango vivo, os preços se comportaram de forma semelhante ao visto no mercado de carnes. Como pode ser visto na figura 4, os preços do vivo no interior de São Paulo estiveram bastante voláteis no início do ano, com o animal valendo 7,3% mais no final do primeiro semestre que em janeiro. O excesso de produção no início do segundo semestre fez com que os preços reduzissem 23%entre junho e setembro, para R$ 1,41/kg, na média do último mês.
Particularmente no Estado de São Paulo, no final de outubro e ao longo do mês de novembro, agentes relataram falta de animais no mercado independente. O que se viu nesses dois meses foi uma leve reação na cotação do produto. Na média do mês de novembro, o frango vivo foi negociado a R$ 1,51/kg.
Por Matheus Henrique Scaglia P. de Almeida – Pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.