Considerando os contratos atuais, o Rio Grande do Norte irá dobrar a capacidade instalada na energia eólica, superando os 12 gigawatts (GW) no final de 2025. Segundo o mais recente boletim de dados da Associação Brasileira de Energia Eólica – ABEEólica (o Infoventos), atualmente o estado potiguar tem 6,054 GW de potência instalada, o que o coloca na liderança da produção de energia a partir dos ventos no País. A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec-RN) prepara o detalhamento de dados que justificam essa informação para ser divulgado nos próximos dias.
“Estamos finalizando o nosso boletim de eólica e matriz elétrica que deve sair na próxima semana. A previsão é que o Estado alcance neste ano de 2021 o valor de R$ 13 bilhões em investimentos em novos contratos de geração de energia, superando o valor alcançado em 2020”, declarou o coordenador de desenvolvimento energético da Sedec/RN, Hugo Fonseca.
Ele informou que nos seis primeiros meses deste ano, o Governo do Estado captou R$ 5.359 bilhões em investimentos contratados para a energia eólica no Rio Grande do Norte. Este valor representa 64% do total contratado em 2020 – cerca de R$ 8,3 bilhões. Os 200 parques hoje em atividade no Estado somam 2.563 aerogeradores. Para se ter uma ideia de como o setor vem crescendo no RN, em maio passado eram 177 usinas eólicas e 2.268 turbinas em operação.
Líder nacional no segmento, o Rio Grande do Norte está à frente da Bahia (5.261,1 MW), Ceará (2.375,1 MW), Piauí (2.375,1 MW) e Rio Grande Sul (1.835,9 MW), estados cuja potência instalada em eólicas supera os 1.000 MW. Contudo, outros sete estados completam essa lista. Do total, oito estão no Nordeste, região que comporta 80% dos parques eólicos brasileiros, devido a característica de apresentar um dos melhores ventos do mundo sendo mais constantes, com velocidade estável e sem mudança frequente de direção.
O conselheiro da ABEEólica no RN, Sérgio Azevedo, destaca que o setor leva uma série de benefícios para os municípios onde os parques são instalados.
“Aumenta a arrecadação de ISS (Imposto Sobre Serviço) na fase de construção em municípios onde o FPM é relativamente baixo, além de ser um reforço no período de seca para os agricultores. A gente contabiliza empregos diretos e indiretos, podendo chegar a 20 colaboradores por mega instalado e dobrar essa quantidade em empregos indiretos”, disse ele.
Um estudo da GO Associados apontou que a instalação de parques eólicos contribui para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e do Índice de Desenvolvimento Humano do Município (IDHM). Num comparativo entre municípios que receberam investimentos na área e outros que não receberam, o PIB real aumentou 21,15% (período de 1999 a 2017) e o o IDHM cresceu cerca de 20% (período de 2000 a 2010).
“Os investimentos no RN são mais rentáveis. Para a mesma quantidade investida em estados vizinhos, aqui o retorno é melhor. Nossas ‘jazidas’ de vento são melhores. Por isso, toda vez que tiver capacidade de escoamento de energia os projetos serão priorizados. A gente aquele grave problema da falta de linhas de transmissão, mas é sempre bom estar atento de que, quanto mais cresce, mais precisamos atualizar nossa capacidade de escoamento”, alertou Sérgio Azevedo.
Esse potencial ainda deve elevar quando houver a produção de energia eólica onshore (no mar). O Governo do Estado já assinou com a dinamarquesa Copenhagen Infrastructure Partners (CIP/COP) memorando para o desenvolvimento do projeto Alísios Potiguares, que prevê a geração de 1,8 gigawatts de energia eólica offshore e a produção de hidrogênio verde. A capacidade do RN em produção de energia eólica no mar é de 140 GW, equivalentes a 10 hidrelétricas de Itaipu.
Potencial do Brasil
O Brasil terá cerca de 31,35GW de capacidade eólica instalada até 2026, segundo contabiliza a ABEEólica. Os números se baseiam nos contratos viabilizados em leilões já realizados e no mercado livre. O Brasil está com 19,77 GW de capacidade instalada em operação comercial e há mais 988,6 MW em operação de testes.
“A gente trabalha com dado real. O que vai entrar nesse período são dados já contratados ou em construção. Então, vamos contratar mais no ano que vem e daqui a dois anos vai entrar mais em operação, de modo que o crescimento vai ser ainda maior”, explicou a presidente executiva da ABEEólica, Elbia Gannoum.
Em setembro, as eólicas atenderam mais de 75% da carga do Nordeste durante mais de 60% do tempo, e foram responsáveis por quase toda a carga da região (acima de 90%) em 30% do tempo. Contudo, ainda não é possível associar a energia eólica à resolução da crise energética. “A crise energética é conjuntural e nenhuma fonte é capaz de resolver o problema da crise energética. Só agregando mais fontes para gerar mais. Contudo, as eólicas estão sendo muito importantes nesta crise e dando grande contribuição para sairmos dela sem racionamento, já que respondeu por 20% na média durante o segundo semestre”, declarou a presidente da ABEólica.
A expectativa é de que se mantenha nos próximos anos o mesmo crescimento registrado desde 2018, que é de 3 GW por ano. “A estrutura de crescimento é virtuosa. De 2011 a 2021 foram 21 GW no sistema. De 2021 a 2024 serão mais 10 GW”, disse Elbia Gannoum.
Este ano, setor deve gerar 4,2 mil empregos no RN
Além da contribuição direta para a economia dos municípios, para cada Megawatt de energia instalado pelo setor eólico, 15 postos de trabalho são criados, de acordo com o Infoventos – Boletim da ABEólica. Para tanto, o setor também exige constante capacitação técnica. “No Senai, um indicador importante é que neste ano, pela primeira vez, as ocupações do setor de energia aparecem entre as cinco principais ocupações do RN.
Isso mostra o setor pujante e que demanda de qualificação”, disse Rodrigo Mello, diretor do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER) e do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) que são as referências do Senai no Brasil, para pesquisa, desenvolvimento, inovação e educação profissional do setor.
Ele estima que o Rio Grande do Norte deverá fechar o ano com mais de 4.200 empregos gerados somente neste setor. “Do ponto de vista de emprego, é importante manter a qualificação na velocidade de crescimento do setor. Temos trabalhado muito próximo da industria eólica e constatamos que a empregabilidade é alta. Em alguns cursos, a empregabilidade chega a 100%”, disse.
A perspectiva de empregos em operação e manutenção dos parques gira em torno de 80% no Estado, segundo disse e a remuneração também é alta. “Fica na média dos R$ 6 mil, enquanto na indústria como um todo é de R$ 2 mil”, informou Rodrigo Mello. A competitividade do mercado ajuda no crescimento da atividade. O diretor do Senai/RN aponta que nos primeiros parques, o custo por MW era de R$ 500 e que esse custo caiu para R$ 120 nos últimos leilões. (Tribuna do Norte)